1.7.10

Será a clonagem eticamente aceitável? (Dois)

Imagem do filme Avatar (2009) de James Cameron
A clonagem é aceitável dentro de certos limites
A clonagem humana apresenta duas possibilidades: a clonagem reprodutiva e a clonagem terapêutica. Neste ensaio iremos somente abordar e defender a primeira.
A clonagem reprodutiva baseia-se na reprodução integral de um ser a partir de outro já existente. Alguns cientistas consideram que este processo poderá resolver muitos problemas de infertilidade; pais que nunca conseguiram ter filhos poderão finalmente ter um, que seria pelo menos geneticamente igual a um dos progenitores.
Mas este assunto é problemático já que envolve a manipulação da vida humana. Quem é contra a clonagem reprodutiva afirma que não é eticamente aceitável na medida em que um clone enfrentaria muitos problemas e não seria ético nem justo “condená-lo” a uma vida nestas condições. Iremos procurar mostrar que estes argumentos não são muito plausíveis.
Uma das objecções à clonagem é que um clone teria problemas ligados à sua identidade. É certo que os clones seriam geneticamente iguais aos seus progenitores, no entanto também os gémeos verdadeiros possuem o mesmo ADN e não é por isso que estes têm crises existenciais. Se analisarmos o problema pelo lado psicológico, esta afirmação seria completamente falsa, pois a formação de uma pessoa não está só no seu ADN. O clone cresceria num ambiente diferente do seu progenitor, e ambos formariam identidades diferentes, teriam ideias diferentes e, por sua vez, seriam pessoas muito diferentes.

Outro argumento usado contra a clonagem reprodutiva é o facto de a clonagem criar relações familiares artificiais e atípicas. Primeiro, teremos de recusar a primeira parte do argumento. Considerar que o clone de um dos progenitores é menos filho do que um filho vulgar é uma ideia absurda. As relações de parentesco criam-se com base em relações afectivas e não em relações biológicas, os casos de adopção são um exemplo esclarecedor. Em relação à segunda parte temos de considerar que a família típica não é o único modelo possível. As famílias já são compostas por filhos de casamentos diferentes, filhos adoptados, filhos educados por pais homossexuais, crianças que resultam de inseminação artificial, pelo que a família chamada atípica é uma expressão demasiado ambígua, por isso pensamos que os clones não seriam tão difíceis de aceitar na sociedade, seriam como um filho que tem dois pais ou duas mães.
Outro forte argumento contra a clonagem humana está relacionado com o risco de instrumentalização. Na verdade temos de admitir que esse risco existe. Mas, a nosso ver, este problema poderia ser resolvido. Muitas crianças e mesmo adultos correm esse risco, por isso é que existem leis que as protegem. Pensamos, que este problema poderia ser resolvido com base na criação de leis e medidas de prevenção deste problema. Antes da legalização da clonagem, é preciso assegurar o direito de igualdade.
A ideia de que ao legalizarmos a clonagem humana, estaríamos a abrir caminho para a criação de grandes exércitos maléficos dispostos a destruir o mundo, é uma ideia absurda infelizmente veiculada por alguns filmes de ficção científica. Na verdade corremos sempre esse risco, temos o forte exemplo do holocausto, mas o mundo conseguiu travar Hitler e os seus seguidores. Temos muito mais a temer daqueles que têm mentes perversas e a manipulação é um risco que todos corremos.
Opositores defendem ainda que a clonagem é contra a natureza humana. Mas se nos orientássemos por este princípio, teríamos de rejeitar uma boa parte da medicina. Por exemplo, a reprodução in vitro teria de ser considerada inaceitável, pois também ela é uma forma de fazer aquilo que a natureza supostamente não deixa, ou seja, fazer com que pais inférteis possam ter os seus filhos. Além disso, este argumento é quase auto-refutante. Vejamos, é natural o homem pensar e raciocinar. Se é natural raciocinar, não será natural que o homem desenvolva métodos para melhorar a sua natureza e tentar tornar a vida mais agradável? Ora, se raciocinar é natural, então usar o raciocínio para melhorar a vida humana também é natural, pois é natural querer ter um filho. Logo, é natural criar clones.
Por fim, como último argumento contra à clonagem, defende-se que a técnica que permite criar clones tem como efeito indesejável a criação de muitos fetos defeituosos, pelo que a clonagem reprodutiva deve ser proibida. Este argumento é forte, ainda há muito a trabalhar nesta técnica e só depois de se ter a certeza que é praticamente infalível é que se deveria avançar com esta prática, sendo sempre os pais responsabilizados e esclarecidos acerca dos riscos que correm.
Concluindo, a clonagem reprodutiva deve ser aceite, embora dentro de certos parâmetros para evitar abusos. A técnica tem de ser segura, as pessoas têm de estar bem informadas sobre o que vão enfrentar, e nunca se deve permitir fazer um clone de alguém sem o seu consentimento.

Adriana Passarinho, Guilherme Passarinho e Mariana Agostinho
11.º D

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