Às
vezes ouvimos estas afirmações e pensamos que isto significa que, efetivamente,
cada um tem a sua opinião e que isso é um direito que lhe assiste. Mas pensamos
também que estas têm valor para os próprios sujeitos que as emitem, mas não
podem ter um valor objetivo, válido para todos, porque as pessoas têm
sensibilidades, experiências e perspetivas diferentes. Sentimo-nos tentados a
concordar, não é? Mas será que é mesmo assim?
Imaginemos
que João e Luísa, ambos professores, discutem a sua profissão.
A
certa altura Luísa afirma:
Eu
quanto menos trabalho tiver, melhor. Por isso, vou buscar testes já feitos, por
mim, há anos, ou por outros professores, à internet; raramente leio um livro da
minha área e se não preparo as aulas, improviso. E não me tenho dado nada mal
com isso.
João
olha para a Luísa perplexo e pergunta: Mas como podes considerar que estás a
fazer um bom trabalho, sem te preparares convenientemente e sem realizares tu
própria a avaliação dos teus alunos?
Luísa:
Então, se os alunos tiverem má nota, mando-os fazer um ‘trabalhito’ e lá dá
para o 10. E não me considero má professora por isso.
João:
Eu não, Luísa. Nem consigo conceber que se trabalhe assim!
Eu
faço questão de me manter atualizado, por isso leio as obras mais recentes e
importantes sobre as minhas matérias. Elaboro cuidadosamente os meus próprios
testes de acordo com as caraterísticas dos alunos de cada turma e com o
trabalho que consegui realizar em cada uma delas. E, mesmo assim, penso sempre
que se tivesse melhores condições, ainda podia fazer melhor, ser melhor
professor. É algo que considero imprescindível em função do respeito que tenho
pelos meus alunos e pela minha profissão.
Luísa:
Enfim, são opiniões. Tu tens a tua e eu posso ter a minha. Ou não?
João:
Claro que podes. Mas parece-me que tens uma visão demasiado subjetivista. Se
ponderasses um pouco e tentasses estabelecer critérios rigorosos acerca do que é
relevante para avaliar o desempenho de um professor talvez tirasses uma
conclusão diferente.
Luísa:
Porquê? Achas que só a forma como tu trabalhas é que está certa e se os outros
não pensarem como tu estão forçosamente errados? Estás a ser intolerante, quase
um fundamentalista (disse ela, em ar trocista).
João:
Não penso isso. Mas penso que as pessoas, muitas
vezes, se recusam a dar ouvidos à razão, porque isso poderia exigir-lhes o
reconhecimento de erros que não querem reconhecer ou alterações de comportamentos
que não querem fazer, sendo por isso muito previsível que evitem ouvir as
razões dos outros.
Luísa: Pois, pois… tanta exigência e no último teste que fizeste
enganaste-te na numeração e na cotação das questões (e Luísa riu à gargalhada).
João: (um pouco envergonhado) É verdade. Mas isso não faz de mim
um mau professor…
Luísa: Ora, vês? És tal e qual como eu!
Concordas com a Luísa? Os argumentos do João
poderão constituir boas razões, não para dizer que um é o professor perfeito e
o outro um incompetente, mas que um deles é claramente melhor profissional?