28.8.09

Aparência e Realidade

"Imaginemos que habitamos um estranho país onde tudo é absolutamente plano. (...) Chamemos-lhe Planilândia. Alguns habitantes são quadrados; outros são triângulos; outros têm formas mais complexas. Corremos, apressados entrando e saindo dos nossos edifícios planos, ocupados com os nossos negócios e divertimentos chatos. Toda a gente na planilândia tem largura e comprimento mas não tem altura. Conhecemos o que é a direita e esquerda, à frente e atrás, mas não temos a mínima noção, nem um vestígio de compreeensão, do que é em cima e em baixo - com excepção dos matemáticos planos. E esses dizem-nos: «Oiçam lá, é muito fácil. Imaginem esquerdo-direito. Imaginem à frente-atrás. Tudo bem até aqui? Agora imaginem outra direcção, em ângulo recto com as outras duas.» E nós dizemos: «De que estão a falar? 'Em ângulo recto com a outras duas!' Há apenas duas dimensões. Onde está ela?» Os matemáticos desencorajados, afastam-se. Ninguém escuta os matemáticos.
Cada criatura da Planilândia vê outro quadrado como um curto segmento de recta, o lado do quadrado que está mais perto dela. Só vê o outro lado do quadrado se andar um pouco. Mas o interior do quadrado permanece para sempre um mistério, a menos que um terrível acidente ou uma autópsia quebre os lados e exponha as partes interiores.
Um dia, uma criatura tridimensional - do feitio de uma maçã, por exemplo - aparece na Planilândia, pairando sobre ela. Ao ver um quadrado particularmente atraente e de aspecto simpático a entrar na sua casa plana, a maçã decide cumprimentá-lo, num gesto de amizade interdimensional.
«Como está?», pergunta (...). Eu sou um visitante da terceira dimensão.» O infeliz quadrado olha em volta da sua casa fechada e nada vê. E, o que é pior, parece-lhe que a saudação, vinda de cima, emana do seu próprio corpo plano, como uma voz interior. Existe um pouco de loucura na família, talvez pense o quadrado, na falta de melhor explicação.
Exasperada por ser considerada uma aberração psicológica, a maçã desce na Planilândia. Uma maçã a deslizar pela Planilândia apareceria primeiramente como um ponto e depois como fatias mais ou menos circulares, progressivamente maiores. O quadrado vê um ponto aparecer numa sala fechada, no seu mundo bidimensional, e transformar-se lentamente num círculo próximo. Apareceu-lhe, não sabe de onde, uma criatura de forma estranha e mutável.
Rejeitada, infeliz com a obtusidade do próprio plano, a maçã empurra o quadrado e atira-o pelo ar, flutuando e girando, para a terceira dimensão. A princípio, o quadrado não consegue perceber o que está a acontecer; é algo absolutamente alheio à sua experiência. Mas acaba por perceber que está a ver a Planilândia de um ponto de vista especialmente vantajoso: de «cima». Pode ver para dentro das casas fechadas. Pode ver o interior dos seus companheiros planos. Está a ver o seu universo de uma perspectiva única e avassaladora. Viajar noutra dimensão proporciona por acaso, a vantagem de uma espécie de raio X.
Finalmente como uma folha que cai, o nosso quadrado acaba por regressar à superfície. Do ponto de vista dos seus conterrâneos planilandianos, ele desapareceu inexplicavelmente de dentro de uma casa fechada e depois materializou-se, estranhamente, vindo não se sabe de onde. «Pelo amor de Deus», dizem eles, «que te aconteceu?» «Penso», acaba ele por responder, «que estive 'lá em cima'.» Os outros dão-lhe palmadinhas nas costas e consolam-no. Na sua família sempre houve quadrados com visões."
Edwin Abbott, citado por Carl Sagan em Cosmos, pp. 304-306

Esta história citada por Carl Sagan, traz-nos à memória as nossas múltiplas limitações: a nossa inteligência, o lugar que ocupamos no universo, o tempo em que vivemos... Seremos irremediavelmente prisioneiros fechados na nossa "ilha cósmica" ou teremos legítimas razões para aspirar ao conhecimento (do universo)?
Richard Dawkins, biólogo e divulgador de ciência, discorre com o habitual humor, sobre "o pensamento do improvável", cujo vídeo pode ser visionado com tradução em português.
Para Dawkins vivemos num "mundo médio" no qual o nosso cérebro evolui adaptando-se à nossa faixa estreita da realidade. A matéria é uma ficção útil para nós, mas há um mundo que não podemos ver...



A ciência e a crítica são instrumentos fundamentais que nos levarão sempre mais longe... até que ponto? Será o nosso cérebro capaz de nos levar até aos derradeiros limites ou haverá sempre algo mais a desvendar?
É um desafio que dá muito que pensar.
Imagens: Google, Kandinski e TED.Com, Richard Dawkins

26.8.09

Música contra a Exclusão...


