Em 2002, a Unesco definiu a terceira quinta-feira do mês de novembro para se assinalar o Dia Mundial da Filosofia, a fim de valorizar a importância do pensamento crítico e dialógico numa sociedade cada vez mais global. Este ano, comemora-se a 17 de novembro o Dia Mundial da Filosofia e, por isso, este post pretende, mais do que comemorar o que quer que seja, ser um incentivo ao filosofar.
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Desafio:
Considerando que um enigma filosófico pode servir de alimento são a uma mente sedenta pelo saber, lê o texto que apresentamos, extraído da obra de Peter Cave, Duas vidas valem mais que uma?, que tem como principal objetivo confrontar os leitores com 33 enigmas filosóficos, perante os quais nenhuma mente desperta fica indiferente.

- Posso servir-me?
Eis aqui algumas palavras, uma cortesia de John Audrey, sobre Thomas Hobbes, o filósofo político do século XVII. As pessoas costumam entusiasmar-se por Hobbes ao lê-las.
Ele foi muito caridoso (o melhor que a capacidade dele permite) para aqueles que eram
verdadeiros objetos da sua generosidade. Uma vez, lembro-me eu, ao passar na Strand,
um pobre velho enfermo pedia esmola. Ele [Thomas Hobbes], olhando-o com piedade e
compaixão, levou a mão ao bolso e deu-lhe seis centavos. Um clérigo que estava por perto
disse:
- Teria feito isto, se não fosse um mandamento de Cristo?
- Sim.
- Porquê?
- Porque eu fiquei condoído com a condição miserável do velho e agora a minha esmola, por lhe ter dado algum alívio, também me aliviou.
A moral que se tira muitas vezes dessas histórias é que nunca agimos sem ser no nosso próprio interesse. É verdade que por vezes ajudamos os outros, mas isto é só para aliviar o nosso desconforto em os ver no desconforto e é o que acaba por nos motivar.
A história que é sugerida é que todas as nossas ações, apesar das aparências dizerem o contrário, são na verdade centradas em nós, são egoístas. A mãe que corre para uma casa em chamas para salvar o seu filho é motivada pelo medo, medo de como se sentiria se deixasse o seu filho morrer. Os santos que sacrificam as suas vidas, a defenderem as suas crenças cristãs. são motivados pelo desejo de irem para o céu e não para o inferno, depois de morrerem. Os ateus que, por dever, se oferecem como voluntários para ajudar os sem-abrigo, na verdade, apenas querem sentir-se bem consigo mesmos e talvez impressionar os vizinhos.
A última ponderação, se nos atrevermos a desafiar o acima exposto, é que quando executamos qualquer ação, temos de ter alguma motivação - e isso quer dizer que, de alguma forma, queremos fazê-lo e assim agimos para satisfazer esse querer. Mas se estivermos a fazer alguma coisa para satisfazermos os nossos quereres, então agimos de modo egoísta. Esse é o argumento genérico. O que nós queremos pode não coincidir com os nossos próprios interesses, por isso o raciocínio precisa de falar sobre como agimos de acordo com o que queremos ou o que achamos que é o nosso próprio interesse. (Peter Cave, Duas vidas valem mais que uma?)
Formulado de forma mais simples, o enigma filosófico transcrito exprime-se da seguinta forma: Será possível fazer alguma coisa, mesmo que seja de modo altruísta, que não seja por interesse próprio?
Deixa na caixa de comentários a tua posição, devidamente fundamentada. Vamos lá filosofar!