4.7.11

Será o cepticismo radical defensável?


Em relação ao problema da possibilidade do conhecimento, o cepticismo radical é a posição segundo a qual o conhecimento não é possível. Trata-se de uma posição contra-intuitiva, já que todos nós estamos convencidos que sabemos alguma coisa. No entanto, os argumentos cépticos radicais parecem não deixar de constituir, até hoje, um desafio.
Porque nos parece implausível que o conhecimento não exista e porque precisamos de provar que é possível conhecer - de modo a validar todos os processos cognitivos científicos, bem como do senso comum - é de enorme relevância chegar a uma conclusão relativamente a esta questão. Assim, neste ensaio iremos defender que a perspectiva céptica radical é refutável.
Segundo a definição clássica de conhecimento, que podemos encontrar no diálogo Teeteto de Platão, o conhecimento é uma crença verdadeira justificada. Estabelecidas ficam, desde então, as condições do conhecimento válido, de cuja satisfação depende o valor de qualquer conhecimento produzido. É esta última condição que é questionada pelos cépticos radicais, de acordo com os quais, as justificações das nossas crenças são sempre falíveis.

Um dos argumentos dos cépticos é o das “Divergências de opinião”. Este argumento defende que, para todos os assuntos existem posições divergentes, mesmo entre peritos, o que torna óbvio que nenhuma das opiniões defendida está suficientemente justificada, pois não se consegue impor sobre as outras, mostrando a sua inadequação.
No entanto, o simples facto de existirem opiniões reconhecidamente mais válidas do que outras constitui uma prova que o conhecimento existe. Por outro lado, a existência de dúvidas pertinentes e consensuais constitui, de alguma forma, conhecimento.

Outro argumento apresentado pelos cépticos é o das “Ilusões e erros perceptivos”. Este argumento defende que nenhuma informação adquirida através da percepção é fiável, uma vez que os nossos sentidos criam imagens distorcidas da realidade ou mesmo, claramente, erradas.
Mas embora a percepção por vezes nos engane, nós conseguimos através do confronto entre os dados de diferentes sentidos emendar muitos desses erros perceptivos; por outro lado, os sentidos podem ter o seu testemunho corrigido pela razão, como nos propõe Hume, podendo assim tornar-se critérios adequados de verdade e falsidade, uma vez que a percepção não é a nossa única faculdade de conhecimento.

Por último, avaliemos o argumento da “Regressão Infinita da Justificação”. De acordo com os cépticos, como sempre que se tenta justificar uma crença se recorre a outra crença, ao justificar umas crenças a partir de outras, o processo de justificação conduz-nos, inevitavelmente, a uma regressão infinita da justificação. Pelo que, nenhuma crença está justificada.
Para refutar este argumento basear-nos-emos em duas perspectivas: a Perspectiva fundacionista, defendida por Descartes, segundo a qual existem crenças básicas que não precisam de ser justificadas, porque são autojustificadas e constituem elas próprias justificação de outras não básicas, constituindo, assim, um bloqueio à regressão infinita da justificação – como por exemplo o Cogito; a perspectiva coerentista defende que as nossas crenças se organizam de forma sistemática ou em rede, existindo entre elas uma relação de sustentação recíproca, entre as diversas crenças, num determinado domínio de conhecimento. Assim, cada crença está apoiada em muitas crenças, relativamente à verdade de uma delas e de todas do seu conjunto. Pelo que, a descoberta da falsidade de uma crença não provoca a falência de todo o sistema de crenças porque nenhuma delas sustenta todas as outras, antes todas sustentam todas. Esta concepção é, muito eficazmente, ilustrada pelo Barco de Neurath.
Finalmente, a tese do cepticismo é uma proposição auto-refutante, isto é, o facto de se afirmar que o conhecimento não é possível, constitui, por si só, o evidenciar de um conhecimento.
Podemos então concluir que o cepticismo radical é refutável, uma vez que para além dos vários argumentos apresentados a seu favor serem objectáveis, como vimos anteriormente, a própria tese céptica é auto-refutante, não sendo, por isso defensável.


Cátia Santos, Hugo Fernandes, Sofia Couto e Tiago Mateus 11ºB

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