25.9.09

Ciência e Filosofia

René Magritte, Golconde (1953)
«As minhas pinturas devem assemelhar-se ao mundo, de forma a evocarem o seu mistério»
Tal como a ciência, a filosofia, procura compreender o mundo resolvendo os seus enigmas, mas os problemas filosóficos não se confundem com os problemas científicos. Os problemas da ciência são empíricos. Quando é que nos encontramos perante um problema empírico? Quando, para o resolver temos de recorrer a observações, informação factual, manipulação de instrumentos, etc.
Os problemas da filosofia são conceptuais. Para lhes respondermos, temos de reflectir e só contamos com a nossa capacidade argumentativa. Os problemas da Matemática também são conceptuais mas, ao contrário do matemático que possui métodos formais de prova, o filósofo só conta com o laboratório da mente. Por exemplo: perguntar como está destribuída a riqueza, num determinado país, numa dada época é um problema empírico que podemos resolver observando, fazendo registos e tirando depois as conclusões. Mas, poderíamos perguntar: será essa destribuição justa? Agora não perguntamos qual o estado de coisas, mas se o estado de coisas é justo. Filosofar é perguntar: o que seria uma distribuição justa da riqueza? Atribuir o mesmo rendimento a todos? Mas isso pode ser injusto, se alguns trabalharem mais do que outros. Atribuir o mesmo rendimento a todos os que fazem o mesmo trabalho? Mas nesse caso, qual o tipo de trabalho que deve ser mais bem remunerado?. Só podemos encontrar a resposta, argumentando.

«(...) A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao contrário da matemática não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos».
Thomas Nagel, 1987, O que Quer dizer tudo isto?, Lisboa, Gradiva 1995

20.9.09

A relação mente/corpo

Ego

De MICK GORDON e PAUL BROKS, encenação JOÃO PEDRO VAZ, tradução FRANCISCO NICÉFORO, espaço cénico e figurinos MARIA JOÃO CASTELO, vídeo PEDRO FILIPE MARQUES, luz NUNO MEIRA. Com CATARINA LACERDA, GONÇALO WADDINGTON e ANTÓNIO FONSECA. Produção Teatro Nacional D. Maria II, em cena na Sala Estúdio até 11 de Outubro Maiores de 16 anos


Como é que um quilo e meio de carne se transforma em mente? Para Alex, como para muitos de nós, é um equívoco que nos leva a formular a nosso respeito um princípio de primeira pessoa do singular ,“Eu”, que descreve uma unidade interna que se resume, afinal, a um feixe de reacções físico-químicas dispersas por diversas zonas cerebrais. É o cérebro que dá continuidade às nossas ideias, emoções e experiências, contando-nos a “história que somos” e não a do Eu que a vive, como por vezes fantasiamos como vestígio do nosso pensamento mágico (como defende Alex).

Ego é o percurso desconcertante de Alex, um neurologista que não acredita na ideia de identidade - "nem essência, nem ego, nem Eu"- mas que, depois de uma experiência que corre mal, "uma viagem num teletransporte tipo Star Trek", se vê privado da vida com a mulher e acaba a questionar tudo. Alice tem um tumor no cérebro ,"Um glioma borboleta! Soou como uma coisa maravilhosa." que vai começar a afectá-la e a fazê-la perder mesmo a consciência da identidade do marido. A chave do problema é discutida pelo pai de Alice, Derek, que trabalha com Alex nas mesmas experiências científicas. O que começa por ser uma peça teórica sobre o cérebro acaba numa angustiante viagem emotiva. Se isso existe, esta peça é um “poema neurológico” , como o poema de Emily Dickinson com que Alex se declarou a Alice.


Um texto muito interessante, muito bem interpretado e com uma encenação clara e concisa no desejo de criar um espectáculo inteligente, capaz de nos espevitar o cérebro (ou mente) . A não perder.



14.9.09

O que é a Filosofia?

