30.6.10

Será a prática da eutanásia aceitável?


Salvador Dalí, Rosa Meditativa (1958)
Esta reflexão procura uma resposta ao problema da prática da eutanásia.
O termo significa boa morte ou “morte misericordiosa”, em que se põe fim à vida de uma pessoa para benefício desta. Pode ser activa ou passiva. Quando activa provoca a morte deliberada do doente uma vez que é planeada e negociada entre o doente e o profissional de saúde que o assiste. A eutanásia passiva, por sua vez não provoca deliberadamente a morte do doente, no entanto com o passar do tempo e com a interrupção de todos os cuidados médicos e farmacológicos, o doente acaba por falecer.
A eutanásia pode ainda assumir três formas, pode ser voluntária, não voluntária e involuntária.
A eutanásia voluntária é levada a cabo por uma pessoa a pedido de outra, para benefício desta. Há uma relação estreita entra a eutanásia voluntária e o suicídio assistido, em que uma pessoa ajuda outra a terminar a sua própria vida, por exemplo quando uma pessoa obtém medicamentos que irão permitir a outra que se suicide. A eutanásia é não voluntária quando a pessoa não pode escolher entre a vida e a morte ou porque é um recém-nascido, alguém irremediavelmente doente ou incapacitado, ou porque uma doença ou um acidente a tornaram incapaz de decidir. A eutanásia é involuntária quando a pessoa poderia ter consentido ou recusado, mas não o fez.
Quem é contra a eutanásia argumenta que, por um lado, existem alternativas a esta prática, tais como os cuidados paliativos que procedem ao tratamento da dor e que tentam diminuir o sofrimento da pessoa. Por outro lado a legalização da eutanásia poderia ser aplicada de uma forma abusiva, tendo como consequência a morte sem o consentimento do doente. É difícil prever o tempo de vida que resta e existe sempre a possibilidade do prognóstico médico estar errado. Afectaria ainda a relação entre os profissionais da saúde envolvidos e os doentes que fossem contra a eutanásia; estes sentir-se-iam menos seguros.
Também a possibilidade de os familiares, herdeiros ou a própria sociedade poderem agir com interesses financeiros seria um factor negativo a considerar.
Depois de analisarmos estes argumentos, pensamos que a eutanásia será legítima apenas como escolha tomada de modo a evitar a dor e o sofrimento extremo das pessoas que se encontrem sem qualidade de vida ou em fase terminal e, nos casos em que os cuidados paliativos se mostrem incapazes de atenuar esse sofrimento. Trata-se de uma escolha consciente e informada que reflecte o fim de uma vida em que, quem morre não perde a sua dignidade até ao fim. Mas a eutanásia não deve ser uma hipótese para os casos que dispõem de outras alternativas que se vão desenvolvendo com o avanço da ciência.
Quem defende a nossa perspectiva, não apoia nem defende a morte em si, apenas faz uma reflexão sobre a possibilidade de terminar a vida de uma forma mais suave e menos dolorosa, em vez de uma morte lenta em sofrimento extremo.
Quem escolhe a eutanásia tem de ter consciência do que está a fazer, uma vez que esta atitude é extrema e irreversível. É preciso analisar os diversos elementos afectivos, psicológicos, biológicas, familiares e sociais para ter a certeza que vai tomar a decisão correcta.
Respeitamos e aceitamos que, por motivos religiosos as pessoas não aceitem a eutanásia mesmo nas condições que referimos. Quem crê em Deus, pensa que só Ele pode criar e tirar a vida. Para os crentes, este argumento é muito forte. Mas temos de avaliar a eutanásia no sentido universal (também para os não crentes) e, neste sentido, concordamos com a sua prática nas condições acima referidas. Quando a pessoa se encontra diante de um quadro irreversível, em sofrimento extremo para o qual não existam cuidados paliativos. Somos contra a sua prática nos casos em que existam alternativas.
Ângela, Andreia, Daniela, Patrícia e Vânia
11.º E

29.6.10

Poderão as máquinas pensar como humanos?

