23.1.10

Cidadania activa?

Viver em democracia atribui-nos muitos direitos, mas também inúmeras responsabilidades. É um sistema político que possibilita a liberdade e a igualdade e foi por isso que se travaram tantas batalhas para a conquistar. Para que a democracia seja realmente possível tem de existir um equilíbrio entre a vida pública e a vida privada dos cidadãos. Esta diz respeito apenas a cada um de nós, enquanto aquela representa o nosso papel na sociedade, é tão ou mais importante que a vida privada, uma vez que interfere com a vida de todos.
É comum que em países ocidentais como o nosso, em que o bem-estar está ao alcance de quase todos, a vida pública passe para segundo plano em relação à vida privada, uma vez que vai sendo assegurada pelos governantes, e apenas quando algo ameaça perturbar esse bem-estar particular é que exercemos o nosso direito a intervir na vida pública. Isto acontece porque temos tendência a acomodar-nos e a pensar que quem está no poder é que tem de assegurar o nosso bem-estar.
Ora sendo assim, a importância do espírito crítico em democracia torna-se quase nula e desnecessária, ao contrário do que deveria ser. É vulgar vermos as pessoas a dizerem mal dos seus governantes, mas no fundo essas mesmas pessoas têm medo das responsabilidades sociais, é sempre mais fácil ficar do outro lado a criticar.
Cada um de nós tem um papel importante a desempenhar. Aristóteles defendia mesmo que a vida pública era superior à privada, cada cidadão para se tornar plenamente homem, tinha o dever de participar na vida pública porque era dessa forma que servia o bem e a virtude; sendo necessário um uso responsável da retórica e da dialéctica enquanto capacidades de persuasão ao serviço do bem comum. A política era uma extensão da ética.
Para Desidério Murcho, há mudanças na forma como entendemos a vida pública e a privada. A forma como aquela é encarada pelos cidadãos está a tornar-se assustadora, uma vez que na generalidade dos casos apenas é vista como um meio para atingir o bem-estar na vida privada. Para ele, só nos lembramos e valorizamos os ideais democráticos quando o bem-estar particular está em causa, o que demonstra o nosso carácter individualista e o economicismo das nossas sociedades.
Os nossos antepassados lutaram e arriscaram a vida para que pudéssemos ser livres, e nós o que fazemos para nos mantermos livres?
Miguel Lameiras
11.º D

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