9.4.09

Como poderemos justificar a nossa fé na indução?

É incontestável o papel que o raciocínio indutivo tem nas nossas vidas. Sem ele o nosso quotidiano tornar-se-ia impossível. Sabemos que, se estivermos à chuva, ficaremos molhados, se não estudarmos o suficiente, teremos dificuldades no teste…. As nossas vidas baseiam-se no facto de podermos fazer previsões fidedignas acerca do mundo e das consequências das nossas acções. No entanto, sabemos que o princípio da indução não é inteiramente fidedigno, já que a verdade das premissas não garante a verdade da conclusão. Para ilustrar este problema, Bertrand Russell usou o exemplo de uma galinha que acorda todas as manhãs pensando que, uma vez que foi alimentada no dia anterior sê-lo-á mais uma vez naquele dia. Um dia acorda e o camponês torce-lhe o pescoço.
Será que exemplos como este mostram a irracionalidade das nossas inferências indutivas? Que as nossas previsões sobre o futuro com base no passado não estão justificadas? Como planear o amanhã sem pressupor a sua existência?
Bertrand Russell pensa que, apesar de não estarem infalivelmente justificadas, há boas razões para confiar em inferências não dedutivas. A inferência a favor da melhor explicação ou abdução é disto um exemplo. Neste tipo de inferência, pondera-se a plausibilidade de uma hipótese em função do tipo de explicação que oferece. A melhor hipótese, a mais plausível é aquela que oferece a melhor explicação. Não há apenas uma conclusão possível, mas é razoável aceitar aquela que tem mais poder explicativo, assim: se encontramos fósseis de peixes ou conchas na serra dos Candeeiros, é razoável pensar que em tempos a serra esteve coberta pelo mar. Podemos pensar noutras hipóteses por exemplo que estas formações surgiram por acaso, ou que foram lá colocadas por terceiros para nos induzir aquela conclusão….
...Ora, apesar de não podermos excluir logicamente estas hipóteses, é razoável concluir que a serra já esteve coberta pelo mar e que este facto originou as ditas formações. Porque esta hipótese explica ainda outros factos geológicos já conhecidos acerca da mesma.
Imagem de Bertrand Russell retidada do Google
O que pensa o leitor?

2 comentários:

Beatriz Serrazina disse...

É certo que não podemos afirmar que o princípio da indução é fidedigno. Porém, parece-me que a resposta de Russell é acertada pois caso não confiássemos nas nossas induções a vida seria bem mais complicada.

Ora, imaginemos então que, apesar de testemunharmos que todas as manhãs o sol nasce, não poderíamos confiar nesta suposição e todas as noites nos iríamos deitar com receio que este fenómeno não acontecesse. Caso vivêssemos nesta desconfiança em relação a todos os aspectos da nossa vida que são baseados em inferências – e que são bastantes! – o nosso dia-a-dia seria repleto de sentimentos como medo, receio e muita incerteza.

Está incutido no ser humano esta confiança cega nas nossas induções, acreditamos que o sol vai nascer amanhã sem sequer questionar esta afirmação. Se ainda assim, vivemos com receio do futuro, imaginemos então que não confiávamos em factos básicos como este. O mundo seria um tremendo caos!

Parece-me então que efectivamente temos boas razões para confiar nas nossas inferências, mesmo que tal não seja infalivelmente justificado.

Graça Silva disse...

Olá Beatriz,
Obrigada pelo comentário.
Não há dúvida de que a indução, ainda que falível, é frutuosa. Permitiu-nos descobrir regularidades na natureza, nas quais se baseia o conhecimento científico. A importância da ciência é evidente. Há muitos indícios de que a nossa crença na indução é justificada. Por exemplo, obtivemos enquanto espécie, por um processo de selecção natural, uma tendência para fazer generalizações que prevêem com bastante exactidão o comportamento do mundo que nos rodeia. É certo que não está infalivelmente justificada, mas há tantas outras coisas que não estão infalivelmente justificadas, e não faz a menor diferença. Ou fará? :-)
cumprimentos
Graça