Filmes como RoboCop, Terminator e mais recentemente AI (Inteligência Artificial), bem como os avanços na ciência, fazem-nos crer que um dia existirão máquinas inteligentes capazes de pensar e agir como um ser humano.
Este assunto é importante porque se isso vier a acontecer, teremos de alargar o nosso conceito de sujeito ético às máquinas. Neste contexto os avanços da Inteligência Artificial, área de pesquisa da ciência da computação dedicada a encontrar métodos ou dispositivos computacionais que possuam ou simulem a capacidade humana de resolver problemas ou pensar de forma ampla, tem de ser tida em conta.
Para as máquinas igualarem as capacidades humanas teriam de estar equipadas com os programas mais avançados e teriam de ser autoconscientes quando colocam em acção esses programas. É claro que os computadores têm capacidades impressionantes de cálculo e processamento de informação, no entanto, aspectos como a singularidade e a individualidade, parecem-nos difíceis de reproduzir por uma máquina.
A diversidade e a singularidade caracterizam os seres humanos. Além de substituirem as capacidades humanas, as máquinas teriam de ser autoconscientes e teriam de percepcionar-se como seres auto-reguladores e únicos sendo criativas no modo como executam os seus programas, o que parece estar longe de acontecer. Muitas capacidades humanas têm sido simuladas com sucesso pela inteligência artificial, como por exemplo as capacidades linguísticas, a percepção, o reconhecimento de padrões, mas não existem tentativas de simular outras capacidades como a afectividade e a personalidade. A nosso ver, estamos muito longe dessa possibilidade.
O matemático Alan Turing sugeriu a ideia de que, se um computador passasse um determinado teste, conhecido como teste de Turing, então estaria provado que os estados cognitivos humanos poderiam ser replicados pelos computadores, isto é, se um computador passasse o teste teria necessariamente uma mente.
O teste proposto por Turing consistia em levar a cabo uma experiência com duas pessoas e um computador. Nesta experiência uma pessoa isolada faz uma série de perguntas que são respondidas pelo computador e pela outra pessoa. O computador passa o teste se o indivíduo que faz as perguntas não conseguir descobrir qual dos interlocutores é a máquina e qual é o humano. Turing previa que os computadores estariam brevemente aptos a passar o teste, contudo, nem os computadores tecnologicamente mais avançados da actualidade são capazes de o fazer. Este facto, obviamente, não invalida o teste.
Mais tarde, o filósofo John R. Searle propôs outro teste, designado como argumento do Quarto Chinês. Consistia numa experiência mental, em que um sujeito, que apenas fala Inglês, está trancado num quarto com um manual sofisticado que lhe permite relacionar caracteres chineses. O sujeito manipula estes símbolos seguindo as regras propostas no manual. Torna-se assim capaz de responder às mensagens enviadas pelos seus guardas chineses com tal eficácia que eles não conseguem descobrir se ele é ou não, chinês. Esta experiência põe em causa o Teste de Turing. Mostra que a implementação de um programa de computador não é por si só suficiente para a atribuição de estados mentais genuínos aos computadores. Para avaliarmos correctamente estas experiências seria fundamental distinguir simulação e réplica, o que é muito difícil de fazer, por isso a nossa conclusão é a de que as máquinas (computadores…) ainda estão bastante longe de atingir as capacidades de um ser humano.
Mas o que aconteceria se pudéssemos substituir gradualmente o nosso cérebro por chips de sílica que preservassem as nossas funções mentais? Poderíamos acabar por ficar com um cérebro inteiramente artificial e, se ao longo do processo não perdêssemos nenhuma das nossas capacidades, então seria possível um dia a existência de cérebros artificiais capazes de pensar, ou não?
Imagens: Google, ADN e imagem do filme "AI" de Steven Spielberg

Lucas Grilo, Diogo Paulino e Bruno Carreira
11.º E

14.º Toque se saída


Já nas bancas e também aqui.

