O homem que está sentado a escrever neste momento sou eu. Eu sei que sou o homem que está neste momento a escrever este texto, logo como sei disso, posso dizer que existo. Esta conclusão torna-se demasiado precipitada... há que voltar atrás e reformular o argumento. Afinal, existe a possibilidade de eu não estar neste momento a escrever este texto. [Entretanto, o leitor ajeita os óculos, se os usar, ou então soergue-se da cadeira e julga que o mundo está de pernas para o ar]
Ter autonomia de espírito, ter consciência do mundo e fazer escolhas próprias é melhor, de longe, do que ser passivamente feliz em prejuízo destas coisas. (Anthony Grayling)
27.1.09
Será que este "post" é real?
O homem que está sentado a escrever neste momento sou eu. Eu sei que sou o homem que está neste momento a escrever este texto, logo como sei disso, posso dizer que existo. Esta conclusão torna-se demasiado precipitada... há que voltar atrás e reformular o argumento. Afinal, existe a possibilidade de eu não estar neste momento a escrever este texto. [Entretanto, o leitor ajeita os óculos, se os usar, ou então soergue-se da cadeira e julga que o mundo está de pernas para o ar]
26.1.09
O que é a Realidade? II
Para saber mais:
Elcio Abdalla, Teoria quântica da gravitação: Cordas e toria M, in Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 27, n. 1 p. 147 - 155, (2005)
Stephen Hawking, O Universo numa Casca de Noz.
Imagem Google - Vieira da Silva, Jogo de Xadrês
O que é a realidade? I
Esta questão tão abrangente, profunda e inquietante, foi-nos sugerida como tema de discussão. Não se trata de pretendermos encontrar uma resposta, o que seria impossível, mas tão só fornecer alguns elementos para reflexão. Assim, inciamos hoje um conjunto de pequenas notas que, esperamos, sejam «provocadoras» no sentido de suscitarem em nós o diálogo.
Pensa-se ter sido Parménides (séc. VI a. C.) o primeiro filósofo que, verificando não se poder confiar nos sentidos, sustentou que só é verdadeiramente, o que pode ser pensado.
Esta questão, pela sua abrangência prende-se com a noção de Cosmos, termo que foi pela primeira vez usado por Pitágoras, no mesmo século e segundo a mesma fonte, para designar a ordem e harmonia do sistema planetário e sideral.
24.1.09
Leituras filosóficas
22.1.09
Aforismos
« Para quê repetir os erros antigos quando há tantos erros novos a cometer?»
« A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para a frente.»
« A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo.»
17.1.09
Cérebro e Música
artigo sobre a relação cérebro-música aqui.
Leituras filosóficas
Têm sido propostos muitos argumentos que visam dar suporte à proposição que afirma que Deus existe. Até agora, parece que nenhum deles foi convincente. Pensa que é possível que um argumento que conclua ‘Deus existe’ venha a ser alguma vez convincente? Se um tal argumento não puder ser convincente, não podemos inferir que nenhum argumento que procure estabelecer a existência de Deus é convincente? Ou pensa que podemos vir a tomar conhecimento de um argumento que possa ser convincente?
RESPOSTA (de Allen Stairs):
Se por “convincente” quer dizer algo como “acima de qualquer dúvida”, a resposta é quase de certeza não. No entanto, isto não é algo exclusivo dos argumentos acerca da existência de Deus. A tese que afirma que Deus existe tem pelo menos em comum com as teses filosóficas em geral o facto de haver bastante margem de manobra para se argumentar a favor ou contra.
Por outro lado, se a questão é saber se existem argumentos para acreditar em Deus que alguém possa achar convincentes sem cair na irracionalidade, a resposta é quase de certeza sim. Mas, uma vez mais, isto não é algo exclusivo dos argumentos acerca da existência de Deus. Pense no que quer que seja em que os filósofos estejam em desacordo e verificará que alguns filósofos no seu perfeito juízo se deixam convencer por argumentos que outros não consideram persuasivos.
