29.7.11

O Problema da discriminação positiva das mulheres II

Fernando Botero, Quatro Mulheres, 1965


“A discriminação positiva é uma forma de lutar activamente pela igualdade ”


Existe um certo tipo de discriminação, chamada discriminação positiva ou acção afirmativa. Trata-se da criação intencional de condições desiguais para favorecer as vítimas de desigualdades, de conceder um tratamento preferencial, em certas circunstâncias, a indivíduos de grupos minoritários e reconhecidamente desfavorecidos, neste caso concreto, as mulheres.
O problema da discriminação positiva é um problema de Filosofia Social e Política que consiste em saber se, deveremos dar um tratamento preferencial aos grupos sociais mais desfavorecidos. Como as mulheres foram, e são muitas vezes, vítimas de desigualdades, será que devem ser tratadas de modo preferencial? Pensamos que sim. Só dessa forma lutamos activamente pela igualdade plena no futuro.
Quem é contra a nossa posição defende que a discriminação positiva gera ressentimentos que seriam por sua vez, geradores de mais discriminação e preconceitos, impedindo a justiça social. Mas esta forma de argumentar a nosso ver, não tem em conta a solidariedade, o sermos capazes de nos colocar no lugar de quem é efectivamente discriminado. A fragilidade destas pessoas só pode ser superada se a sociedade assumir a sua parte de responsabilidade e ajudar a superá-la. Se há pessoas que conseguem ultrapassar as suas limitações, muitas outras não conseguem fazê-lo sozinhas. Nestes casos, a discriminação positiva é uma forma de aplicar na prática, a solidariedade que defendemos em teoria.
Quem argumenta que a acção afirmativa responsabiliza as gerações actuais pelos erros das gerações passadas, tem alguma razão mas não em todas as situações. Cada geração usufrui de privilégios que não foram construídos por si e tem de trabalhar no sentido de ultrapassar erros passados. Se isso não acontecesse, os erros perpetuar-se-iam e não haveria justiça moral nem social. Se queremos construir uma sociedade justa então é útil combater as injustiças e o único modo de fazê-lo é começar a fazê-lo agora. Para isso é necessário criar medidas que permitam às mulheres, vítimas de condições desiguais no passado, ultrapassar a injustiça de muitas leis e normas sociais que as impediam por exemplo, de trabalhar fora de casa, pois era considerada uma tarefa masculina, os homens é que tinham o “dever” de sustentar a família.
É até um dever social praticar a discriminação positiva, para prevenir desigualdades futuras já que numa sociedade justa, é útil combater as injustiças resultantes de qualquer discriminação. Porque isso é a melhor forma de promover a igualdade de oportunidades no futuro.
Há ainda um outro argumento contra a discriminação positiva, o “Argumento da Violação dos Direitos”, este afirma que a discriminação positiva exemplifica um caso em que os fins que se pretendem atingir, uma sociedade mais igualitária, sendo louváveis, não podem servir para justificar os meios que não são moralmente aceitáveis. Ou seja, a discriminação positiva não deveria ser praticada pois é moralmente errado beneficiar as mulheres, porque isso viola os direitos gerais das pessoas. Logo ninguém deveria ser discriminado positivamente.
Mas de que direitos estamos a falar? Os direitos em causa são facultados pela lei, se antes a lei favorecia certas pessoas, hoje, para restabelecer o equilíbrio temos de favorecer outras pessoas. Por vezes é necessário discriminar para repor a justiça, senão a injustiça prevalece e não há forma de termos uma igualdade genuína.
Assim sendo pensamos que devemos discriminar positivamente as mulheres para começarmos a construir hoje, uma sociedade mais justa.

Beatriz Inácio, Filipa Martins e Mariana Justo

10.º F

Desenvolvimento Comunitário na Benedita: 50 anos depois, que impactos, que visões para o futuro?


No âmbito das celebrações dos 50 anos do projecto de desenvolvimento comunitário ocorrido no início dos anos 60 do século XX, na Benedita, os Rotários lançam um desafio para assinalar a efeméride : " Reafirma-se a necessidade de um amplo envolvimento e participação que envolva entidades, organismos e pessoas da freguesia, bem como investigadores e instituições universitárias " e propõem, concretamente, a participação do Externato Cooperativo da Benedita neste projecto, já que se trata de uma instituição que tem a sua génese nesse movimento comunitário.