24.6.10

A clonagem reprodutiva é eticamente aceitável em seres humanos? (um)

Não há boas razões para aceitarmos a clonagem reprodutiva
Este trabalho tem como objectivo procurar uma resposta para a questão de saber se a clonagem para fins reprodutivos, é eticamente aceitável em seres humanos.
Ao falar de clonagem reprodutiva, estamos a falar de um processo que permite copiar indivíduos, sem recurso ao sexo, sendo estes clones ou cópias genéticas de outro, aquele que esteve na sua origem (a sua matriz). Para simplificar vamos apenas considerar a técnica de transferência nuclear, que consiste na junção de partes de duas células que podem ser extraídas de um organismo. Foi esta a técnica que esteve na origem da ovelha Dolly. No entanto apresenta alguns problemas, como iremos demonstrar.
Por norma, é atribuído aos seres humanos adultos o direito à autonomia reprodutiva e constituição de família. Ora este direito parece entrar em conflito com a proibição da clonagem com fins reprodutivos pois se os seres humanos adultos têm este direito, porque não “exercê-lo” através da clonagem?
Uma das objecções frequentemente apontadas é a identidade do clone. Este, ao ser geneticamente idêntico a outro, nunca chegaria a ter a sua própria identidade, o que poderia causar graves problemas. A resposta óbvia é que a identidade não é apenas genética, dois indivíduos geneticamente idênticos, como é o caso dos gémeos monozigóticos, apresentam personalidades e comportamentos distintos. A identidade depende de muitos outros factores.
No entanto, poderiam surgir problemas mais graves. Por exemplo, ser um clone de alguém indesejável ou demasiado popular por outras razões, carregando o pré-conceito associado à sua matriz. Isto implicaria uma instrumentalização inaceitável. Basta pensar na escravatura a que tantos seres humanos foram sujeitos.
O clone seria sempre um “escravo” da sua matriz ainda que fosse muito diferente dela, estaria sempre condicionado, pensemos por exemplo que muitos seres humanos foram escravizados tendo apenas em comum, a cor da pele.
O perigo de eugenia, é outro argumento igualmente forte para se rejeitar este tipo de clonagem. Entenda-se por eugenia, a tentativa de manipulação da reprodução, de forma a obter melhorias físicas ou psicológicas na população humana. Muitos defendem que a clonagem não tem que implicar este tipo de selecção, não estando essas duas coisas necessariamente ligadas. Mas o perigo de eugenia positiva, que consiste na escolha de características consideradas mais desejáveis, como a cor do cabelo ou dos olhos, aumenta com a clonagem. Pode dar-se o caso de, no futuro, toda a gente poder escolher filhos mais inteligentes, mais belos, de acordo com os estereótipos sociais do seu tempo. Usando a clonagem, podem criar-se pessoas “perfeitas”, podendo promover uma discriminação daqueles que não possuem essas características. Além disso, colocar-se-ia em perigo a diversidade genética, o que causaria problemas, nas gerações futuras, facilitando o aparecimento de doenças.
Além destas complicações, existe ainda um problema maior, que consiste nos custos humanos necessários para conseguir uma clonagem bem sucedida. No caso da ovelha Dolly, foram necessários quase trezentos clones, dos quais apenas cinco chegaram a nascer com vida, sendo que apenas Dolly sobreviveu. A partir deste exemplo, podemos ver quão dispendiosa é a clonagem e os seus efeitos colaterais - a criação de muitos clones defeituosos. Quem aprova a clonagem, defende que os embriões não têm estatuto moral, comparando a clonagem à fecundação in vitro, por esta técnica ter como consequência a criação de embriões excedentários. Mas no último caso os embriões nunca se chegam a desenvolver, sendo portanto casos diferentes.
Também é importante saber se estes clones defeituosos teriam qualquer estatuto moral, dignidade, ou se seriam considerados “dispensáveis”.
Concluímos assim que a clonagem humana com fins reprodutivos é um assunto demasiado problemático e delicado pois apesar de se dizer que não se deve travar o avanço da ciência, a verdade é que os riscos são demasiados. O risco de instrumentalização ou o perigo de eugenia, aliados aos altos custos humanos do processo, são razões suficientemente fortes para condicionar a ciência neste domínio, pelo menos por enquanto.
Imagens: Google
Luisa Sales, Dário Ferreira e Joana Santos
11.º E

21.6.10

A arte pode ser definida?

