30.1.10

Determinismo e indeterminismo na acção

A ciência mostra-nos um mundo em que, para qualquer acontecimento (b) há uma causa (a). Esta é uma relação de dependência e derivação necessária, o efeito não existiria sem a causa. Por exemplo, a queda dos corpos deriva da força da gravidade. Se esta não actuasse, os corpos não cairiam. todos os acontecimentos dependem das suas causas de tal modo que, um acontecimento pode ser simultaneamente efeito e causa de outro efeito, como por exemplo a água a ferver, é efeito do calor e causa da evaporação.
Se todos os acontecimentos estão submetidos às leis naturais de carácter causal, então também a acção humana deve ser entendida à luz de causas necessárias e, se tudo o que fazemos é determinado por uma causa necessária, então tudo o que fazemos é inevitável, não poderíamos ter agido de outro modo. Podemos atribuir o estatuto de causa a uma infância traumatizante, às condições difíceis em que vivemos ou a uma doença mental e assim desculpabilizar as nossas acções. O determinismo radical torna as nossas acções inevitáveis, não poderíamos ter agido de outro modo e põe em causa a responsabilidade moral. Os argumentos podem ser formalizados do seguinte modo:
Primeiro, Se o ser humano está no mundo natural, então obedece às mesmas leis que os restantes fenómenos naturais. A ideia de acção livre é incompatível com o princípio da causalidade natural. Logo, não temos livre-arbítrio (vontade livre).
Segundo, Se a uma causa se segue um efeito, então o passado controla o futuro. Não podemos controlar o passado. Se não controlamos o passado, então também não controlamos o modo como o passado controla o presente ou o futuro. Logo, não podemos controlar nem o presente nem o futuro.
Mas nem todos os fenómenos da Natureza são explicados pelo determinismo radical. Os fenómenos microfísicos (quânticos) não são explicáveis por leis deterministas mas sobre eles actua o acaso, como acontece por exemplo no euromilhões. Dizemos que este tipo de fenómenos são indeterminados no sentido em que, dada uma causa (a) não podemos prever com exactidão um efeito (b).
Para o indeterminista as acções humanas também não são livres porque são o resultado imprevisível do acaso.
Assim como num sistema microfísico não podemos determinar o comportamento das partículas subatómicas porque sobre elas actua o acaso, também não podemos determinar as acções humanas, estas seriam imprevisíveis ou apenas prováveis.
Mas se o acaso actua sobre o ser humano e as suas acções são consequência daquele, então as acções não são livres, mas resultam de causas que actuam aleatoriamente e que o ser humano não consegue identificar nem dominar. Logo não há liberdade.
Ambos os casos implicam que, não há liberdade nem responsabilidade. Será assim?

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