Existir, para Descartes, não é uma consequência do pensamento: é uma condição.
Uma coisa que pensa é um ser pensante. Inevitável será duvidar da existência de um corpo, pois esse é um conhecimento a posteriori e facilmente podemos ser iludidos. Mas a certeza do pensamento é clara e distinta e, por isso, inteiramente verdadeira; de uma forma evidente podemos concluir que existimos porque pensamos, que eu “PENSO, LOGO EXISTO”.
O pensamento toma-se como sendo o reflexo de si mesmo e de todas as coisas exteriores a si. O cogito provém do sujeito que reflecte sobre o seu próprio carácter existencial através do “eu pensante”. A substância onde o pensamento se aloja é a própria existência, pois a essência do Homem é reflectir-se a si e ao mundo exterior, como se fôssemos condenados, desde sempre e para sempre, a nada mais que isso.
De facto, Descartes sempre assegurou que o cogito é uma crença básica e auto-justificada. No entanto, não podemos negar que a presença de uma conjunção conclusiva (logo) nos alicie a considerar que a crença básica de Descartes é, afinal, um argumento ou inferência.
Mas se Descartes defendesse que o cogito não é nenhum argumento ou inferência isso não significaria que existem duas crenças básicas. Aliás, tal acontecimento é impossível, pois o “Penso”, embora seja algo que sabemos ser indubitavelmente verdadeiro, não se pode desligar do “Existo”, até porque esta última proposição carece da força da primeira para ser suficientemente clara e evidente. Ora, será que daqui se segue que “Penso” é a crença básica e “Existo” a inferência que se extrai do pensamento? É que, como qualquer homem, Descartes era falível, e podia perfeitamente estar enganado ao afirmar que o cogito era uma crença. A meu ver, este não será o caso, pelos motivos que passarei, desde já, a expor.
A relação entre pensar, ser e existir é de tal forma vincada, que dificilmente as desligamos: existir sem pensar acaba por nem ser existir verdadeiramente, e pensar sem existir é incongruente; ser, por sua vez, é o meio-termo (PENSO, logo SOU coisa pensante, logo EXISTO como coisa pensante).
Uma crença básica é toda aquela que não decorre de nenhuma inferência, se justifica a si mesma e é verdadeira em qualquer circunstância, um pouco como as crenças primitivas e a priori. Neste tipo de crenças, não é preciso o apoio de qualquer tipo de argumento para se saber alguma coisa. Ilustremos com um exemplo: da mesma forma que “um quadrado é rectângulo, logo não pode ser redondo” é uma crença básica, também o cogito o é. Aliás, se fosse um argumento seria, claramente, falacioso, pois consistiria numa petição de princípio, já que a única razão para uma figura geométrica ser redonda é não ser rectangular (ou não ter outro ângulo qualquer). E, apesar de esta ser uma crença básica, também ali observamos uma conjunção conclusiva.
Assim sendo, se a única razão para existir é pensar, tomar o cogito como argumento seria incorrer numa falácia. Esta é uma crença básica e a priori, um conhecimento primitivo que não carece de qualquer justificação, daí ser capaz de bloquear o argumento da regressão infinita da justificação exactamente devido ao facto de se auto-justificar.
Como se pode observar, Descartes cumpriu perfeitamente o propósito de encontrar uma crença básica e primitiva que sustentasse todo o edifício do saber e, note-se, não um argumento nem duas crenças, mas uma só crença: cogito, ergo sum.
Uma coisa que pensa é um ser pensante. Inevitável será duvidar da existência de um corpo, pois esse é um conhecimento a posteriori e facilmente podemos ser iludidos. Mas a certeza do pensamento é clara e distinta e, por isso, inteiramente verdadeira; de uma forma evidente podemos concluir que existimos porque pensamos, que eu “PENSO, LOGO EXISTO”.
O pensamento toma-se como sendo o reflexo de si mesmo e de todas as coisas exteriores a si. O cogito provém do sujeito que reflecte sobre o seu próprio carácter existencial através do “eu pensante”. A substância onde o pensamento se aloja é a própria existência, pois a essência do Homem é reflectir-se a si e ao mundo exterior, como se fôssemos condenados, desde sempre e para sempre, a nada mais que isso.
De facto, Descartes sempre assegurou que o cogito é uma crença básica e auto-justificada. No entanto, não podemos negar que a presença de uma conjunção conclusiva (logo) nos alicie a considerar que a crença básica de Descartes é, afinal, um argumento ou inferência.
Mas se Descartes defendesse que o cogito não é nenhum argumento ou inferência isso não significaria que existem duas crenças básicas. Aliás, tal acontecimento é impossível, pois o “Penso”, embora seja algo que sabemos ser indubitavelmente verdadeiro, não se pode desligar do “Existo”, até porque esta última proposição carece da força da primeira para ser suficientemente clara e evidente. Ora, será que daqui se segue que “Penso” é a crença básica e “Existo” a inferência que se extrai do pensamento? É que, como qualquer homem, Descartes era falível, e podia perfeitamente estar enganado ao afirmar que o cogito era uma crença. A meu ver, este não será o caso, pelos motivos que passarei, desde já, a expor.
A relação entre pensar, ser e existir é de tal forma vincada, que dificilmente as desligamos: existir sem pensar acaba por nem ser existir verdadeiramente, e pensar sem existir é incongruente; ser, por sua vez, é o meio-termo (PENSO, logo SOU coisa pensante, logo EXISTO como coisa pensante).