Esta questão é importante por consistir em averiguar se temos condições necessárias para podermos definir algo como arte. Se essas condições existirem, ainda que não suficientes, podem ajudar-nos a distinguir a arte daquilo que ela não é, evitando algumas confusões. Actualmente esta distinção é justificada já que há muitos objectos que são considerados arte e que aparentemente parecem objectos comuns.
Por considerarmos que nenhuma das teorias é satisfatória, defendemos que a arte não pode ser definida. Por isso vamos procurar avaliar três teorias que defendem o contrário, pela ordem em que surgem na História da Arte.
Uma destas teorias, defende que um objecto é arte se, e só se, imitar algo. Esta posição foi defendida por filósofos como Platão e Aristóteles e é a teoria mais intuitiva e "comum". Mas se reflectirmos um pouco, não podemos considerar a imitação uma condição necessária para algo ser arte. Por exemplo, a arte abstracta não imita seja o que for e a arte moderna no geral, não tem por objectivo imitar nada.
Há quem argumente que a imitação deve ser entendida como representação. Um objecto seria arte se procurasse representar algo e assim pudesse ser interpretado. Mas muitas pinturas abstractas são criadas para provocar em quem as vê um certo tipo de experiências visuais. Procuram apenas estimular a nossa percepção visual ou auditiva e não requerem qualquer interpretação. A música instrumental ou a arte óptica, não procuram representar nada. Por isso a teoria da representação também não é suficientemente abrangente já que, há contra-exemplos importantes que não podem deixar de ser notados.
Outra teoria defende que a arte é expressão de sentimentos. Esta teoria surgiu para procurar resolver os problemas da teoria anterior. A arte implicaria a autenticidade dos sentimentos do artista. No entanto, é verosímil dizer por exemplo, que uma dada pintura é ou não arte independentemente de sabermos o que o seu autor sentiu quando a criou. Além disso, não é necessário que os autores transmitam os seus sentimentos para a obra de arte. Um bom actor por exemplo, não tem de se envolver sentimentalmente com as personagens que representa. Tal como os versos de Fernando Pessoa sugerem: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.”
A última teoria é a teoria formalista. Considera que um objecto é arte se, e só se, tem forma significante. Foi defendida pelo filósofo da arte inglês Clive Bell. A unidade, o sentido de equilíbrio seriam assim características dos objectos que provocariam uma certa emoção estética. A forma significante seria assim independente do espectador e permitiria distinguir os objectos que são arte daqueles que o não são.
A objecção óbvia é que existem objectos de arte que, visualmente, não se distinguem de outros que não são considerados arte. Outra dificuldade está em explicar o que é, exactamente, uma forma significante. No entanto, para evitar a ideia anterior, Bell diz que uma pessoa consegue identificar um objecto com forma significante. Mas esta resposta não é esclarecedora, visto que é uma fuga às dificuldades postas pelo argumento e não adianta nada. Resta-nos o equilíbrio, mas este pode ser também partilhado por objectos que não são arte como por exemplo uma paisagem natural.
Assim sendo, a posição que defendemos é a de que a arte não pode ser definida. É um conceito em aberto uma vez que, as condições necessárias para algo ser arte são reajustáveis e corrigíveis ao longo do tempo como acabamos de ver. Isto quer dizer que para classificarmos algo como arte temos de analisar o contexto histórico e cultural em que surgem as obras e não parece haver nestas algo que todas partilhem e que possa distingui-las. Assim, qualquer tentativa de definir a arte será sempre redutora e limitadora.
Imagens: imagem encontrada no Google sem referência ao autor e Marcel Duchamp, A fonte, 1917
João Ribeiro, Luis Jacinto e Nuno Santo
10.º D

20.6.10

José Saramago (1922-2010)


Poema à boca fechada

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

José Saramago, poema seleccionado em Os Poemas Possíveis, Editorial Caminho, Lisboa, 1981.

17.6.10

Daniel Dennett e a consciência

Palestra do filósofo Daniel Dennett sobre a consciência e o modo como o nosso cérebro nos "engana". Tradução para português de Pedro Ferreira.


16.6.10

Adolescência - Um cérebro diferente

"Por que é que os adolescentes são como são? Por que é que têm mudanças súbitas de humor, problemas de concentração, comportamentos de risco? Só muito recentemente é que os especialistas começaram a desvendar as bases neuronais destes autênticos enigmas."
Jornal Público online

A arte é expressão de sentimentos?

