12.6.09

Será que a vida tem sentido?

Saber se a vida tem sentido é uma questão difícil de interpretar, tornando-se num tema "obscuro" e simultaneamente central relativamente à nossa existência. Quanto mais concentramos a nossa capacidade crítica nesta questão, mais consciência temos sobre a dificuldade da sua resposta. Provavelmente, desde o momento em que nascemos não questionamos se valerá a pena viver ou se algo importante resultará da nossa existência, aceitamos que o propósito da vida é simplesmente viver. No entanto, a necessidade de compreender o sentido da vida é profunda e universal, apontando qualidades da mente que são, possivelmente, fulcrais para a existência humana. Por esta razão, a questão que se levanta é importante, e devia ter uma resposta significativa. Quando procuramos o sentido de palavras recorremos à sua utilidade no contexto em que é inserida, porém, a vida não é um elemento num sistema de comunicação. Assim, a questão em causa, procura encontrar um objectivo e uma razão para a vida e investigar acerca do seu valor.
Para interpretar a questão do sentido da vida é importante compreender alguns conceitos base que ajudam à definição do problema em causa, tais como: finalidade e valor. Uma actividade só tem sentido se tiver uma finalidade que pode ser última ou instrumental. A primeira diz respeito a uma acção que não tem outro fim se não ela mesma. A segunda refere-se a algo que é realizado quando se tem outra coisa em vista. Por exemplo, podemos apanhar um comboio para nos dirigirmos à universidade, e nesse caso, a nossa viagem é uma finalidade instrumental. Contudo, se viajarmos de comboio apenas para satisfazer o nosso desejo, então, esta é uma finalidade última. O sentido das nossas actividades está ainda dependente do seu valor. Este pode ser intrínseco ou instrumental, dependendo se tem valor por si ou se tem valor em função de ser um meio para alcançar o que tem valor por si, respectivamente. Para além disto, pode distinguir-se valor subjectivo – se a pessoa envolvida na acção pensar que esta tem valor – e valor objectivo – se tiver realmente valor.
Assim, para que uma actividade tenha sentido tem que ter uma finalidade que por sua vez tem também que ter valor. No entanto, este sentido tanto pode ser objectivo (se tiver realmente sentido) como subjectivo (se quem desempenhar a acção pensar que esta tem sentido).
A questão do sentido da vida torna-se agora mais clara. No entanto, como a reposta é de difícil alcance surgiram algumas perspectivas que pretendiam solucionar o problema. Por um lado, há aqueles que defendem que a vida não tem sentido uma vez que somos mortais: edificamos algo durante todo o nosso percurso para que, no fim, tudo se desvaneça. Para estes, o facto de sermos efémeros destrói os objectivos que propomos para a nossa vida. Há ainda quem defenda que a vida não tem sentido apesar de não considerarem o aspecto de sermos mortais, como é o caso de Camus. Nesta perspectiva, é considerado o facto do universo ser inexpressivo: a nível cósmico, o mundo/a nossa existência pode ser indiferente. Assim, surge um conflito entre o que exigimos/pressupomos acerca do nosso lugar no universo e a realidade da situação, tornando, para alguns filósofos, a vida absurda.
No entanto, praticamos acções no nosso quotidiano que não têm em conta qualquer significado cósmico. Parece-nos ainda que a mortalidade não tira o sentido à vida. Há, de facto, quem considere que a vida tem sentido se existir um ser divino que assegure a nossa felicidade plena após a morte e que só este ser é responsável pelo planeamento do aparecimento da vida no mundo. Aqui, a morte funciona como princípio e não como fim.
Para além deste ponto de vista, surgiram duas perspectivas filosóficas que defendem também que a vida tem sentido. A perspectiva subjectivista defende que, para que a vida humana tenha sentido, basta que a pessoa lhe atribua um valor subjectivo, ou seja, basta que a própria pessoa se sinta feliz. A perspectiva objectivista, em oposição, afirma que uma vida tem sentido quando cultiva valores objectivos, isto é, uma vida que se entregue a projectos que procurem acrescentar algum valor ao mundo. Para esta perspectiva o valor objectivo é necessário, mas não exclui o valor subjectivo.
No entanto, ambas as perspectivas apresentam algumas objecções. De facto, o subjectivismo ao fazer coincidir a felicidade própria com o sentido da vida, cria algumas fortes incoerências. Na verdade, questionar se uma vida tem sentido é diferente de questionar se uma vida é ou não satisfatória. Para além disto não podemos considerar apenas o sentido subjectivo da vida, já que somos seres inseridos numa sociedade, fazendo parte de uma cadeia na qual somos, directa ou indirectamente, peças fundamentais, dada a importância que temos para “o outro” e que, consequentemente, estes têm para nós.
À semelhança da perspectiva anterior, também o objectivismo apresenta algumas contrariedades. A transitoriedade parece destruir o sentido da vida já que se tudo for transitório, os valores e as finalidades também o serão. No entanto, a objectividade não é o mesmo que a permanência: o sentido que essa vida teve no passado não pode ser destruído já que existiu objectivamente no passado, apesar de não existir no presente, respondem os defensores do objectivismo. A oposição ao objectivismo anteriormente exposta deixa antever uma outra crítica à mesma teoria: só uma vida imortal poderá impedir a destruição do sentido. No entanto, uma vida imortal parece também ser destituída de sentido. De facto, se prolongar uma mesma actividade ou conjunto de actividades torna-se monótono, fazê-lo eternamente destrói-lhes o sentido. Assim, alargar até ao infinito uma vida com sentido acabará na destruição do mesmo.
Em conclusão, e após a apresentação das teorias filosóficas que procuram responder a este problema, confirmamos a dificuldade de chegar a uma resposta que englobe todos os aspectos que consideramos relevantes, quando se discute o problema do sentido da vida. De facto, os exemplos de vidas que consideramos, indubitavelmente, com sentido (ex. luta pela paz) são tanto subjectivamente valiosas como dignas de louvor se julgados segundo aspectos exteriores aos próprios agentes. As vidas que nos são descritas como tendo sentido (apesar do conceito poder ser discutível, como se viu) são vidas nas quais há uma estrita relação entre os interesses reais de uma pessoa e o conjunto de coisas que são dignas de interesse. O sentido surge quando a atracção subjectiva se relaciona com o que objectivamente desperta o interesse.
Para além disto, consideramos que o sentido da vida não está no alcançar o objectivo a que nos propomos em determinado momento, mas sim no interesse e empenho que pomos na caminhada para o alcançar. O interesse será assim a justificação e o sentido para determinada actividade. Provavelmente seria assim que pensariam aqueles que, na antiguidade, construíram um grande edifício ao verem que o que resta hoje são escombros soterrados.
Consideramos ainda que o sentido da vida está no nosso interior mas isto não quer dizer que estejamos apenas à procura da felicidade própria. Na verdade sentimo-nos, muitas vezes, mais felizes por proporcionar a felicidade àqueles que nos rodeiam. Para além disto, concluímos que o sentido da vida está nos pormenores: o sorriso do filho é tudo para a mãe, uma carícia é a tranquilidade para o amante, uma mudança de frase é a evolução para o escritor, um passo é o triunfo do atleta. Assim, a análise das teorias e das respectivas objecções, em conjunto com a nossa própria opinião anteriormente exposta, revela que a perspectiva que surge como a mais coerente é a objectivista.
Imagens retiradas do Google: Caspar David Fiedrich, Viajante acima das nuvens e Apolo 8, Terra vista da Lua.
Catarina Marquez, Filipa Serrazina e Marta Carvalho
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