16.6.23

O fim último da moralidade é a procura da felicidade?


 Antal Strohmayer;The Philosophers Garden Athens; 1834


“O fim último da moralidade é a procura da felicidade. Assim, o nosso dever fundamental é que as nossas ações possam promover tanto quanto possível a felicidade.”  

A afirmação apresentada faz referência ao problema da fundamentação da moral, e apresenta uma perspetiva utilitarista. O problema da fundamentação da moral é muito importante, visto que é discutir se haverá um critério capaz de indicar com clareza qual é, em cada caso, a ação moralmente correta e a ação moralmente incorreta, e isso pode alterar o nosso comportamento. Não concordo que o fim último da moralidade seja a procura da felicidade.

O utilitarismo, teoria apresentada por Stuart Mill, é consequencialista, ou seja, considera que uma ação é moralmente correta ou incorreta em função das suas consequências, se as consequências forem favoráveis a ação é moralmente correta, se forem desfavoráveis a ação é moralmente incorreta. Segundo o princípio da utilidade a ação é favorável na medida em que traz felicidade ou bem-estar às pessoas envolvidas e é desfavorável se traz infelicidade. Entende-se felicidade como o prazer e a ausência de dor. O cálculo desta deve ser feito de forma imparcial, ou seja, não deve ser só considerada a felicidade do agente, mas do maior número de pessoas possível envolvidas na situação. No entanto, impor ao agente que seja imparcial na consideração da sua felicidade (e das pessoas próximas) e das outras pessoas é errado e impossível de cumprir. Esta teoria parece justificar, também, ações que intuitivamente consideramos erradas, pois desrespeitam os direitos de algumas pessoas, sendo que não é por maximizarem a felicidade de um elevado número de pessoas que a ação vai passar a ser correta. Outra objeção a esta teoria é a dificuldade de cálculo, visto que nos podemos enganar a calcular as consequências de uma ação, podemos considerar benéficas ações que afinal são prejudiciais e vice-versa. No meu ponto de vista, apesar do utilitarismo ter alguns aspetos que são corretos, esta teoria apresenta muitas falhas e não acho que esteja bem formulada.

Outra teoria estudada para tentar responder a este problema foi a ética deontológica de Kant, esta ética ao contrário do utilitarismo defende que há valores morais que são absolutos, ou seja, há ações que são sempre corretas de realizar e há ações que são sempre erradas de realizar, independentemente das suas consequências. Segundo a ética deontológica deve ser a razão (capacidade de pensar) a dizer o que está certo e o que está errado, qualquer fator externo à razão não tem nenhum papel a desempenhar na moralidade. Os deveres desta teoria baseiam-se no imperativo categórico, um princípio que nos permite distinguir as ações moralmente erradas das ações moralmente certas, estudamos duas fórmulas, a fórmula da Lei Universal, que diz que devemos realizar apenas ações que decorram de máximas (regras) que possam ser universalizadas e a fórmula da Humanidade, que diz que não devemos realizar ações em que as pessoas sejam usadas como meros meios, porque o ser humano é um ser racional, e capaz de fazer escolhas, e por isso a sua autonomia deve ser respeitada. Esta teoria, no meu ponto de vista, responde parcialmente a este problema, no entanto encontra-se incompleta, deixa várias questões por responder e apresenta algumas falhas. É contraditória porque o imperativo categórico pode ser entendido como sendo consequencialista, o teste da fórmula da Lei Universal mostra-nos se as consequências de todos seguirem uma determinada ação, são boas ou más. Pode haver situações em que haja conflitos de dever, ou seja, em que situações em que há dois deveres incompatíveis, que são absolutos, em que o agente fica sem saber como agir. E é errado negar a importância moral dos sentimentos, visto que alguns destes são centrais na vida humana e têm valor moral, pelo que é errado retirá-los da esfera ética.

Concluindo, a questão apresentada faz referência ao problema da fundamentação da moral, e apresenta uma perspetiva utilitarista, com a qual eu não concordo, pelos motivos apresentados anteriormente. No meu ponto de vista a teoria que responde melhor ao problema, é a ética deontológica de Kant, no entanto acho que esta se encontra incompleta e com várias falhas. Por isso acho que esta resposta não chega para responder da melhor forma a este problema, pelo que temos de continuar a estudar, para encontrar um critério capaz de indicar com clareza qual é, em cada caso, a ação moralmente correta e a ação moralmente incorreta.

 Catarina Filipe 


O problema em causa é o problema da fundamentação da moral. Segundo a primeira afirmação o fim supremo da moralidade é a procura de felicidade, e a segunda diz que o nosso dever é que as nossas ações possam promover a maior felicidade possível. É uma opinião utilitarista que defende que as boas ações são as que provocam maior felicidade.

Eu não acho que seja claro qual das duas posições possíveis para abordar este problema seja a correta. Se olharmos para a ética de Kant, percebemos que esta em alguns casos faz sentido e noutros não. Esta diz que devemos agir apenas por boa-vontade não considerando as consequências que a nossa ação possa trazer. O problema é quando há o conflito de deveres. Como todos os deveres, em teoria, são absolutos não devia haver deveres de alguma forma superiores a outros, no entanto intuitivamente percebemos que não é o caso. Tomemos como exemplo uma situação em que um criminoso vem ter connosco e nos pergunta se por acaso sabemos a localização de outra pessoa. Nós, sabendo a localização, e sabendo que dizer a verdade é um dever absoluto deveríamos dizer a verdade. No entanto, possivelmente isso iria provocar a morte dessa pessoa. Salvar uma vida é também um dever absoluto, e creio que, neste caso a maioria das pessoas escolheria mentir e não estaria a agir por boa-vontade, pelo contrário estaria a pensar apenas nas consequências.

Agora, olhando para a ética de Mill, aquela expressada na afirmação, percebemos também que esta faz sentido. No geral parece-me a ética mais fiável e a que devemos seguir, sendo o maior problema o facto de não conseguirmos medir as consequências das nossas ações totalmente. Ao realizarmos uma ação podemos inicialmente achar que iremos proporcionar o máximo de felicidade quando na verdade escapou-nos algum detalhe. A felicidade não é uma grandeza que se meça facilmente, havendo apenas a diferença entre prazeres inferiores e superiores. Sendo assim, quando nos encontramos num dilema temos que escolher bem sem cometer erros, porque as consequências podem ser gravíssimas. No entanto, acho que se pode dizer que “errar é humano”, e que uma jurisdição ética perfeita é tão ou mais impossível que um humano perfeito. O mais importante não é que haja sempre a felicidade máxima, mas sim tentar que essa exista. É irracional pensar que tudo na vida vai correr perfeitamente bem sem problemas pelo caminho. O nosso dever é tentar responder a esses problemas com a nossa própria jurisdição e intuição de maneira que tentemos fazer com que haja felicidade máxima. E por isso sim, pode-se dizer que concordo com as afirmações.

José Maria Ferreira