Para Leão Tolstoi, um dos grandes nomes da literatura russa do século XIX, uma obra é arte se, e só se, exprime os sentimentos e emoções do artista. Assim, a classificação de um objecto como arte teria de ser baseada na condição de uma pessoa - ao receber através da sua audição ou visão, a expressão do sentimento de outra pessoa - ser capaz de ter uma experiência emocional idêntica àquela que motivou o artista. Esta é a teoria da arte como expressão. Por concordarmos com esta teoria, vamos procurar responder às principais objecções que lhe são apontadas.
É importante que o artista transmita o que sente e imagina para o público. Mas, como é que nós, o público espectador, sabemos o que o artista pretende realmente transmitir? E se o artista não quis expressar sentimento nenhum? Muitos autores nem sequer pensaram em publicar a sua obra, como podemos explicar a intenção de expressar sentimentos?
Pensemos por exemplo no quadro “O Beijo”, conseguimos perfeitamente visualizar uma situação romântica, terna e bela... ou, por exemplo, o quadro Ecce Homo, que traduz uma força tão expressiva quanto o silêncio, o sofrimento e a dor de Jesus Cristo que se entrega a Deus… parece haver nestes sentimentos algo que todos compreendemos. Isto acontece com uma grande parte das obras de arte. Deste modo não podemos afirmar que o público não consegue saber o que o artista pretende transmitir. O que pode acontecer é sabê-lo de uma forma imperfeita, mas isso também acontece com o conhecimento, mesmo o conhecimento científico.
Outra objecção é a falta de abrangência da teoria, por não incluir muitas das obras que são consideradas arte e que não expressam qualquer sentimento. O artista poderia simplesmente não querer transmitir nada. Ora nós, seres humanos, temos várias maneiras de pensar, é compreensível que as nossas ideias sejam diferentes e que até tenhamos algumas ideias erradas. Assim, também os sentimentos que os artistas compartilham com o público, podem não ser expressos de uma forma que todos compreendam e ainda assim haver expressão de sentimentos. Um quadro completamente branco ou negro pode não transmitir nada, ou pode ainda ser interpretado como a expressão dos sentimentos do seu autor, os quais podem até ser inconscientes.
Outra dificuldade prende-se com o caso de o artista ser anónimo ou ter falecido, como podemos saber o que o artista realmente sentiu? Embora possa dificultar a compreensão, não é suficiente para enfraquecer a teoria, pois bastaria algum conhecimento relevante sobre o autor para avaliar os sentimentos por ele expressos na obra.
Podemos assim concluir que, a teoria da arte como expressão é uma teoria bastante plausível. Uma vez que, uma verdadeira obra de arte só é assim considerada se exprime sentimentos que podem ser ou não compatíveis com os sentimentos do público. Permite-nos compreender ainda, a razão pela qual consideramos a arte importante de modo geral e explica a ligação emocional que temos com ela. Por fim, é a teoria que nos parece mais abrangente por incluir a esmagadora maioria dos objectos estéticos que consideramos arte.
Imagens: Gustav Klimt, O Beijo (1907-08), Ecce Homo (1925)
Cláudia Marques, Marisa Machado, Raquel Gomes , Tatiana Tomaili
10.º G

14.6.10

Teremos a obrigação ética de ajudar quem vive na pobreza absoluta?

