11.1.10

O problema do conhecimento

Em filmes como: Matrix, 13.º Andar ou Desafio Total, é explorada a possibilidade de vivermos uma realidade virtual induzida por um super-computador. As pessoas que estão na Matrix, por exemplo, são levadas a pensar que vivem num mundo físico com edifícios, condições atmosféricas e automóveis, mas esse mundo existe apenas na sua mente. (…)
Suponha que alguém sugere que somos essas pessoas (…), que a nossa «vida» não passa de uma ilusão. Isto parece absurdo. Mas como podemos provar que é falso? (…) O nosso conhecimento do mundo que nos rodeia baseia-se nas nossas experiências subjectivas – as sensações visuais, auditivas e tácteis que temos sempre que estamos acordados. Mas por que razão temos essas experiências? Eis duas explicações possíveis:
Primeira explicação. Temos experiências porque estamos a interagir com uma realidade que é mais ou menos correctamente representada no conteúdo dessas experiências. Vemos uma bola vermelha, por exemplo, porque existe uma bola vermelha diante dos nossos olhos. A luz da bola atinge os nossos olhos, iniciando uma série de acontecimentos no nosso sistema nervoso que culmina nos acontecimentos cerebrais que causam a experiência. O resultado de todo o processo é ficarmos com crenças verdadeiras sobre o mundo que nos rodeia. (…) Por vezes podemos ser enganados, mas isso não costuma acontecer.
Segunda explicação. Temos experiências porque somos um cérebro numa cuba. E o nosso cérebro está ligado a um computador que envia sinais que nos levam a ter essas experiências. Parece que vemos uma bola vermelha no espaço que está diante dos nossos olhos, mas essa bola não existe realmente. Esse espaço não existe. Na verdade não temos olhos, todo o processo tem como resultado sermos sistematicamente enganados.
Obviamente, todos acreditamos que a primeira explicação é correcta e que a segunda não passa de uma fantasia. Mas por que razão pensamos isto? A partir do momento em que distinguimos a) as nossas experiências e b) o mundo que nos rodeia, podemos perguntar como se relacionam. Como sabemos que as nossas experiências representam correctamente o mundo? Será que esta crença está justificada? Se está, qual é a justificação? (…)
James Rachels, Problemas da Filosofia (texto adaptado), Tradução de Pedro Galvão e Revisão de Aires Almeida, Ed. Gradiva, pág. 206-208

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