René Magritte, A Ponte de Heráclito, (1935)
O que é a realidade? Temos a certeza de ver o reflexo da ponte, teremos certeza da ponte real?
Para quem, pela primeira vez estuda filosofia, a pergunta é inevitável:
O que é a Filosofia?
(...) Uma das formas (...) de responder é dizer que a filosofia é aquilo que os filósofos fazem, indicando de seguida os textos de Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Kant, Russel, Wittgenstein, Sartre e outros filósofos famosos (...).
Outra forma de abordar a questão é indicar que a palavra «filosofia» deriva da palavra grega que significa «amor da sabedoria». (...)
Mas isto é muito vago e não responde efectivamente à questão. No primeiro caso apela-se apenas à História da Filosofia, no segundo caso apenas ao significado da palavra.
(...) A filosofia é uma actividade, uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A actividade dos filósofos é, tipicamente argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas. Os filósofos também clarificam conceitos. (...)
Que tipo de coisas discutem os filósofos?
(....) Examinam crenças que quase toda a gente aceita acriticamente . (...) Por exemplo, muitas pessoas vivem as suas vidas sem questionarem as suas crenças fundamentais, tais como a crença de que não se deve matar. Mas por que razão não se deve matar? Que justificação existe para dizer que não se deve matar? Não se deve matar em nenhuma circunstância? E, afinal, o que quer dizer a palavra «dever»? Estas são questões filosóficas. Ao examinarmos as nossas crenças, muitas delas revelam-se firmes; mas muitas não. O estudo da filosofia não só nos ajuda a pensar claramente sobre os nossos preconceitos, como ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos. Ao longo desse processo desenvolve-se uma capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto leque de temas - uma capacidade muito útil que pode ser aplicada em muitas áreas (...) [na vida].
Porquê estudar filosofia?
(...) Uma razão importante (...) é o facto de esta lidar com questões fundamentais acerca do sentido da nossa existência (...)
Todos nós já nos interrogamos sobre questões filosóficas: Por que razão estamos aqui? As nossas vidas têm algum propósito? O que faz com que algumas acções sejam moralmente boas ou más? Poderemos alguma vez ter justificação para violar a lei? Poderá a nossa vida ser apenas um sonho? É a mente diferente do corpo, ou seremos apenas seres físicos? Como progride a ciência? O que é a arte? ... (...)

Para muitas pessoas, esta é uma actividade que dá imenso prazer. (...) Há mesmo quem pense que: "uma vida não examinada não merece ser vivida."

Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, 2.ª edição (2007), tradução de Desidério Murcho e Aires Almeida, pp. 15-21, (texto adaptado)


O Regresso às Aulas.

Começaram as aulas!
Os professores de Filosofia desejam, a todos os alunos, um excelente ano de trabalho, cheio de boas experiências e muita diversão.
Aproveitamos para renovar o nosso convite à participação de todos no Logos-ecb.

7.9.09

Encontro de Filosofia Antiga

Informação recebida de Lekton Mailing List

Congresso de Filosofia


"Vai realizar-se, em Coimbra, nos dias 9-13 de Setembro de 2009 o congresso anual do Institut International de Philosophie. (...) O Instituto Internacional de Filosofia é a Instituição responsável pela organização dos congressos mundiais de Filosofia e desenvolve uma série de actividades de fomento da pesquisa filosófica e de disseminação dos seus resultados em estreita colaboração com a UNESCO e outros organismos internacionais."

Informação de Lekton Mailing List

5.9.09

Sobre a Liberdade

Aires de Almeida cita Stuart Mill, no Crítica:blog, a propósito de acontecimentos recentes da vida política nacional. Ver aqui.

4.9.09

Concurso: "Cassini Scientist for a Day"

No âmbito do Ano Internacional da Astronomia, está a decorrer um concurso dirigido aos alunos entre os 10 e os 18 anos. Consiste na elaboração de um texto, individual ou em grupo, no máximo com 500 palavras, sem imagens e sem anexos, sobre um dos três temas:
Saturno, Tethys ou Titan.
Os trabalhos devem ser enviados até 30 de Setembro para o seguinte endereço: scientistforaday@gmail.com.
Mais informação no AstroPT

3.9.09

Ética e Sociedade Global

Georg Baselitz, Forest upside-down, 1969

A Ética é uma disciplina central da filosofia que estuda a natureza do pensamento ético (metaética), os [seus] fundamentos gerais (ética normativa) e os problemas concretos da vida ética (ética aplicada) [ ou prática].”

A reflexão sobre o modo como devemos viver, sobre o bem e o mal ... tem sido uma constante no pensamento filosófico. Já Platão e Aristóteles reflectiram sobre estes problemas. Porém, é no início dos anos setenta que a ética prática ganha importância a par da ética normativa. Isto deve-se em parte a mudanças no seio da filosofia - uma concepção mais aberta da actividade filosófica que considera as discussões metaéticas insuficientes porque inoperantes e à emergência do debate público de problemas como: a eutanásia, o aborto, manipulação genética, liberdade de expressão, exclusão social, fome, justiça social, guerra, terrorismo, problemas decorrentes do avanço da tecnologia, problemas ambientais … e tantos outros. Todo o domínio da ética está em mudança.
Para Faustino Vaz, “as barreiras que separavam os vários domínios da ética quebraram-se (…) [e] as discussões de ética prática são [hoje] entendidas como centrais para se avaliar a correcção dos princípios normativos. (…) O campo da ética está hoje unificado.”

Para podermos argumentar séria e cuidadosamente, de modo informado, é fundamental conhecer contextos, possuir toda a informação empírica e filosófica relevante. Conhecer as teorias éticas mais importantes, até porque nenhuma teoria tem aplicação completa em todos os domínios da vida. Uma solução deontológica pode ser boa para resolver o problema da liberdade de expressão e não ser adequada para resolver o problema da justiça retributiva.

No mundo global, os desafios são mais que muitos e os problemas não conhecem fronteiras. Mas podemos colocar a tecnologia ao serviço da ética global da justiça e da responsabilidade. Esta é a posição defendida por Gordon Brown, neste vídeo:

(Com tradução em português do Brasil, para o efeito clicar em view subtitles)