24.6.10

A clonagem reprodutiva é eticamente aceitável em seres humanos? (um)

Não há boas razões para aceitarmos a clonagem reprodutiva
Este trabalho tem como objectivo procurar uma resposta para a questão de saber se a clonagem para fins reprodutivos, é eticamente aceitável em seres humanos.
Ao falar de clonagem reprodutiva, estamos a falar de um processo que permite copiar indivíduos, sem recurso ao sexo, sendo estes clones ou cópias genéticas de outro, aquele que esteve na sua origem (a sua matriz). Para simplificar vamos apenas considerar a técnica de transferência nuclear, que consiste na junção de partes de duas células que podem ser extraídas de um organismo. Foi esta a técnica que esteve na origem da ovelha Dolly. No entanto apresenta alguns problemas, como iremos demonstrar.
Por norma, é atribuído aos seres humanos adultos o direito à autonomia reprodutiva e constituição de família. Ora este direito parece entrar em conflito com a proibição da clonagem com fins reprodutivos pois se os seres humanos adultos têm este direito, porque não “exercê-lo” através da clonagem?
Uma das objecções frequentemente apontadas é a identidade do clone. Este, ao ser geneticamente idêntico a outro, nunca chegaria a ter a sua própria identidade, o que poderia causar graves problemas. A resposta óbvia é que a identidade não é apenas genética, dois indivíduos geneticamente idênticos, como é o caso dos gémeos monozigóticos, apresentam personalidades e comportamentos distintos. A identidade depende de muitos outros factores.
No entanto, poderiam surgir problemas mais graves. Por exemplo, ser um clone de alguém indesejável ou demasiado popular por outras razões, carregando o pré-conceito associado à sua matriz. Isto implicaria uma instrumentalização inaceitável. Basta pensar na escravatura a que tantos seres humanos foram sujeitos.
O clone seria sempre um “escravo” da sua matriz ainda que fosse muito diferente dela, estaria sempre condicionado, pensemos por exemplo que muitos seres humanos foram escravizados tendo apenas em comum, a cor da pele.
O perigo de eugenia, é outro argumento igualmente forte para se rejeitar este tipo de clonagem. Entenda-se por eugenia, a tentativa de manipulação da reprodução, de forma a obter melhorias físicas ou psicológicas na população humana. Muitos defendem que a clonagem não tem que implicar este tipo de selecção, não estando essas duas coisas necessariamente ligadas. Mas o perigo de eugenia positiva, que consiste na escolha de características consideradas mais desejáveis, como a cor do cabelo ou dos olhos, aumenta com a clonagem. Pode dar-se o caso de, no futuro, toda a gente poder escolher filhos mais inteligentes, mais belos, de acordo com os estereótipos sociais do seu tempo. Usando a clonagem, podem criar-se pessoas “perfeitas”, podendo promover uma discriminação daqueles que não possuem essas características. Além disso, colocar-se-ia em perigo a diversidade genética, o que causaria problemas, nas gerações futuras, facilitando o aparecimento de doenças.
Além destas complicações, existe ainda um problema maior, que consiste nos custos humanos necessários para conseguir uma clonagem bem sucedida. No caso da ovelha Dolly, foram necessários quase trezentos clones, dos quais apenas cinco chegaram a nascer com vida, sendo que apenas Dolly sobreviveu. A partir deste exemplo, podemos ver quão dispendiosa é a clonagem e os seus efeitos colaterais - a criação de muitos clones defeituosos. Quem aprova a clonagem, defende que os embriões não têm estatuto moral, comparando a clonagem à fecundação in vitro, por esta técnica ter como consequência a criação de embriões excedentários. Mas no último caso os embriões nunca se chegam a desenvolver, sendo portanto casos diferentes.
Também é importante saber se estes clones defeituosos teriam qualquer estatuto moral, dignidade, ou se seriam considerados “dispensáveis”.
Concluímos assim que a clonagem humana com fins reprodutivos é um assunto demasiado problemático e delicado pois apesar de se dizer que não se deve travar o avanço da ciência, a verdade é que os riscos são demasiados. O risco de instrumentalização ou o perigo de eugenia, aliados aos altos custos humanos do processo, são razões suficientemente fortes para condicionar a ciência neste domínio, pelo menos por enquanto.
Imagens: Google
Luisa Sales, Dário Ferreira e Joana Santos
11.º E

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