1. A Filosofia renovou-se na Grécia Antiga aquando da democratização da cidade de Atenas, no século V a.c.. Designa-se por viragem antropológica a inclusão do ser humano, na sua dimensão ética e política, no cerne das problemáticas filosóficas, além das preocupações com a Natureza que aparecem em todos os autores do período pré-socrático.
1.1. Há autores que referem o século V a.c., em Atenas, como um período de transformação cultural e da mentalidade semelhante à do Iluminismo do século XVIII, o que determinou, de facto, a evolução da Humanidade consubstanciada com os novos princípios filosóficos.
1.2. A implantação da democracia na cidade de Atenas exigiu que os cidadãos se emancipassem intelectualmente para poderem participar na política. Assim, a Filosofia tornou-se num meio privilegiado de preparação de uma cidadania esclarecida, activa e participada. Neste período, houve um conflito entre retores (sofistas) e filósofos na preparação intelectual dos jovens cidadãos. Os primeiros defendiam que, como toda a verdade é relativa, basta saber tornar persuasiva uma crença para se poder governar, enquanto os segundos defendiam que os jovens cidadãos deveriam ser educados, não na retórica, mas na aquisição do conhecimento do bem e do justo, para poderem governar de modo a alcançar-se o bem comum.
2. Revolução Francesa:1789. Após séculos de domínio teológico sobre a Filosofia, esta voltou a localizar-se no espaço que lhe pertence por natureza: a democracia. Assim, em 1795, Joseph Lakanal propõe a criação de um curso de Filosofia, com o objectivo de pôr termo à revolução na República Francesa e iniciar uma no espírito humano (em 1781 é publicada a primeira edição da Crítica da Razão Pura, em que Kant propõe uma segunda Revolução Coperniciana, com o intuito de revolucionar o entendimento humano).
2.1. Em França, por herança da Revolução de 1789, dinamiza-se o ensino da Filosofia, sendo criado um curso de Filosofia gratuito e obrigatório.
3. Após duas guerras mundiais e a dissolução de muitas ditaduras no mundo ocidental, a Unesco, em 1995, elaborou um estudo que revela que o ensino da Filosofia se desenvolve no mundo ao ritmo da democracia. Assim sendo, em muitos países que se democratizaram, foram criados cursos de Filosofia.
3.1. A Unesco desde a sua origem que tem recorrido à Filosofia para que se promovam os ideais que serviram de alicerces a esta organização.
3.2. A Unesco considera prioritário tornar acessível os estudos filosóficos. Por esta razão, na página da Unesco pode ler-se que dois dos seus objectivos são: "disponibilizar instrumentos internacionais para o progresso dos estudos filosóficos; colocar a filosofia ao serviço da educação internacional das nações. "
3.3. Considerando indispensável o ensino da Filosofia para a manutenção das democracias, a Unesco criou, em 2002, o Dia Internacional da Filosofia, que é celebrado na terceira quinta-feira do mês de Novembro.
4. Tendo em consideração a ligação essencial entre democracia e Filosofia, a revista francesa Philosophie Magazine, na edição de Junho de 2007, publica um estudo da Unesco que pretende mostrar que a consequência natural da democratização de um Estado é a promoção de cursos de Filosofia. O mapa que se segue foi extraído dessa edição e nele se pode verificar o vínculo entre o abandono de regimes totalitários e o progresso dos estudos filosóficos.

Para discussão: Será que o apagamento da filosofia pode significar uma crise na democracia?