21.6.10

A arte pode ser definida?

Esta questão é importante por consistir em averiguar se temos condições necessárias para podermos definir algo como arte. Se essas condições existirem, ainda que não suficientes, podem ajudar-nos a distinguir a arte daquilo que ela não é, evitando algumas confusões. Actualmente esta distinção é justificada já que há muitos objectos que são considerados arte e que aparentemente parecem objectos comuns.
Por considerarmos que nenhuma das teorias é satisfatória, defendemos que a arte não pode ser definida. Por isso vamos procurar avaliar três teorias que defendem o contrário, pela ordem em que surgem na História da Arte.
Uma destas teorias, defende que um objecto é arte se, e só se, imitar algo. Esta posição foi defendida por filósofos como Platão e Aristóteles e é a teoria mais intuitiva e "comum". Mas se reflectirmos um pouco, não podemos considerar a imitação uma condição necessária para algo ser arte. Por exemplo, a arte abstracta não imita seja o que for e a arte moderna no geral, não tem por objectivo imitar nada.
Há quem argumente que a imitação deve ser entendida como representação. Um objecto seria arte se procurasse representar algo e assim pudesse ser interpretado. Mas muitas pinturas abstractas são criadas para provocar em quem as vê um certo tipo de experiências visuais. Procuram apenas estimular a nossa percepção visual ou auditiva e não requerem qualquer interpretação. A música instrumental ou a arte óptica, não procuram representar nada. Por isso a teoria da representação também não é suficientemente abrangente já que, há contra-exemplos importantes que não podem deixar de ser notados.
Outra teoria defende que a arte é expressão de sentimentos. Esta teoria surgiu para procurar resolver os problemas da teoria anterior. A arte implicaria a autenticidade dos sentimentos do artista. No entanto, é verosímil dizer por exemplo, que uma dada pintura é ou não arte independentemente de sabermos o que o seu autor sentiu quando a criou. Além disso, não é necessário que os autores transmitam os seus sentimentos para a obra de arte. Um bom actor por exemplo, não tem de se envolver sentimentalmente com as personagens que representa. Tal como os versos de Fernando Pessoa sugerem: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.”
A última teoria é a teoria formalista. Considera que um objecto é arte se, e só se, tem forma significante. Foi defendida pelo filósofo da arte inglês Clive Bell. A unidade, o sentido de equilíbrio seriam assim características dos objectos que provocariam uma certa emoção estética. A forma significante seria assim independente do espectador e permitiria distinguir os objectos que são arte daqueles que o não são.
A objecção óbvia é que existem objectos de arte que, visualmente, não se distinguem de outros que não são considerados arte. Outra dificuldade está em explicar o que é, exactamente, uma forma significante. No entanto, para evitar a ideia anterior, Bell diz que uma pessoa consegue identificar um objecto com forma significante. Mas esta resposta não é esclarecedora, visto que é uma fuga às dificuldades postas pelo argumento e não adianta nada. Resta-nos o equilíbrio, mas este pode ser também partilhado por objectos que não são arte como por exemplo uma paisagem natural.
Assim sendo, a posição que defendemos é a de que a arte não pode ser definida. É um conceito em aberto uma vez que, as condições necessárias para algo ser arte são reajustáveis e corrigíveis ao longo do tempo como acabamos de ver. Isto quer dizer que para classificarmos algo como arte temos de analisar o contexto histórico e cultural em que surgem as obras e não parece haver nestas algo que todas partilhem e que possa distingui-las. Assim, qualquer tentativa de definir a arte será sempre redutora e limitadora.
Imagens: imagem encontrada no Google sem referência ao autor e Marcel Duchamp, A fonte, 1917
João Ribeiro, Luis Jacinto e Nuno Santo
10.º D

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