«O que dizemos para exprimir o absurdo das nossas vidas tem muitas vezes a ver com o espaço e o tempo: somos partículas minúsculas na vastidão infinita do universo; as nossas vidas são meros instantes até numa escala geológica, quanto mais numa escala cósmica; estaremos todos mortos em breve. Mas é claro que não pode ser qualquer destes factos evidentes que faz a vida ser absurda, se for absurda. Pois suponha-se que vivíamos para sempre; uma vida que é absurda se durar setenta anos não será infinitamente absurda se durar toda a eternidade? E se a nossas vidas são absurdas dado o nosso tamanho actual, por que seriam menos absurdas se ocupássemos todo o universo (ou por sermos maiores ou por o universo ser mais pequeno?)»
Um excerto do ensaio "O Absurdo", de Thomas Nagel
“Viver para quê? Ensaios sobre o sentido da vida”, Organização, tradução de textos e introdução de Desidério Murcho; Dinalivro, Lisboa, 2009.
«Quem não conhece a filosofia poderá pensar que procurar o sentido da vida é a tarefa central dos filósofos. Isto é historicamente falso. (…)
O leitor comum poderá igualmente esperar que os filósofos se pronunciem um pouco como gurus, declarando do alto da sua inacessível montanha qual é o sentido da vida. E a nós, meros mortais, restar-nos-ia então seguir tais oráculos ainda que não os compreendamos muito bem. (…)
A confusão a evitar é pensar que há uns valores esotéricos que precisam de ser cultivados para que a nossa vida tenha sentido. É uma resposta desse género que muitas pessoas esperam do filósofo, quando o encaram como um guru: subitamente ele dirá que o sentido da vida é cultivar feijões, cortar o cabelo rente ou assobiar música só às sextas-feiras. »
É desta forma clara e despretenciosa que Desidério Murcho faz a sua introdução a esta excelente selecção de reflexões acerca do sentido da vida. Um conjunto de ensaios, de filósofos actuais, nos quais se apresentam diferentes ideias, cuidadosamente fundamentadas. Os ensaios são curtos e a sua leitura acessível e agradável. Serão uma ajuda preciosa à preparação de possíveis trabalhos sobre este tema.
Índice dos ensaios:
O Sentido da Vida (1970) Richard Taylor
O Sentido da Vida (1957) Kurt Baier
Poderá o Propósito de Deus ser a Fonte do Sentido da Vida? (2000) Thaddeus Metz
O Absurdo (1971) Thomas Nagel
Felicidade e Sentido: Dois Aspectos da Vida Boa (1997) Susan Wolf
Despromoção e Sentido na Vida (2005) Neil Levy
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