A Benedita nos anos 60

O programa TV Rural da autoria do Eng. Sousa Veloso, cuja voz podemos ouvir, esteve na Benedita para mostrar como foi aqui iniciado um programa de "Desenvolvimento Comunitário".
Trata-se de um documento sobre um momento importante da história da Benedita que nos permite uma espécie de viagem no tempo, muito interessante, e que é a prova de que os tempos difíceis podem ser ultrapassados.
Saliento o momento em que, no final do segundo vídeo, se refere a criação de uma cooperativa de ensino que permitirá assim a continuação dos estudos aos jovens da terra, fala-se obviamente do ECB.




Para ver mais dois vídeos:


28.7.11

Cistermúsica



XIX Festival de Música de Alcobaça

Com música que vai da Idade Média aos nossos dias, a edição de 2011 do Cistermúsica, subordinado ao tema “Em torno de Inês”, marca o regresso da temática inesiana ao festival, comemorando os 650 anos da trasladação de Pedro e Inês para o Mosteiro de Alcobaça (1361).

O Cistermúsica é o grande acontecimento cultural de Alcobaça e um dos mais relevantes da região. Desde a primeira edição, foi sua ambição colmatar a falta de concertos regulares com uma programação ecléctica na área da música erudita.

Com início em 3 de Junho, o Festival encerra no dia 31 de Julho com um concerto pela Orquestra Barroca da União Europeia, pelas 18 horas, no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.

Nada é tão inquietante como o mal

Nada é tão inquietante como o mal. O homicida norueguês - que passo a designar por B - começou a jornada de sexta-feira com a bomba em Oslo. O horror, que vai banalizar a bomba, começa a seguir. Em Utoya, B transforma-se no "assassino em massa". Abate a tiro, com balas dum-dum, dezenas de jovens - "caçados como coelhos", disse um sobrevivente. A seguir, dispara sobre os que nadam para escapar.

(...) Disparou - disse alguém - dezenas de vezes sobre o símbolo do que designou por "marxismo cultural", a principal "ideologia genocida" da Europa "cristã".

B não fugiu. Na segunda-feira, o seu ar triunfante no carro da polícia era tão eloquente quanto o manifesto que deixou na Internet. O plano implicava a detenção e o julgamento - o apogeu da mediatização.

"O que este morticínio de seres humanos mostra é a infinita banalidade e idiotia do mal e da violência, tantas vezes mostrados envoltos em sedução. (...) É uma vergonha, embora inevitável, registar na memória o nome do assassino norueguês e não os das suas vítimas", comentou no Corriere della Serao escritor italiano Claudio Magris.

Em Julho de 356 a. C. um anódino Eróstrato incendiou o Templo de Artemisa em Éfeso, de que se dizia ser uma das "sete maravilhas do mundo". Assumiu que o fizera como desesperado meio de alcançar a glória. O sacrilégio foi castigado com a morte. Como póstuma punição, os magistrados proibiram os efésios de jamais citarem o seu nome, que foi também apagado de todos os documentos. Mas um historiador de outra cidade nomeou-o, outros o repetiram e Eróstrato entrou na História. Ninguém conhece o nome do arquitecto que desenhou o templo de Éfeso. Tal como Eróstrato, B está a ganhar.

O homicida violou um tabu da cultura nórdica, que condena a autoglorificação. Vangloriou-se B no manifesto: "Serei olhado como o maior monstro desde a II Guerra Mundial". Perante a polícia, reivindicou os actos e rejeitou a responsabilidade criminal. Um "herói" que acaba de entrar na História não reconhece a culpa.

"Os assassinos em massa agem geralmente sozinhos", explicou à Reuters o sueco Magnus Ranstorp, especialista em terrorismo. “ [B] é extremamente narcisista e preocupa-se consigo e com o seu lugar na História."

(...) No domingo, o jornalista italiano Pierluigi Battista criticou a pressa das interpretações: "Antes de apurar os factos, surge a febre da identificação do "Inimigo", a procura de explicações que dêem segurança, de simplificações que ponham alguma ordem no que parecia privado de sentido - uma lógica para a orgia de sangue e de morte que sacudiu em poucas horas uma nação tranquila como a Noruega".

É um mecanismo de autodefesa perante o sentimento de vulnerabilidade. "O medo mais verdadeiro é o do inexplicável." Se o autor do massacre tiver tido cúmplices será a natural corroboração da hipótese de "um criminoso desígnio de massacre". Se tiver agido sozinho, "perdemos uma boa ocasião de estar calados".