EL SISTEMA: Música contra a Exclusão, é um "sonho plantado" por José Antonio Abreu desde 1975 na Venezuela. Consiste num sistema de coros, orquestras infantis e juvenis, que vê na música "uma fonte de desenvolvimento do ser humano, de elevação do espírito, uma resposta à crise da espiritualidade no mundo". Um programa contra a exclusão social que já transformou a vida de mais de 300. 000 jovens venezuelanos.

Uma fonte de inspiração da verdadeira cidadania democrática e um modelo de sucesso educativo.
Entre muitos prémios, recebeu o TED Prize cujo vídeo pode ser visionado aqui em português do Brasil. Vale a pena ver e ouvir este homem que, à semelhança de tantos outros, não cruzou os braços perante a miséria da condição humana fazendo da Terra um lugar melhor.

Gustavo Dudamel, Google imagens


Um dos jovens educados neste projecto, Gustavo Dudamel é hoje um dos mais carismáticos maestros cujo génio pode apreciar a dirigir a Orquestra Teresa Carreño tocando a Sinfonia No. 10 (2º movimento) de Shostakovich e Danzón No. 2 de Arturo Márquez. Vale a pena ouvir!!!



Com a Orquestra Sinfónica Juvenil Simón Bolivar - que já foi considerada uma das Cinco melhores orquestras do mundo-, em 2007, no London BBC Proms.

Alma Llanera:

E Mambo:


Perante a beleza deste projecto, não podemos deixar de pensar em Nietzsche (1844-1900), filósofo para quem a verdadeira actividade metafísica da vida era a arte musical.

Representada pelos instintos apolíneo e dionisíaco, metáforas que simbolizam não só o que podemos compreender da realidade mas a própria realidade. Esta, sendo múltipla inclui todas as dualidades, todas as contradições expressas numa espécie de jogo ou relação de tensão e equilíbrio, em que nenhuma das partes pode ser eliminada. É o modo da unidade primordial, realidade íntima de tudo quanto há no mundo, no cosmos..., se dar a conhecer na "dança da vida" enquanto energia criadora ou vontade de poder. A arte musical permite-nos a experiência do belo e do sublime.

21.8.09

Será que Deus Existe?

Richard Swinburne é professor de Filosofia da Religião na Universidade de Oxford.
Estará presente no 7.º Encontro Nacional de Professores de Filosofia, organizado pela Sociedade Portuguesa de Professores de Filosofia, subordinado ao tema: "Filosofia e Religião", a decorrer em Viseu, na Escola Superior de Tecnologia nos dias 4 e 5 de Setembro de 2009.

Num tempo em que a ciência assumiu um papel fundamental nas nossas vidas, Swinburne, propõe-nos neste livro, uma reflexão séria, rigorosa e cuidada sobre a existência de Deus, tema que tem adquirido um renovado interesse à luz das novas descobertas científicas.

Nas palavras do autor, (...) "O pensamento público sobre estas questões foi influenciado por diversos livros da autoria de cientistas de renome, entre eles O Relojoeiro Cego, de Richard Dawkins (1986), e Uma Breve História do Tempo, de Stephen Hawking (1988)(...). Consciente de que as perspectivas destes autores não esgotam o debate rigoroso sobre o tema, com o presente livro, (versão abreviada de "The Existense of God" (1979)) Swinburne, pretende contribuir para o debate filosófico sobre este assunto, procurando mostrar que "é nos métodos da própria ciência que encontramos bases sólidas para crer na existência de Deus".

Numa época de fanatismos vários, um livro interessante para todos os que se preocupam com o debate racional sobre todas as grandes questões. Pode ler a recensão na revista Crítica, aqui.


Imagens: Google

6.8.09

Máquinas biológicas?

O que é o Homem?

O homem transformar-se-á em máquina?

O futuro estará nas mãos de máquinas biológicas?

Estas são algumas questões suscitadas pelo artigo publicado no Ciência Hoje, leia toda a notícia aqui.

Leia também este artigo e veja o vídeo, bem como este vídeo,
no astroPT. Ambos legendados em Português. Para o efeito, clicar em view subtitles.

Ou directamente: (edição posterior)







Imagem (Cyborg) encontrada no Google sem referência ao autor.

2.8.09

Uma música por dia...

A revista Ciência Hoje oferece uma selecção musical durante o Verão, a não perder. "São músicas de sempre que vale a pena ouvir." Para visitar o site clicar aqui.



"Parte final da abertura de Guilherme Tell, de Rossini, numa versão do filme «Brassed off», de 1996, em que uma cidade mineira depositava as maiores esperanças na conquista de um prémio nacional pela sua banda. Há quem se recorde desta abertura como o tema de uma velha série dos anos 60, «O Mascarilha» e o seu cavalo branco «Silver»."
In: Ciência Hoje

1.8.09

Direitos Humanos


João Garcia, comciência.br

Sons de sempre...

Versão da banda sonora de um clássico do cinema de 1966 realizado por Sergio Leone: "O Bom o Mau e o Vilão", com a participação de Clint Estwood.

Ennio Marricone é o autor desta versão interpretada pela Wkulele Orchestra of G. B.

Informação recebida da revista online "Ciência Hoje"