De MICK GORDON e PAUL BROKS, encenação JOÃO PEDRO VAZ, tradução FRANCISCO NICÉFORO, espaço cénico e figurinos MARIA JOÃO CASTELO, vídeo PEDRO FILIPE MARQUES, luz NUNO MEIRA. Com CATARINA LACERDA, GONÇALO WADDINGTON e ANTÓNIO FONSECA. Produção Teatro Nacional D. Maria II, em cena na Sala Estúdio até 11 de Outubro Maiores de 16 anos
Como é que um quilo e meio de carne se transforma em mente? Para Alex, como para muitos de nós, é um equívoco que nos leva a formular a nosso respeito um princípio de primeira pessoa do singular ,“Eu”, que descreve uma unidade interna que se resume, afinal, a um feixe de reacções físico-químicas dispersas por diversas zonas cerebrais. É o cérebro que dá continuidade às nossas ideias, emoções e experiências, contando-nos a “história que somos” e não a do Eu que a vive, como por vezes fantasiamos como vestígio do nosso pensamento mágico (como defende Alex).
Ego é o percurso desconcertante de Alex, um neurologista que não acredita na ideia de identidade - "nem essência, nem ego, nem Eu"- mas que, depois de uma experiência que corre mal, "uma viagem num teletransporte tipo Star Trek", se vê privado da vida com a mulher e acaba a questionar tudo. Alice tem um tumor no cérebro ,"Um glioma borboleta! Soou como uma coisa maravilhosa." que vai começar a afectá-la e a fazê-la perder mesmo a consciência da identidade do marido. A chave do problema é discutida pelo pai de Alice, Derek, que trabalha com Alex nas mesmas experiências científicas. O que começa por ser uma peça teórica sobre o cérebro acaba numa angustiante viagem emotiva. Se isso existe, esta peça é um “poema neurológico” , como o poema de Emily Dickinson com que Alex se declarou a Alice.
Um texto muito interessante, muito bem interpretado e com uma encenação clara e concisa no desejo de criar um espectáculo inteligente, capaz de nos espevitar o cérebro (ou mente) . A não perder.
2 comentários:
Muito bom! E a do Pirandello também. Vou seguir com atenção as sugestões deste blogue acerca de teatro.
Gostei também disto: "exercitar o cérebro (ou mente)"
:-)
Olá Soledade :)
Como falámos na altura, estas são peças que certamente te agradariam.
Também esteve em cena bem perto de nós, no C.C.C. de Caldas da Rainha, “O deus da matança” que vi no Verão e de que também te falei. Mas como a abordagem era mais psicológica e sociológica, nem me atrevi a divulgar aqui…
Continuação de “boas cenas” ;)
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