Antal Strohmayer;The Philosophers Garden Athens; 1834
“O fim último da
moralidade é a procura da felicidade. Assim, o nosso dever fundamental é que as
nossas ações possam promover tanto quanto possível a felicidade.”
A afirmação apresentada faz
referência ao problema da fundamentação da moral, e apresenta uma perspetiva
utilitarista. O problema da fundamentação da moral é muito importante, visto
que é discutir se haverá um critério capaz de indicar com clareza qual é, em
cada caso, a ação moralmente correta e a ação moralmente incorreta, e isso pode
alterar o nosso comportamento. Não concordo que o fim último da moralidade seja
a procura da felicidade.
O utilitarismo, teoria apresentada
por Stuart Mill, é consequencialista, ou seja, considera que uma ação é
moralmente correta ou incorreta em função das suas consequências, se as
consequências forem favoráveis a ação é moralmente correta, se forem
desfavoráveis a ação é moralmente incorreta. Segundo o princípio da utilidade a
ação é favorável na medida em que traz felicidade ou bem-estar às pessoas
envolvidas e é desfavorável se traz infelicidade. Entende-se felicidade como o
prazer e a ausência de dor. O cálculo desta deve ser feito de forma imparcial,
ou seja, não deve ser só considerada a felicidade do agente, mas do maior
número de pessoas possível envolvidas na situação. No entanto, impor ao agente
que seja imparcial na consideração da sua felicidade (e das pessoas próximas) e
das outras pessoas é errado e impossível de cumprir. Esta teoria parece
justificar, também, ações que intuitivamente consideramos erradas, pois
desrespeitam os direitos de algumas pessoas, sendo que não é por maximizarem a
felicidade de um elevado número de pessoas que a ação vai passar a ser correta.
Outra objeção a esta teoria é a dificuldade de cálculo, visto que nos podemos
enganar a calcular as consequências de uma ação, podemos considerar benéficas
ações que afinal são prejudiciais e vice-versa. No meu ponto de vista, apesar
do utilitarismo ter alguns aspetos que são corretos, esta teoria apresenta
muitas falhas e não acho que esteja bem formulada.
Outra teoria estudada para tentar
responder a este problema foi a ética deontológica de Kant, esta ética ao
contrário do utilitarismo defende que há valores morais que são absolutos, ou
seja, há ações que são sempre corretas de realizar e há ações que são sempre
erradas de realizar, independentemente das suas consequências. Segundo a ética
deontológica deve ser a razão (capacidade de pensar) a dizer o que está certo e
o que está errado, qualquer fator externo à razão não tem nenhum papel a
desempenhar na moralidade. Os deveres desta teoria baseiam-se no imperativo
categórico, um princípio que nos permite distinguir as ações moralmente erradas
das ações moralmente certas, estudamos duas fórmulas, a fórmula da Lei
Universal, que diz que devemos realizar apenas ações que decorram de máximas
(regras) que possam ser universalizadas e a fórmula da Humanidade, que diz que
não devemos realizar ações em que as pessoas sejam usadas como meros meios,
porque o ser humano é um ser racional, e capaz de fazer escolhas, e por isso a
sua autonomia deve ser respeitada. Esta teoria, no meu ponto de vista, responde
parcialmente a este problema, no entanto encontra-se incompleta, deixa várias
questões por responder e apresenta algumas falhas. É contraditória porque o
imperativo categórico pode ser entendido como sendo consequencialista, o teste
da fórmula da Lei Universal mostra-nos se as consequências de todos seguirem
uma determinada ação, são boas ou más. Pode haver situações em que haja
conflitos de dever, ou seja, em que situações em que há dois deveres
incompatíveis, que são absolutos, em que o agente fica sem saber como agir. E é
errado negar a importância moral dos sentimentos, visto que alguns destes são
centrais na vida humana e têm valor moral, pelo que é errado retirá-los da
esfera ética.
Concluindo, a questão apresentada
faz referência ao problema da fundamentação da moral, e apresenta uma perspetiva
utilitarista, com a qual eu não concordo, pelos motivos apresentados
anteriormente. No meu ponto de vista a teoria que responde melhor ao problema,
é a ética deontológica de Kant, no entanto acho que esta se encontra incompleta
e com várias falhas. Por isso acho que esta resposta não chega para responder da
melhor forma a este problema, pelo que temos de continuar a estudar, para
encontrar um critério capaz de indicar com clareza qual é, em cada caso, a ação
moralmente correta e a ação moralmente incorreta.
Catarina Filipe
O
problema em causa é
o problema da fundamentação da moral. Segundo a primeira afirmação o fim
supremo da moralidade é a procura de felicidade, e a segunda diz que o nosso
dever é que as nossas ações possam promover a maior felicidade possível. É uma
opinião utilitarista que defende que as boas ações são as que provocam maior
felicidade.
Eu
não acho que seja claro qual das duas posições possíveis para abordar este
problema seja a correta. Se olharmos para a ética de Kant, percebemos que esta
em alguns casos faz sentido e noutros não. Esta diz que devemos agir apenas por
boa-vontade não considerando as consequências que a nossa ação possa trazer. O
problema é quando há o conflito de deveres. Como todos os deveres, em teoria,
são absolutos não devia haver deveres de alguma forma superiores a outros, no
entanto intuitivamente percebemos que não é o caso. Tomemos como exemplo uma
situação em que um criminoso vem ter connosco e nos pergunta se por acaso
sabemos a localização de outra pessoa. Nós, sabendo a localização, e sabendo
que dizer a verdade é um dever absoluto deveríamos dizer a verdade. No entanto,
possivelmente isso iria provocar a morte dessa pessoa. Salvar uma vida é também
um dever absoluto, e creio que, neste caso a maioria das pessoas escolheria
mentir e não estaria a agir por boa-vontade, pelo contrário estaria a pensar
apenas nas consequências.
Agora,
olhando para a ética de Mill, aquela expressada na afirmação, percebemos também
que esta faz sentido. No geral parece-me a ética mais fiável e a que devemos
seguir, sendo o maior problema o facto de não conseguirmos medir as
consequências das nossas ações totalmente. Ao realizarmos uma ação podemos
inicialmente achar que iremos proporcionar o máximo de felicidade quando na
verdade escapou-nos algum detalhe. A felicidade não é uma grandeza que se meça
facilmente, havendo apenas a diferença entre prazeres inferiores e superiores.
Sendo assim, quando nos encontramos num dilema temos que escolher bem sem
cometer erros, porque as consequências podem ser gravíssimas. No entanto, acho
que se pode dizer que “errar é humano”, e que uma jurisdição ética perfeita é
tão ou mais impossível que um humano perfeito. O mais importante não é que haja
sempre a felicidade máxima, mas sim tentar que essa exista. É irracional pensar
que tudo na vida vai correr perfeitamente bem sem problemas pelo caminho. O
nosso dever é tentar responder a esses problemas com a nossa própria jurisdição
e intuição de maneira que tentemos fazer com que haja felicidade máxima. E por
isso sim, pode-se dizer que concordo com as afirmações.
José
Maria Ferreira