23.6.11

Os animais não têm estatuto moral



















«Pessoas específicas estabeleceram por vezes relações muito boas com animais específicos: o cavaleiro e o cavalo, o homem e o cão, a cantora de ópera e o gato. Mas isso não é um contrato social que se estenda a todos os animais, nem mesmo a todos os membros de alguma espécie. Estamos perante casos especiais, que dependem das atitudes e dos interesses de certas pessoas específicas.
E, além de os animais não terem grande capacidade para a reciprocidade geral, nós não temos nenhum motivo para a procurar. A maior parte de nós não quer realmente estabelecer ‘boas relações’ com o típico boi, estamos mais interessados no bife ou no hambúrguer para o qual este poderá contribuir num futuro não muito distante. E não precisamos de fazer um contrato social com a vaca, já que estamos de longe numa posição superior. Dados os seus modos bovinos e o seu fraco intelecto, as vacas podem proporcionar-nos o que queremos delas sem que tenhamos de fazer concessões gerais daquelas que os moralistas dos animais reivindicam. Por que razão haveremos então de nos importar? O leitor sentirá alguma ‘coisa’ pela moralidade, terá um interesse especial a seu respeito? Mas os interesses pessoais não importam para efeitos morais. Uma pessoa será amigável para uma vaca, e não haverá mal nenhum nisso; outra ordenhará a besta e depois irá comê-la. As pessoas são diferentes. A questão, então, é a seguinte: por que razão aqueles que querem comer vacas terão de se submeter às indicações ‘morais’ pessoais daqueles que querem torná-las membros encartados da república moral?»





Jan Narvesson, em Moralidade e Animais; Excerto de ensaio incluído em Os Animais Têm Direitos? Perspectivas e Argumentos, organização e tradução de Pedro Galvão, Lisboa, Dinalivro, 2010, págs. 85 e 86. (Já aqui divulgado.)

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