21.10.08

Sugestão de leitura




















Gilles Lipovetsky (Millau 24 de Setembro de 1944) é um filósofo francês, professor de filosofia da Universidade de Grenoble, autor obras como A Era do Vazio, O luxo eterno, O império do efémero, O crepúsculo do dever e, mais recentemente, A felicidade paradoxal.



Em O crepúsculo do dever, publicado em Portugal em 1994, procura compreender as mudanças de que é alvo a sociedade pós-moderna, marcada, segundo ele, pelo desinvestimento público, pela perda de sentido das grandes instituições morais, sociais e políticas, e por uma cultura aberta que caracteriza a regulação superficial das relações humanas.


A reflexão sobre as vivências actuais, no trabalho, no sexo, no desporto, na família, a filantropia mediática ou a consciência verde, são realizadas em pequenos capítulos, bem identificados no índice da obra, o que nos permite fáceis e breves consultas, como convêm ao zapper pós-moderno, numa escrita clara que expressa um pensamento que nunca se apresenta como peremptório.

“ (…) não existe outra utopia senão a moral, o século XXI será ético ou não será, de todo…
(…) Duas tendências antinómicas moldam as nossas sociedades. Uma incita aos prazeres imediatos, quer eles sejam consumistas, sexuais ou distractivos: sobrevaloriza a pornografia, droga, bulimia de objectos e de programas mediáticos, explosão do crédito e endividamento doméstico. (…) Em contrapartida a outra privilegia a gestão racional do tempo e do corpo, o profissionalismo a obsessão pela excelência e a qualidade (…)
(…) a cultura da felicidade light induz uma ansiedade crónica de massa mas faz desaparecer a culpabilidade moral (…) a consciência culpada torna-se mais temporária, a figura do zapper substitui a do pecador, a depressão, o vazio ou o stress é que nos caracterizam, não o abismo da má consciência mortificadora.
(… A era pós-moralista (…) deve reafirmar a primazia do respeito pelo homem, denunciar as armadilhas do moralismo, promover éticas inteligentes nas empresas, na relação com o ambiente, assentes em princípios humanistas de base, mas em consonância com as circunstâncias e as exigências de eficácia.
(…) Não sendo os homens nem melhores nem piores do que noutros tempos apostemos colectivamente na ciência e na formação, na razão pragmática e experimental (…) menos sublimes mas mais aptas, menos puras mas mais capazes de corrigir os diversos excessos ou indignidades das democracias. (…) As injustiças e as infâmias nunca desaparecerão: tudo o que podemos fazer é limitá-las, reagir mais inteligentemente, acelerar a operacionalização dos contra-fogos.”







6 comentários:

Graça Silva disse...

(… A era pós-moralista (…) deve reafirmar a primazia do respeito pelo homem, denunciar as armadilhas do moralismo, promover éticas inteligentes nas empresas, na relação com o ambiente, assentes em princípios humanistas de base, mas em consonância com as circunstâncias e as exigências de eficácia.

Grandes verdades!! vivemos numa época em que o respeito pelo homem tem de ser cultivado acima de tudo e apesar de tudo... sem esquecer as limitações de quem é apenas um suspiro no tempo, com as grandes limitações de uma vida que se evapora dia a dia. O desafio é não deixar que o nevoeiro nos tolde a visão da alma e possamos enxergar-nos.

Luísa Barreto disse...

Olá Graça! :)
Concordo ou talvez não…
Diria que vivemos numa época em que o respeito pelo homem deve ser cultivado com carácter de urgência, acima e apesar de tudo, esquecendo as limitações do tempo e da vida. E, então, o desafio será viver cada dia como se fosse o primeiro ou o último.

Graça Silva disse...

Olá Luísa!
Concordo contigo, quando me refiro às limitações da vida... faço-o no sentido da necessária consciencialização do presente que permanentemente nos escapa em direcção ao passado. Só então poderemos viver como se fosse a primeira vez... ou a última :)

Luísa Barreto disse...

Olá Graça!
Plenamente de acordo. A urgência decorre, exactamente, dessa fugacidade do presente. O problema parece estar na dificudade em encontrar o equilíbrio entre a ponderação/serenidade, que não pode ser confundida com inércia, e uma resposta atempada que não seja precipitada.
E, já agora, eu disse "primeiro ou último dia", a colega disse "viver como se fosse a primeira vez ...ou a última." Não é a mesma coisa...
Estás a insinuar uma nova questão? :)

Graça Silva disse...

Olá Luisa! obrigada pelo reparo, eu queria dizer "o primeiro ou último dia". :)

Luísa Barreto disse...

Olha que pena! :))))