31.1.10

A perspectiva libertista sobre a acção

O libertismo é a corrente que defende, de modo mais radical, o livre-arbítrio e a responsabilidade do ser humano. Considera que a vontade nem sempre está causalmente determinada (determinismo) nem é aleatória (indeterminismo). Sugere que o agente tem o poder de interferir no curso normal das coisas pela sua capacidade racional e deliberativa. Admite dois tipos de causalidade, a natural que encontramos nos fenómenos físicos e no ser humano já que pertencemos também ao mundo natural como qualquer outro ser da Natureza e uma categoria especial de causalidade do agente (livre), segundo a qual os agentes iniciam sequências de acontecimentos, sem que esse desencadear seja causalmente determinado. O argumento principal é o seguinte:
Se temos livre-arbítrio, o determinismo radical é falso. Algumas das nossas acções são livres. Logo, o determinismo radical é falso.
A verdade da primeira premissa é óbvia e, para um libertista, a existência de alternativas bem como a sua avaliação, a ponderação, provam a solidez da segunda premissa. Por exemplo, escolhemos entre ir ver um jogo de futebol ou ler um livro. Quando decidimos entre um e outro curso de acção, o que sentimos? Que a nossa acção foi o desfecho de acontecimentos anteriores? Ou sentimos que podíamos ter agido de modo diferente? Acreditar na liberdade é uma experiência básica da vida.
Antes de tomarmos uma decisão avaliamos os prós e contras das eventuais opções que fazemos, avaliamos as alternativas e as consequências daí resultantes. Escolhemos activamente o que fazer. Para os libertistas estas experiências introspectivas e deliberativas mostram que algumas das nossas acções são livremente escolhidas.
Há ainda um terceiro argumento a favor do libertismo, a responsabilidade moral. Louvamos por exemplo as pessoas que rumaram ao Haiti para ajudar as vítimas do terramoto e condenamos aqueles que se aproveitam do infortúnio comum para cometerem crimes, porquê? Faríamos estes juízos se fosse verdade que todas as nossas acções são o resultado de causas que escapam ao nosso controlo e dominam completamente a nossa vontade? Sentimentos como o remorso e o arrependimento continuariam a fazer sentido? E a luta para nos tornarmos moralmente melhores? Para nos tornarmos no tipo de pessoa que queremos ser?
Aceitar o libertismo parece implicar:
- A rejeição da dicotomia: «qualquer acontecimento é, ou o resultado necessário de causas prévias ou algo aleatório que simplesmente acontece e nada mais».
- A alteração do significado e amplitude do conceito de causa, para o libertista não há um só tipo de causas. Uma coisa é falar da causa dos terramotos, da queda dos corpos ou da chuva, outra bem diferente é falar das causas de acções realizadas por nós.
- Não podemos negar seriamente a existência de livre-arbítrio.
Qual dos argumentos lhe parece mais forte? Consegue pensar em objecções ao libertismo? Qual ou quais?
Imagem: Picasso, Mulheres correndo na praia

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