28.1.12

"Se Isto é um Homem"


A propósito do post anterior, oportunamente colocado pela Luísa, recomendo a leitura de "Se Isto é um Homem", de Primo Levi.
O autor, licenciado em Química, nasceu em Turim em 1919 onde morreu em 1987, provavelmente por suicídio. Por ser judeu foi preso e deportado, primeiro, para o campo de concentração de Fòssoli e, posteriormente, para Auschwitz, onde foi libertado por soldados russos em fevereiro de 1945.
O horror que ai viveu nunca o abandonou. Este livro é o registo lúcido e cru da experiência extrema, da terrível desumanização dos campos de concentração, sobretudo no que se refere às relações entre vítimas.
"Nesse contexto de deterioração humana, dissolvem-se os parâmetros de bem e de mal, de certo e de errado, de justo e injusto; o homem não pensa e não julga, só age, indiferentemente, como um “instrumento do mal”, ou seja, nessa situação extrema e perversa o homem é, ao mesmo tempo, vítima e instrumento do mal." (L. Correa)

Se Isto é um Homem
Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas
Vós que encontrais, regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem,
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais forças para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no inverno.

Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa, andando na rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que se desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.

((Primo Levi)

Em memória do Holocausto

A 27 de janeiro de 2012, o mundo assinalou pela sétima vez consecutiva, o Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto. A data foi marcada em 2005 pela Assembleia-Geral da ONU. Naquele dia, em 1945, as tropas soviéticas libertaram os prisioneiros do campo de concentração Auschwitz, localizado no sul da Polónia, símbolo do Holocausto perpetrado pelo nazismo.

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(Legendagem em português do Brasil.)
 ...a banalização do mal anda por aí, bem à vista, permitindo a relativização dos horrores da história... (Hanna Arendt)

Algumas ações não são egoístas


A compreensão efetiva de uma ação implica a compreensão dos motivos que justificam essa mesma ação. Assim sendo, será legítimo afirmar que todas as nossas ações são egoístas?
Não, algumas ações não são egoístas.
Aparentemente, um agente humano pode não ser motivado apenas pelo interesse pessoal, é capaz de realizar certas ações porque deseja obter algo que considera bom para os outros e porque acredita que realizar essas ações é o melhor meio de concretizar o seu desejo.
 Ora, consideramos que, em função daquilo que fazemos ou do bem que pretendemos atingir, podemos classificar algumas ações como egoístas, por só promoverem o nosso próprio bem, mas considerar outras altruístas por revelarem uma necessidade, do próprio sujeito, em promover o bem-estar de outros para além do seu.
Aqueles que defendem o egoísmo psicológico acreditam que, na verdade, não somos capazes de agir por motivos altruístas, isto é, de agir em função de uma preocupação genuína com os outros. A própria definição de egoísmo psicológico diz que cada um faz apenas o que julga ser mais vantajosos para si próprio. Assim, segundo os defensores do egoísmo psicológico, todas as nossas ações são egoístas porque, se agirmos livremente, então fazemos o que queremos, o que julgamos melhor para nós próprios e isso é uma inevitabilidade, porque é próprio da natureza da ação livre.
 Mesmo que seja verdade que, em todos os atos voluntários, as pessoas se limitam a fazer o que mais desejam, daí não se segue que todos esses atos sejam egoístas. Afinal, “se o João quer fazer algo que ajudará o seu amigo”, mesmo quando isso implica abdicar de alguns dos seus prazeres, isso é precisamente o que faz proceder de uma forma altruísta. O filósofo David Hume sugere que mesmo que sintamos prazer ao fazer bem aos outros isso não quer dizer que a expectativa de obter esse prazer tenha sido a causa da ação, pois o prazer pode ter sido apenas o efeito da ação.
 Já James Rachels defende que existem objeções fortes aos argumentos favoráveis ao egoísmo baseados nos desejos. Segundo este autor, o que está em causa é o tipo de desejos que as pessoas têm. Mesmo que fosse verdade que as pessoas só agem em função do que mais desejam, a diferença do que é desejado continuaria a distinguir a ação egoísta da altruísta. O egoísta só pode ter desejos egoístas e jamais se daria ao incómodo de “salvar leitões em sofrimento”, (como no episódio de Lincoln). O altruísta preocupa-se com os outros e tem por isso desejos altruístas mas não deixa de ser altruísta por agir em função deles.
Em suma, sabemos perfeitamente que há milhões de pessoas que sacrificam, de alguma maneira, o seu bem-estar para benefício dos outros; mesmo não conhecendo essas pessoas. Pelo que, nestas condições, quem pensa que “no fundo” todas as ações escondem um motivo egoísta tem de nos dar uma excelente razão para reconsiderarmos, as nossas convicções.
 Há, sem dúvida, razões para rejeitar o egoísmo psicológico, e uma delas é a falta de poder explicativo desta teoria, pois dispomos já de inúmeros dados que tornam razoável a convicção de que algumas pessoas se comportam, pelo menos algumas vezes, de forma altruísta. E é isto que se pretende defender quando se afirma que algumas ações são altruístas.
Raquel Batista, 10ºE

27.1.12

A Tourada

Em breve dicutiremos a pertinente questão dos direitos dos animais.
Entretanto, para os alunos que me têm perguntado se gosto de touradas, a minha resposta é «Sim.... mas destas.» Ora reparem na bravura deste touro, na elegância deste cavalo e na coragem deste toureiro.


Os espetáculos com animais podem ser, inquestionávelmente, legítimos. Nada nos impede de usarmos os animais para nossa diversão. Principalmente quando lhes permitimos divertirem-se também.

23.1.12

Haverá algo de errado com esta publicidade?