O "pequeno Mein Kampf" que B colocou na Internet começou a ser passado a pente fino, como se trouxesse, enfim, uma explicação do crime. Para lá dos delírios, suscita um problema maior: está, por definição, semeado de pistas falsas.

Após a detenção, B continua aparentemente a semeá-las, apontando a existência de outras "células", na Noruega ou no estrangeiro. Comentou uma investigadora da polícia norueguesa: "Talvez queira sugerir que está envolvido em algo maior do que ele".

Cinco dias depois de Utoya, sabemos pouco. Para lá do crime, B colocou em xeque os novos partidos xenófobos. A blogosfera de extrema-direita está debaixo de fogo e na defensiva.

Hoje, a expansão da xenofobia está a cargo de partidos que respeitam as regras do jogo democrático, saíram do gueto político, afastaram os extremistas incómodos e alargaram a base eleitoral. Ao invocar os seus argumentos, B lança sobre eles a suspeição de conivência com o terrorismo de extrema-direita. O risco deste "terrorismo negro" passou a ser encarado, através dos que estão fora do sistema, os "lobos solitários" como B - para já, há o risco de "efeito copycat". Ninguém previu - e menos ainda preveniu - o morticínio de Utoya. Muito depende do tratamento político e mediático da tragédia.

Para os noruegueses foi uma catástrofe. Não cederão um milímetro, excepto num ponto: a segurança. A reforma da polícia é a condição de não limitar as liberdades. Eles descobriram subitamente que "o assassino está entre nós".

Voltando a B e citando Magris: "O seu gesto atroz mostra a contínua latência do mal, a possibilidade de se desencadear a qualquer momento; revela a nossa convivência quotidiana, corpo a corpo, com o mal, sempre emboscado e por vezes assustadoramente em acção".

27.07.2011

Jorge Almeida Fernandes

In: Público

16.7.11

A Antiga Biblioteca de Alexandria










Neste vídeo podemos ver o astrónomo Carl Sagan, num passeio virtual pela antiga Biblioteca de Alexandria, num episódio da sua famosa série “Cosmos”. Ele explica-nos, na linguagem clara a que nos habituou, que foi aqui que a jornada da ciência começou de forma sistemática no ocidente. A Biblioteca de Alexandria, no Egipto, uma das maiores bibliotecas do mundo antigo, foi fundada no início do século III a.C.. Estima-se que a Biblioteca tenha armazenado mais de 400.000 rolos de papiro, podendo ter chegado a 1.000.000 nos seus 700 anos de existência.

A Biblioteca de Alexandria (na realidade duas, Biblioteca mãe e filha) era o maior centro de conhecimento do planeta, guardando um saber sem igual. Acorriam a Alexandria sábios de todo o mundo que estudavam e debatiam os mais variados temas. Este clima de tolerância para com as outras culturas não voltaria a ser visto durante mais de 1500 anos. A Biblioteca mãe, tanto quanto sabemos hoje, terá sofrido um incêndio acidental no séc. I d.C, substituindo-a nas mesmas funções a Biblioteca filha. Em 391 d.C., durante o reinado do imperador Teodósio, a Biblioteca foi completamente destruída, juntamente com o templo a Serápis, pelo bispo cristão Teófilo, que foi mais tarde canonizado. Este acontecimento é retratado no recente filme “Ágora” de Alejandro Amenabar, que tem como personagem central Hipátia, figura ímpar também aqui referida por Sagan, que foi martirizada de acordo com algumas fontes, por ordem de Cirilo, Patriarca de Alexandria. A lista dos grandes pensadores que frequentaram a Biblioteca de Alexandria inclui outros nomes de grandes génios do passado como Arquimedes, Euclides, Aristarco, Eratóstenes, Galeno ou Ptolomeu.

15.7.11

Uma sala de aula do tamanho do mundo





Salman Khan fala sobre como e por que razão criou a notável Academia Khan, uma série de vídeos educativos cuidadosamente estruturada, que oferece formação curricular completa em matemática e, agora, noutras matérias. Ele mostra o poder dos exercícios interactivos, e apela aos professores para considerarem a hipótese de revolucionar os métodos habitualmente utilizados na sala de aula para darem aos alunos a exposição da matéria em vídeo, para verem em casa, e para fazerem o "trabalho de casa" na sala de aula, com o professor disponível para ajudá-los. (Com legendas em português)


Poderá a tecnologia, mais do que mudar, humanizar a sala de aula?