Entende-se por pobreza absoluta a ausência de rendimento suficiente em dinheiro ou em espécie para satisfazer as necessidades mais básicas de alimentação, vestuário e habitação. Além de ser a principal causa de sofrimento humano está na origem de muitas mortes prematuras, que podiam ser evitadas. Teremos alguma responsabilidade moral indirecta por estas mortes? Teremos a obrigação ética de ajudar quem vive na pobreza extrema? Devemos impedir alguma pobreza se pudermos fazê-lo?
A posição que defendemos é que temos a obrigação ética de ajudar os mais pobres, se pudermos evitar alguma pobreza, devemos fazê-lo. Esta posição foi anteriormente defendida por Peter Singer no seu livro Ética Prática. O argumento é o seguinte:
1. Se pudermos impedir que um mal aconteça sem sacrificarmos nada de importância moral comparável, devemos fazê-lo.
2. A pobreza absoluta é um mal.
3. Há pobreza absoluta que podemos evitar sem sacrificar nada de importância moral comparável.
4. Logo, temos a obrigação de ajudar os mais necessitados impedindo assim alguma pobreza absoluta.
Mas, se decidirmos não ajudar, não devemos ser julgados por isso, já que ajudar é um acto supererrogatório (um acto bom e desejável mas não obrigatório). Visto que os nossos bens resultaram do nosso esforço e do nosso trabalho, ao partilhá-los, estaremos a abdicar de algo legítimamente conquistado e que futuramente nos poderá fazer falta. Por isso a ajuda deve ter limites.
Contrariamente à nossa posição há quem pense que não devemos ajudar, pois essa ajuda pode ter consequências negativas. Garrett Hardin, um defensor desta ideia, diz-nos que se ajudarmos, isso poderá levar os governos desses países à desresponsabilização, dependendo cada vez mais das organizações de solidariedade e até ao aumento desenfreado da população o que causará ainda mais pobreza. Mas este argumento é superficial e não tem em conta as necessidades reais das pessoas. Se contribuirmos por exemplo, na educação, na luta contra a mortalidade infantil ou na criação de melhores infra-estruturas que ajudem as pessoas a tornar-se independentes a médio prazo, então os factos mostram que a população tem tendência a estabilizar e a tornar-se progressivamente auto-suficiente dependendo cada vez menos de ajudas exteriores.
Outra objecção à posição que defendemos é a ameaça à integridade pessoal e a violação do direito de propriedade daqueles que ajudam. Segundo este argumento, ajudar poderia colocar-nos a nós na situação de pobreza ameaçando a nossa integridade, visto termos de abdicar de grande parte dos projectos que nos fazem felizes. Mas este argumento não é forte pois pressupõe um tipo ilimitado de ajuda e não é isso que está em causa. A ajuda deve ser limitada de modo a não sacrificarmos a nossa dignidade e integridade. Estes limites devem ser traçados por quem ajuda dado que esta é um acto supererrogatório.
Finalmente, algumas pessoas argumentam que a responsabilização pelos males evitáveis decorrentes da pobreza é inadmissível uma vez que, se não fomos nós que os causamos, não podemos ser responsabilizados por eles.
É verdade que não somos responsáveis, mas não é de responsabilidade em sentido estrito que se trata. O dever de ajudar é um dever que decorre do valor da solidariedade,(a) vai além da responsabilidade pelas nossas escolhas individuais. É um dever que decorre de sermos pessoas. Somos seres livres e responsáveis pelas nossas acções e somos também pessoas. Se podemos evitar alguma pobreza, devemos fazê-lo.
Imagem encontrada no Google sem referência ao autor
Daniela Luís, Luís Silva e Sofia Santos
10.º D
(a) A este propósito veja-se os conceitos de reciprocidade/vulnerabilidade no artigo de Faustino Vaz, "A quem fazer o Bem?" na revista Crítica, publicado em data posterior a este texto.

7.6.10

Das explicações míticas às explicações racionais

Palestra de David Deutsch, físico israelita, professor na universidade de Oxford, sobre a diferença entre as explicações mitológicas e as explicações científicas e o modo como isso "mudou o mundo". Pode ser visto em português do Brasil com tradução de Durval Castro.

