Imagine que é um brilhante cientista que criou um andróide muito semelhante ao andróide Commander Data da série Strar Trek (Caminho das Estrelas). Contudo, algo de terrível acontece.O andróide mata um ser humano. Não conseguindo capturar o andróide, o Ministério Público culpa-o a si. Segue-se o seguinte diálogo:
Procurador do Ministério Público: O sr. é o responsável pelo assassínio uma vez que programou o andróide, é o seu criador.
Cientista: É verdade, fui eu que o criei, mas programei-o para fazer escolhas de acordo com o seu livre-arbítrio.
Procurador: O sr. está enganado. O andróide não pode fazer escolhas livres. As suas escolhas são, em primeiro lugar, resultado do modo como foi programado, e em segundo lugar são resultado das modificações posteriores causadas pelo meio ambiente. As escolhas do andróide, foram determinadas por forças fora do seu controlo. O criador é responsável por estes factores. Seria responsável mesmo que o andróide pudesse alterar o seu programa de base e alterar o meio em que age, porque a sua forma de se auto-programar e de lidar com o meio foi determinada pelo seu construtor e programador.
Cientista: Se o andróide não tem livre-arbítrio por causa da sua constituição de base e das influências do meio, então os seres humanos também não têm livre-arbítrio. Tal como o andróide, os seres humanos também são o resultado da influência de factores genéticos (biológicos) e ambientais (sociais e culturais). Nascemos com uma constituição genética que não escolhemos e também não escolhemos as caraterísticas físicas que apresentamos nem o meio em que nascemos. Se o andróide não pode ser responsabilizado, então eu, enquanto seu criador, também não posso ser responsabilizado.
Pode o andróide ser ao mesmo tempo programado e livre para fazer as suas próprias escolhas? Não é uma contradição nos termos?
Nós seres humanos não seremos como o andróide? Acreditamos que somos profundamente influenciados pelos nossos genes e pelo meio. Mas também acreditamos que pelo menos algumas das nossas escolhas e acções são livres. Podem estas duas crenças ser verdadeiras?
Nós seres humanos não seremos como o andróide? Acreditamos que somos profundamente influenciados pelos nossos genes e pelo meio. Mas também acreditamos que pelo menos algumas das nossas escolhas e acções são livres. Podem estas duas crenças ser verdadeiras?
Temos a crença básica de que vivemos num universo em que os fenómenos se encontram determinados por acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza. Por outro lado temos também a crença básica de que somos livres. Como é isto possível? Podemos ser livres num universo determinista? Ou a nossa liberdade é uma ilusão? Podemos conceber que o universo afinal não está inteiramente determinado justamente porque somos livres?
Adaptado de Luis Rodrigues, Filosofia 10.º ano, Plátano Editora
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