4.7.11

Será o cepticismo radical defensável?


Em relação ao problema da possibilidade do conhecimento, o cepticismo radical é a posição segundo a qual o conhecimento não é possível. Trata-se de uma posição contra-intuitiva, já que todos nós estamos convencidos que sabemos alguma coisa. No entanto, os argumentos cépticos radicais parecem não deixar de constituir, até hoje, um desafio.
Porque nos parece implausível que o conhecimento não exista e porque precisamos de provar que é possível conhecer - de modo a validar todos os processos cognitivos científicos, bem como do senso comum - é de enorme relevância chegar a uma conclusão relativamente a esta questão. Assim, neste ensaio iremos defender que a perspectiva céptica radical é refutável.
Segundo a definição clássica de conhecimento, que podemos encontrar no diálogo Teeteto de Platão, o conhecimento é uma crença verdadeira justificada. Estabelecidas ficam, desde então, as condições do conhecimento válido, de cuja satisfação depende o valor de qualquer conhecimento produzido. É esta última condição que é questionada pelos cépticos radicais, de acordo com os quais, as justificações das nossas crenças são sempre falíveis.

Um dos argumentos dos cépticos é o das “Divergências de opinião”. Este argumento defende que, para todos os assuntos existem posições divergentes, mesmo entre peritos, o que torna óbvio que nenhuma das opiniões defendida está suficientemente justificada, pois não se consegue impor sobre as outras, mostrando a sua inadequação.
No entanto, o simples facto de existirem opiniões reconhecidamente mais válidas do que outras constitui uma prova que o conhecimento existe. Por outro lado, a existência de dúvidas pertinentes e consensuais constitui, de alguma forma, conhecimento.

Outro argumento apresentado pelos cépticos é o das “Ilusões e erros perceptivos”. Este argumento defende que nenhuma informação adquirida através da percepção é fiável, uma vez que os nossos sentidos criam imagens distorcidas da realidade ou mesmo, claramente, erradas.
Mas embora a percepção por vezes nos engane, nós conseguimos através do confronto entre os dados de diferentes sentidos emendar muitos desses erros perceptivos; por outro lado, os sentidos podem ter o seu testemunho corrigido pela razão, como nos propõe Hume, podendo assim tornar-se critérios adequados de verdade e falsidade, uma vez que a percepção não é a nossa única faculdade de conhecimento.

Por último, avaliemos o argumento da “Regressão Infinita da Justificação”. De acordo com os cépticos, como sempre que se tenta justificar uma crença se recorre a outra crença, ao justificar umas crenças a partir de outras, o processo de justificação conduz-nos, inevitavelmente, a uma regressão infinita da justificação. Pelo que, nenhuma crença está justificada.
Para refutar este argumento basear-nos-emos em duas perspectivas: a Perspectiva fundacionista, defendida por Descartes, segundo a qual existem crenças básicas que não precisam de ser justificadas, porque são autojustificadas e constituem elas próprias justificação de outras não básicas, constituindo, assim, um bloqueio à regressão infinita da justificação – como por exemplo o Cogito; a perspectiva coerentista defende que as nossas crenças se organizam de forma sistemática ou em rede, existindo entre elas uma relação de sustentação recíproca, entre as diversas crenças, num determinado domínio de conhecimento. Assim, cada crença está apoiada em muitas crenças, relativamente à verdade de uma delas e de todas do seu conjunto. Pelo que, a descoberta da falsidade de uma crença não provoca a falência de todo o sistema de crenças porque nenhuma delas sustenta todas as outras, antes todas sustentam todas. Esta concepção é, muito eficazmente, ilustrada pelo Barco de Neurath.
Finalmente, a tese do cepticismo é uma proposição auto-refutante, isto é, o facto de se afirmar que o conhecimento não é possível, constitui, por si só, o evidenciar de um conhecimento.
Podemos então concluir que o cepticismo radical é refutável, uma vez que para além dos vários argumentos apresentados a seu favor serem objectáveis, como vimos anteriormente, a própria tese céptica é auto-refutante, não sendo, por isso defensável.


Cátia Santos, Hugo Fernandes, Sofia Couto e Tiago Mateus 11ºB