28.1.12

Algumas ações não são egoístas


A compreensão efetiva de uma ação implica a compreensão dos motivos que justificam essa mesma ação. Assim sendo, será legítimo afirmar que todas as nossas ações são egoístas?
Não, algumas ações não são egoístas.
Aparentemente, um agente humano pode não ser motivado apenas pelo interesse pessoal, é capaz de realizar certas ações porque deseja obter algo que considera bom para os outros e porque acredita que realizar essas ações é o melhor meio de concretizar o seu desejo.
 Ora, consideramos que, em função daquilo que fazemos ou do bem que pretendemos atingir, podemos classificar algumas ações como egoístas, por só promoverem o nosso próprio bem, mas considerar outras altruístas por revelarem uma necessidade, do próprio sujeito, em promover o bem-estar de outros para além do seu.
Aqueles que defendem o egoísmo psicológico acreditam que, na verdade, não somos capazes de agir por motivos altruístas, isto é, de agir em função de uma preocupação genuína com os outros. A própria definição de egoísmo psicológico diz que cada um faz apenas o que julga ser mais vantajosos para si próprio. Assim, segundo os defensores do egoísmo psicológico, todas as nossas ações são egoístas porque, se agirmos livremente, então fazemos o que queremos, o que julgamos melhor para nós próprios e isso é uma inevitabilidade, porque é próprio da natureza da ação livre.
 Mesmo que seja verdade que, em todos os atos voluntários, as pessoas se limitam a fazer o que mais desejam, daí não se segue que todos esses atos sejam egoístas. Afinal, “se o João quer fazer algo que ajudará o seu amigo”, mesmo quando isso implica abdicar de alguns dos seus prazeres, isso é precisamente o que faz proceder de uma forma altruísta. O filósofo David Hume sugere que mesmo que sintamos prazer ao fazer bem aos outros isso não quer dizer que a expectativa de obter esse prazer tenha sido a causa da ação, pois o prazer pode ter sido apenas o efeito da ação.
 Já James Rachels defende que existem objeções fortes aos argumentos favoráveis ao egoísmo baseados nos desejos. Segundo este autor, o que está em causa é o tipo de desejos que as pessoas têm. Mesmo que fosse verdade que as pessoas só agem em função do que mais desejam, a diferença do que é desejado continuaria a distinguir a ação egoísta da altruísta. O egoísta só pode ter desejos egoístas e jamais se daria ao incómodo de “salvar leitões em sofrimento”, (como no episódio de Lincoln). O altruísta preocupa-se com os outros e tem por isso desejos altruístas mas não deixa de ser altruísta por agir em função deles.
Em suma, sabemos perfeitamente que há milhões de pessoas que sacrificam, de alguma maneira, o seu bem-estar para benefício dos outros; mesmo não conhecendo essas pessoas. Pelo que, nestas condições, quem pensa que “no fundo” todas as ações escondem um motivo egoísta tem de nos dar uma excelente razão para reconsiderarmos, as nossas convicções.
 Há, sem dúvida, razões para rejeitar o egoísmo psicológico, e uma delas é a falta de poder explicativo desta teoria, pois dispomos já de inúmeros dados que tornam razoável a convicção de que algumas pessoas se comportam, pelo menos algumas vezes, de forma altruísta. E é isto que se pretende defender quando se afirma que algumas ações são altruístas.
Raquel Batista, 10ºE

3 comentários:

ines b. disse...

muito bom raquel :)

cat ' sofia disse...

parabéns raquel (:

Inês Vicente disse...

Parabéns Raquel! :)