Pode alguém, razoavelmente, considerar um argumento persuasivo, mesmo tendo consciência de que este dá azo a objecções que ainda não obtiveram resposta? Se um padrão de razoabilidade é alcançável pelos seres humanos, a resposta é também sim. Em parte, isto deve-se ao facto de haver duas maneiras de encarar objecções. Uma, é pensar nelas como refutações; outra, como problemas a resolver: ‘se calhar esta questão que me atormenta vai ser fatal para as minhas convicções’; ou ‘se calhar, com algum jeito, eu ou outra pessoa, acabaremos por descobrir uma resposta convincente’. Pessoas razoáveis podem diferir, e diferem, sobre como encarar cada caso. Na verdade, o facto de os filósofos e outro género de teóricos diferirem quanto a isto é uma das coisas que os vai mantendo ocupados!
Carlos Marques e Helena Serrão
Texto publicado no Blog: Logosfera
Haverá filósofos em Portugal?
16.1.09
150 anos depois, estará o Darwinismo fora de prazo?
Desafios!
15.1.09
13.1.09
9.1.09
Poderá o corpo ser responsabilizado por um estado mental?
8.1.09
Retórica da fragilidade
Um dos mitos que é necessário banir do ensino secundário é o de que só é bom aluno a Filosofia aquele que melhor souber escrever. É natural que quando pretendemos expor as nossas ideias necessitamos de usar correctamente a língua na qual trabalhamos. Contudo, há quem confunda escrever bem e bem escrever. O escrever bem é uma competência fundamental que todos os alunos escolarizados deverão ter, mas bem escrever não será tão necessário, pelo menos no que toca à disciplina de Filosofia.Por escrever bem entendo a capacidade de usar a língua portuguesa de modo proficiente, ora redigindo ora apresentando oralmente um discurso organizado, coerente, sem infracções na ortografia, na sintáctica e na gramática. Bem escrever consiste na arte de redigir um discurso ornamentado por figuras de estilo e outros recursos estilísticos, revelando destreza no uso de metáforas e de metonímias, fazendo da língua um instrumento artístico e embelezador.
a) Conceitos – conceptualizar
Conceptualizar, problematizar, argumentar correspondem ao trabalho filosófico ele mesmo, e são estas capacidades que se exigem dos estudantes. Esta concepção de trabalho filosófico está longe de ser consensual, pois muitos filósofos recorrem a um estilo (bem escrever!) hermético para expressar as suas ideias, violando logo o princípio filosófico da clareza, da evidência, da inteligibilidade, que num dado período se pensou alcançar-se unicamente pela via lógica.
Há muitos filósofos que mais parecem escritores (e bons escritores) do que técnicos de produção de conhecimento. Há muitos filósofos que enveredam por um caminho obscuro na transmissão do seu conhecimento, tornando-se difícil distinguir os argumentos apresentados dos argumentos a refutar.
3.1.09
O problema da mente humana
Será possível penetrar nos pensamentos íntimos de uma outra pessoa? Terá a comunicação humana limites? Será a mente humana um programa semelhante ao dos computadores num organismo biológico? Qual é a relação entre mente e corpo?
Este livro alude a estas e outras questões relacionadas com a filosofia da mente, constituindo assim um exemplo de como a literatura pode abrilhantar os nossos pensamentos filosóficos e até mesmo servir de mote para a reflexão crítica.
Ralph Messenger (talvez não seja um mero acaso uma das personagens principais ter como apelido o nome de um programa que permite conversar com os outros) é um prestigiado professor da Universidade de Gloucester e director do Centro de Ciências Cognitivas Holt Belling da mesma Universidade, preocupado com a Inteligência Artificial e com todas as repercussões filosóficas que esta problemática encerra. Helen Reed é professora convidada de Literatura na mesma Universidade e escritora, que toma por verdadeira a premissa de que pensar a consciência só é possível a partir da literatura. De facto, quando estamos a ler ficção temos a percepção de que o autor nos está a comunicar os seus pensamentos mais secretos, aqueles que não chega a partilhar com mais ninguém, nem com a mulher, com os filhos ou com os gatos.
Ralph Messenger colige os seus pensamentos mais secretos, seguindo a noção de consciência como fluxo de William James, gravando tudo o que lhe ocorre ao pensamento consciente. Helen Reed recolhe e guarda os seus pensamentos num diário. Messenger está interessado em trocar os seus pensamentos com os de Helen, embora esta rejeite e encare tal investida como uma "perversão".