Uma crença básica é toda aquela que não decorre de nenhuma inferência, se justifica a si mesma e é verdadeira em qualquer circunstância, um pouco como as crenças primitivas e a priori. Neste tipo de crenças, não é preciso o apoio de qualquer tipo de argumento para se saber alguma coisa. Ilustremos com um exemplo: da mesma forma que “um quadrado é rectângulo, logo não pode ser redondo” é uma crença básica, também o cogito o é. Aliás, se fosse um argumento seria, claramente, falacioso, pois consistiria numa petição de princípio, já que a única razão para uma figura geométrica ser redonda é não ser rectangular (ou não ter outro ângulo qualquer). E, apesar de esta ser uma crença básica, também ali observamos uma conjunção conclusiva.
Assim sendo, se a única razão para existir é pensar, tomar o cogito como argumento seria incorrer numa falácia. Esta é uma crença básica e a priori, um conhecimento primitivo que não carece de qualquer justificação, daí ser capaz de bloquear o argumento da regressão infinita da justificação exactamente devido ao facto de se auto-justificar.
Como se pode observar, Descartes cumpriu perfeitamente o propósito de encontrar uma crença básica e primitiva que sustentasse todo o edifício do saber e, note-se, não um argumento nem duas crenças, mas uma só crença: cogito, ergo sum.
Imagem: Morning Sun por Edward Hopper
Ana Luísa - 11.º B
7 comentários:
Olá Ana Luisa,
Gostei do texto de modo geral, mas há uma passagem que gostaria de realçar:
" A substância onde o pensamento se aloja é a própria existência, pois a essência do Homem é reflectir-se a si e ao mundo exterior,..."
Esta ideia do pensamento como espelho, como eu refector do mundo, é muito interessante e foi uma constante no pensamento de muitos filósofos no séc. XX, os chamados pós-modernos. De uma outra forma, é também uma ideia omnipresente na ciência.
Seria uma ideia interessante para desenvolveres num post, que achas?
Obrigada pela participação.
Cump. filosóficos
Graça
Boa noite,
A ideia do pensamento como espelho anotei-a algures numa aula de Filosofia, mas parece-me uma boa sugestão desenvolvê-la um pouco mais.
Quiçá nestas férias!
Graça, a propósito da conversa de há bocado e dessa alusão aos pós-modernos, ofereço-te uma pérola do pensamento pós-moderno e pós-estruturalista. Trata-se de uma frase de Foucault na sequência da sua "arqueologia do saber" e do estudo dos fundamentos da ciência na Idade Moderna.
«O grande espelho calmo no fundo do qual as coisas se miravam e projectavam umas nas outras as suas imagens é, na realidade, rumorejante de palavras. [...] o mundo pode comparar-se a um homem que fala...» (M. Foucault, As palavras e as coisas)
Será que a realidade que o ser humano representa e reflecte no espelho da sua consciência é apenas um rumorejar de palavras? Há muito tempo que vivi seduzido pela ideia de que é! :)
Até amanhã
Olá Valter,
Gostei da "pérola" desenterrada no baú, já me tinha esquecido desse livro que, além da fruição estética (agradável), me presenteou com algumas dores de cabeça fruto do esforço para ajustar os meus neurónios aos do professor.
Quero retribuir a oferta, desta feita a pérola é de Deleuze e ofereço-ta porque não gosto dela lol :-):
"Um verdadeiro filósofo nunca discute,(...) cada filósofo cria os seus conceitos para resolver os seus problemas, podendo ser colocados outros problemas mas nunca discutir as soluções..."
Esta desvalorização da filosofia enquanto actividade, é anti- iluminista e muito perigosa. Aliás o anti-iluminismo é, a meu ver um dos seus piores defeitos, mas infelizmente não é o único.
"Será que a realidade que o ser humano representa e reflecte no espelho da sua consciência é apenas um rumorejar de palavras? Há muito tempo que vivi seduzido pela ideia de que é! :)
Eu quero crer que a realidade é algo mais que um rumorejar de palavras, penso que há realidades independentes do sujeito nomeadamente realidades abstractas, e confio na razão objectiva para as compreender.
cont.
Cont.
Penso que a crítica dos pós-modernos à razão é, em parte, estimulante, mas exagerada. Da suspeita da razão absoluta passa-se sem mais, ao relativismo absoluto da razão. Isto tudo ironicamente usando a razão. Razão em que tudo vale, em que tudo está ao mesmo nível. Recusando a ditadura da razão absoluta, impondo a ditadura da razão subjectiva.
Esta é uma das faces do monstro pós-modernaço do qual não nos veremos livres tão cedo. É difícil de combater porque recusa o combate, em nome de uma pretensa superioridade bacoca e pedante. Freud talvez pudesse explicar esta fixação narcísica, não fosse a impossibilidade histórica.
Na verdade penso que o pós-modernismo (aliás uma designação pouco adequada) tem apenas interesse ao nível da estética.
Infelizmente é uma filosofia que prolifera, qual erva daninha, em todos os domínios da vida.
Valter,
Em resposta à nossa conversa, a citação de Deleuze, encontrei-a numa recensão feita por Aires Almeida na Crítica, sobre um livro de Jacques Bouveresse, "O filósofo e o Real".
Neste livro, Bouveresse faz uma crítica demolidora à filosofia francesa da segunda metade do séc. XX.
Sou um leigo, mas percebo que a pena de morte ja existe, e que os criminosos sao frutos extremos de nossa sociedade onde a propaganda de matar torna-se facil, para qualquer criança, eu gostaria que em todos os filmes onde ha morte, mostrassem tambem os velorios e o choro dos parentes das vitimas, fossem elas de boa ou má indole..só ai estariamos realmente educando, pois as nossas crianças devem perceber que matar e facil mas dificil e assistir ao velorio. É muito facil para a sociedade condemar a morte o fruto podre que ela mesma pariu, começaremos com os criminosos, depois os parias, o aleijados e finalmente os pobres que ja tem pena de morte, violenta ou lentamente por inaniçao...
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