6.6.10

Popper e a aproximação à verdade

Para Popper nunca se poderá dizer que uma teoria é completamente verídica. Mesmo sabendo que existem teorias com enorme grau de eficácia, está provado que, mesmo as que mostram ser mais fortes podem a qualquer momento ser refutadas originando novas incertezas e problemas, dos quais, porventura, resultarão novas teorias. Este processo irá durar indefinidamente e infinitamente. No entanto, Popper defende também que a ciência caminha constantemente em direcção à verdade, e mesmo que a ciência actual contenha teorias que venham a revelar-se falsas, a aproximação à verdade é cada vez maior, já que o paradigma heliocêntrico por exemplo, revela uma maior aproximação à verdade do que o paradigma geocêntrico. Ou seja, através da ciência atingimos sempre o progresso.
Concordo com a defesa de que nunca poderemos afirmar que uma teoria é totalmente verdadeira, uma vez que a história nos mostra isso mesmo, como podemos observar a teoria geocêntrica de Cláudio Ptolomeu durante muitos anos foi dada como irrefutável, e mais tarde foi rejeitada a favor da teoria heliocêntrica proposta por Nicolau Copérnico. Também a ideia de que diversas espécies de seres vivos que habitaram o mundo foram criadas separadamente foi abandonada a favor da teoria de Charles Darwin. E como estas muitas mais, que apesar de terem resistido durante vários anos, acabaram por "sucumbir" ao avanço da ciência. Mas acho difícil aceitar uma teoria com a ideia de que mais tarde ou mais cedo será refutada, pois isso implicaria uma desconfiança inaceitável em relação à ciência. Como poderíamos confiar, por exemplo, que um avião nos transportará em segurança, se não confiássemos na verdade das teorias que estão na base da sua construção e nos princípios físicos que o permitem voar?
Por outro lado, essa "desconfiança" não deve ser considerada um factor negativo, pois é a partir dela e do sentido crítico dos cientistas que se encontram as falsidades que cada teoria possui (ou não), e por consequência isso irá possibilitar um futuro avanço na ciência.
Apesar de tudo, julgo que temos razões mais do que suficientes para acreditar nas descobertas que vão sendo realizadas, porque revelam ser as que melhor se adequam à realidade, e tendo em conta o avanço da ciência ao longo dos últimos anos, é no mínimo aceitável que as consideremos menos vulneráveis a possíveis refutações comparativamente às que as sucederam.
Imagem retirada do Google: paisagem alentejana
Miguel Lameiras
11.ºD

5.6.10

Utilitarismo ou deontologia, qual a teoria mais plausível? (três)

O utilitarismo e a deontologia são insuficientes para justificar a moral
Nenhuma das perspectivas me parece plausível, no entanto, a perspectiva utilitarista parece ainda mais fraca do que a deontológica. Um utilitarista hedonista afirma que a finalidade da vida boa é o prazer enquanto bem-estar e que este é caracterizado pela quantidade e pela duração. Mas se o hedonismo fosse verdadeiro, as pessoas deveriam querer viver uma vida artificial se com isso pudessem usufruir de tudo o que a vida tem de aprazível. No entanto as pessoas não trocariam uma vida autêntica por uma vida artificial. Por isso o utilitarismo hedonista é falso. Por exemplo, alguém com o sonho de ser pianista - se o hedonismo fosse verdadeiro, deveria aceitar, caso fosse possível, uma vida artificial que lhe proporcionasse esse prazer. No entanto, isto é muito improvável porque o sonho de ser pianista implica outro tipo de coisas além do mero prazer de tocar, implica viver a realidade em vez de uma ilusão.
O utilitarismo de preferências, parece ter implicações ainda mais inaceitáveis. Esta posição defende que o bem-estar a ser promovido seria a satisfação dos desejos e preferências das pessoas. Mas se assim fosse, teríamos de aceitar atitudes intolerantes e fanáticas se estas resultassem das preferências da maioria. Assim sendo, o utilitarismo de preferências não é uma boa solução.
Para terminar, o utilitarismo também defende o consequencialismo. É boa a acção que produzir melhores consequências, que maximizar o bem. Porém, existem actos que podem maximizar o bem mas que são inaceitáveis. Por exemplo nunca é permissível sacrificar uma pessoa para o bem de um número maior de pessoas. Existem actos intrinsecamente bons (bons em si mesmos independentemente das consequências) e outros intrinsecamente maus, como bem observou Kant. Assim devemos realizar apenas os actos intrinsecamente bons e nunca os intrinsecamente maus.
A deontologia, defendida por Kant, afirma que só a intenção é que conta para determinar se um acto é bom ou mau. Eu não concordo com esta ideia, pois existem actos que, apesar da sua boa intenção produzem más consequências. Se queremos ajudar alguém porque sentimos esse dever e com isso acabamos por fazer mal embora esse mal não seja pretendido e seja um efeito colateral, essa acção não pode ser considerada moral apesar de a intenção ser boa. Quando por exemplo, numa situação de guerra uma bomba que era dirigida a um depósito de armas, acaba por matar crianças que brincavam alheias às guerras dos adultos, este acto nunca pode ser considerado moral.
João Ribeiro
10.º D