"Manipular é fazer alguém aceitar ou fazer algo sem avaliar cuidadosamente as coisas por si."

A manipulação é uma forma comum de argumentar de modo falacioso, mas eficaz, porque leva o interlocutor a mudar as suas ideias ou as suas ações. Muitas vezes, os argumentos são simplesmente sugeridos, por isso somos seduzidos e não convencidos. Quando avaliamos cuidadosamente os argumentos descobrimos muitas vezes que estavamos a ser enganados.

Leia aqui e descubra o que há de errado com esta publicidade.

18.1.12

Debate pela Liberdade

The great debaters, no original, é um filme de 2007, realizado por Denzel Washington e o seu argumento é baseado num artigo sobre a equipa de debate de Wiley College. Tem nos principais papéis o próprio Denzel Washington, Forest Whitaker, Kimberly Elise, Nate Parker, entre outros.
Poder-se-ia sugerir este filme por várias razões - a boa história, as boas interpretações - mas, pelo que nos interessa enquanto aprendizes de filósofos, principalmente, porque são ali debatidas questões de ética e filosofia política - a luta pela justiça, pela democracia, consequentemente pela igualdade de direitos dos cidadãos e pela plena participação de todos na vida cívica- e, embora algumas premissas só sejam válidas para auditórios muito particulares, é sobretudo pela relevância que dá à palavra, à argumentação, como método de procura da verdade, que aqui se sugere.

9.1.12

Parlamento dos Jovens no ECB


Decorreu hoje no ECB uma sessão/debate no âmbito da atividade proposta pela Assembleia da República às escolas - Parlamento dos Jovens - dinamizada pelo deputado Pedro Pimpão, destinada aos alunos do ensino secundário e subordinada ao tema "Redes sociais: participação e cidadania".
No dia 16 de janeiro vai decorrer o ato eleitoral, disputado entre cinco listas. No dia 18 tem lugar a Sessão Escolar que irá eleger os representantes do ECB no Parlamento Regional.

6.1.12

Uma definição de Filosofia

Bons dias, meus caros!
Quando nos deparamos com a definição de Filosofia - ou como mais informalmente dizemos: “O que é, afinal, a Filosofia?” – temos tendência a avaliá-la, primeiramente, como algo difícil de definir e abstrato, e, logo após isto, tomamo-la como algo estranha e desnecessária.
Imagine-se que uma criança nos pergunta o que é o céu. Perante esta questão, direcionada por alguém tão ingénuo, obviamente que é errado responder cientificamente – dizendo que o céu é a camada de gases que envolve a Terra, sendo que é principalmente constituída pelo elemento químico azoto -, dado que a criança, à partida, não possui conhecimentos suficientes para compreender esta definição.
Posto isto, e para uma melhor compreensão do que é o céu, não iremos definir cientificamente o conceito céu, mas sim caracterizá-lo e, desta forma, explicá-lo, para que a criança nos entenda.
Com isto, admitamos que hoje todos vós sois crianças e que se encontram neste preciso local, uma vez que a vossa curiosidade problematizou, filosoficamente, o conceito FILOSOFIA. Perante tal problematização, e tal como faríamos com a criança e o céu, ao invés de incerta e cientificamente vos definir Filosofia, irei cuidadosamente caracterizá-la para que a entendam melhor.
Pois bem, vamos tentar então entender esta tão polémica questão que envolve o conceito de Filosofia subordinado a uma ideia falaciosa da sua insignificância.

A Filosofia é uma atividade que exige sentido crítico, por parte de quem a faz ou a tenta fazer, baseando-se na adoção de uma atitude problematizadora perante as várias ideias que nos são transmitidas pelo “mundo lateral” por forma a compreendê-las - isto é, a Filosofia é a atividade que procura estudar e compreender cuidadosa e imparcialmente determinadas ideias, com a finalidade de não só determiná-las verdadeiras ou falsas, mas como também entender a sua natureza. Assim, a atividade filosófica, tal como já referi, exige uma tomada de posição - um sentido crítico - que, quando defronte uma ideia menos plausível ou infundada, se parte para a problematização da realidade adjacente a essa ideia por forma a percebê-la melhor e deste modo chegar a conclusões proveitosas. Deste modo, estamos a conhecer o problema inerente a essas ideias e por conseguinte uma solução, criando, assim, uma conceção original e da nossa autoria sobre essa determinada ideia.
A Filosofia caracteriza-se, ainda, por ser um estudo predominantemente “a priori”; é um estudo que problematiza as ideias levando a cabo a análise dessas mesmas ideias de uma forma conceptual, determinada pela discussão, argumentação e pensamento crítico – que na verdade, se opõe à ciência, visto que a Filosofia não se baseia nas provas empíricas e nos seus resultados (no entanto, a mesma não despreza o conhecimento “a posteriori”, uma vez que este tipo de conhecimento ajuda a filosofia a fundamentar os seus argumentos por meio de dados factuais), mas sim numa problematização de ideias que tem por objetivo uma procura sistemática de respostas a determinados problemas, através da atitude filosófica.
Em última análise e concluindo, a Filosofia é caracterizada, sucintamente, por ser uma atividade que exige a tomada de posição em relação a determinadas ideias, problematizando desta forma as nossas crenças mais básicas, através de uma posição problematizadora, exigindo a adoção de uma atitude crítica e filosófica que tem por base a análise, analisando-as de uma forma cuidadosa e imparcial, com o propósito de determinar o seu valor de verdade; sendo, por natureza, um estudo “a priori” que leva a cabo a sua investigação de carácter zetético por meio da argumentação, pensamento e discussão crítica.
Pedro Constantino, 10.º C