9.4.10

O valor moral de uma acção depende da intenção ou das consequências?

"De boas intenções está o inferno cheio"
"As boas intenções fazem as boas acções"

Provébios Populares

" [Suponha] o caso seguinte: alguém tem em seu poder um bem alheio que lhe foi confiado em depósito pelo seu dono, que entretanto faleceu sem que os seus herdeiros saibam nem possam vir a saber nunca desse depósito.

(...) O possuidor desse depósito, exactamente nessa altura, caiu na ruína total, vendo a sua família, mulher e filhos aflitos e cheios de privações, e sabe que ao apropriar-se do depósito poderia livrar-se de privações num abrir e fechar de olhos.
Além disso, suponhamos que o nosso homem é filantropo e caritativo, enquanto os herdeiros são ricos e egoístas, e de tal modo gastadores que, acrescentar o depósito à sua fortuna seria como atirá-lo directamente ao mar."

I. Kant, Sobre o lugar comum: isso pode ser correcto em teoria, mas não vale na prática, AK, VIII, 286-287 (texto adaptado)

Como se deveria actuar numa situação extrema como a colocada por Kant?
O que é que está em jogo na tomada de decisão do indivíduo que tem o depósito em seu poder? Se só ele (e o legítimo proprietário entretanto falecido) sabe da existência do dito depósito, por que não apropriar-se dele? A quem terá de prestar contas? Vivendo a sua família um momento difícil de privações, não terá ele mais razões para se apropriar do depósito e solucionar os seus problemas? Além disso sendo uma pessoa caritativa, se ficar com o dinheiro não contribuirá mais para a felicidade comum?
Haverá alguma razão para não ficar com o dinheiro e o entregar aos herdeiros? Qual a hipótese mais plausível?

2 comentários:

Margarida disse...

Entregamos o dinheiro como forma de honestidade ou ficamos com ele? É uma boa questão! A professora Graça já nos tinha proposto este problema. Se eu fosse o senhor, ficava com o dinheiro e ajudava a família!

Graça Silva disse...

Olá Margarida,
... Mas nesse caso estavas a apoderar-te de algo que não era teu.
Será que o facto de passarmos necessidades, nós e a nossa família, nos autoriza a ficar com aquilo que não é nosso?
...Mesmo que ninguém venha a sabê-lo e que nós saibamos aplicá-lo melhor que os legítimos donos?