3.6.10

Utilitarismo ou deontologia, qual a teoria mais plausível?(dois)

Henri Matisse, A Dança (1910)

A deontologia não tem em conta as circunstâncias da vida
Os filósofos deontologistas como Kant, consideram que a moral é formal já que nos diz como deve ser o princípio que orienta a nossa acção, mas não o que devemos fazer. Agimos moralmente quando praticamos uma acção por dever, quando obedecemos à lei moral universal sem ter em conta fins exteriores. Agir moralmente é assim, agir de acordo com a vontade racional de cumprir o dever. É agir de acordo com uma vontade boa em sintonia com a lei que o homem descobre em si porque ela se lhe impõe como um mandamento imperativo.
Os utilitaristas entendem que as acções são justas quando conduzem à felicidade. Assim, o prazer enquanto ausência de dor, é o bem supremo. No entanto, diferenciam os prazeres a partir da experiência: há prazeres nobres e prazeres inferiores. A moral utilitarista reconhece que a representação racional do dever não pode ser o único motivo das nossas acções, a felicidade pessoal também é importante e deve ter o mesmo peso moral do que a felicidade dos outros.
Penso que esta perspectiva é mais adequada para fundamentar a moral do que a perspectiva deontológica.
A acção moral, formalmente justificada, conduzida pelo dever e pela intenção, implica um afastamento daquilo que é a vida do ser humano. As acções são realizadas em função de um princípio lógico sem conteúdo, afastando-se da vida real das pessoas, dos contextos que originam e explicam as acções. O utilitarismo surge assim como uma teoria que explica melhor os objectivos humanos. Penso que a finalidade da vida humana é ser feliz e diminuir o sofrimento no mundo. O homem age sempre (deve agir) com o objectivo de conseguir essa felicidade. A procura da maior felicidade possível, para o agente bem como para todos imparcialmente considerados, deve ser o guia das nossas acções em qualquer circunstância da vida.

Kevin Vicente
10.º F

Utilitarismo ou deontologia, qual a teoria mais plausível?


As nossas acções são como gotas num oceano...

O utilitarismo sacrifica o indivíduo
Um utilitarista defende que devemos promover imparcialmente o bem geral. Isso implica que temos de abdicar de certas liberdades. Uma delas é a consideração preferencial da nossa pessoa e da nossa família, esta é uma consequência da imparcialidade. Se a imparcialidade não tiver limites, então teremos de sacrificar muito daquilo que consideramos legítimo gastar connosco ou com as pessoas de quem gostamos. Uma simples ida ao cinema teria de ser criticamente reflectida para avaliarmos se o dinheiro do bilhete não seria melhor utilizado para ajudar a AMI por exemplo. Neste aspecto a deontologia é mais plausível. Segundo esta perspectiva devemos agir segundo máximas que possamos querer que todos adoptem, ou seja, que possam ser universalizadas. Assim, sem prejuízo de ajudarmos os outros de vez em quando, seria perfeitamente aceitável a ida ao cinema; porque seria no mínimo estranho, um mundo em que pudéssemos querer que todos deixassem de ir ao cinema ou comprar livros mesmo que essa atitude beneficiasse muita gente. Se assim fosse, o cinema e muitas outras coisas que apreciamos, deixariam de existir.
O utilitarismo é pouco plausível ainda, porque além de muito exigente, é também muito permissivo, pois permite que cada um de nós seja um mero instrumento para o bem comum. A deontologia não tem estas implicações uma vez que, ao agirmos pessoalmente baseados na racionalidade, podemos tornar essas acções universais sem nunca usar as pessoas como um mero meio, mas sempre como um fim em si mesmas, respeitando a sua dignidade. Ao adoptarmos esta teoria, estamos a contribuir não só para o nosso bem, mas também para o bem geral, de forma legítima e sem prescindir dos nossos objectivos pessoais, pois são esses aspectos singulares que definem a nossa personalidade.

Luís Jacinto
10.º D