Os diálogos deste romance estão repletos de referências filosóficas e científicas sobre a mente e a cognição. Se pensar é o diálogo da alma consigo mesma, como defendeu Platão, dialogar é partilhar os pensamentos que ocorrem nessa conversa interior. Contudo, quem é que está agora a pensar no que hei-de escrever neste "post"? Será que os pensamentos que quero reproduzir nesta janela virtual são independentes dos dedos que pululam por este teclado? Qual é, afinal, a relação entre a mente, que permite que eu tenha pensamentos, e o corpo que tanta vezes me afasta do pensamento e me obriga a ver televisão de um modo desenfreado?
Os filósofos encaram estes problemas como um só: o problema da mente. Este pode ser formulado do seguinte modo: será a mente independente do corpo? As respostas a este problema aparecem agrupadas em duas categorias: 1) dualismo, que defende que a mente é independente do corpo e por isso lhe pode subsistir após a morte; 2) monismo, alegando que a mente é uma parte do corpo.
Neste livro, as referências a experiências mentais usadas por filósofos e cientistas (que se dedicam às ciências cognitivas, como a personagem do livro) são várias: o morcego de Thomas Nagel, para provar que os qualia (crenças, desejos) são inéfáveis, tornando-se impossível qualquer investigação científica sobre a consciência; o dilema do prisioneiro; o quarto chinês de John Searle (no manual do 11.º ano aparece mais informação sobre esta experiência mental); a cientista da cor de Frank Jackson ou o gato de Schrodinger; mediante os quais se ilustra a inconsistência de uma tese funcionalista da mente humana.
Por outro lado, a conotação religiosa de alma vai-se dissolvendo à medida que a investigação cognitiva aumenta. Helen parece preocupada, pois a crença na existência da alma humana levou-a a preservar na memória o marido que falecera há uns meses, acontecimento que a reaproximou da religião católica. A mentalidade evolucionista (ou materialista) de Messenger entra em rota de colisão com a mentalidade religiosa de Helen, embora isso não sirva para reprimir o desejo de se apaixonarem um pelo outro.
Trespassado pelo humor inteligente, a que Lodge já nos habituou noutros livros, bem como pelo estilo claro e preciso, Pensamentos Secretos é um livro que se lê de um só fõlego, em que chegados à ultima página a única ideia que nos assalta é a de o reler.
Dos muitos diálogos interessantes que este romance contém, transcrevo um, no qual Messenger e Helen discutem sobre o problema central que dá título ao livro: os pensamentos secretos.
«-[...] Hoje em dia já são muito poucas as pessas inteligentes que acreditam na história contada pela religião, embora continuem a agarrar-se a ela e a procurar consolo em alguns dos seus conceitos, tais como a alma, a vida para além da morte, e por aí fora.
- Penso que é precisamente isso que o incomoda, não é? - diz Helen. - Que a maior parte das pessoas continue teimosamente a acreditar que existe um espírito dentro da máquina por mais que os cientistas e os filósofos lhes digam que não.
- Não me «incomoda» propriamente - diz Ralph.
- Incomoda, sim - diz Helen. - É como se estivesse apostado em eliminá-lo da face da terra. Que nem um inquisidor determinado a pôr fim às heresias.
- Só acho que não devemos confundir aquilo que gostaríamos que fosse com aquilo que realmente é - diz Ralph.
- Mas admite que temos pensamentos que são privados, secretos, conhecidos apenas de nós próprios.
- Sim, claro.
- Admite que a minha experiência deste momento, estar aqui refastelada na água quente a contemplar as estrelas, não é exactamente a mesma que a sua?
- Estou a ver aonde quer chegar - diz ele. - Está a dizer que existe algo que lhe pertence só a si, ou a mim, uma certa qualidade da experiência que é exclusivamente sua ou minha, que não pode ser descrita com objectividade nem explicada em termos puramente físicos. Aquilo a que poderíamos chamar um eu imaterial ou alma.
- Sim, penso que sim.
- Pois eu digo que continua a ser uma máquina. Uma máquina virtual dentro de uma máquina biológica.
- Então é tudo uma máquina?
- Tudo o que processa informação é, sim.
- Acho essa ideia aterradora.
Ele encolhe os ombros e sorri. - Você é uma máquina que foi programada pela cultura para não reconhecer que é uma máquina.»