18.11.09

Egoísmo Psicológico

Depois da aula de Filosofia, a Sandra e o Rogério dirigiram-se ao pátio para mais uma conversa de intervalo. Mas, desta vez, resolveram continuar a discussão que tiveram na aula.

Sandra: Não concordo nada com o egoísmo psicológico. Eu acho que não devemos ser egoístas! Que mania que os filósofos têm de nos pôr a cabeça às avessas.
Rogério: Espera... repara que o egoísmo psicológico não é uma teoria normativa, que diga como te deves comportar.
Sandra: Então?
Rogério: Apenas te diz como se explicam as acções humanas. Lembras-te de o professor dizer que uma acção se explica a partir da identificação dos desejos e das crenças?
Sandra: Lembro, claro. Os motivos de uma acção traduzem sempre crenças e desejos.
Rogério: Exacto. O egoísmo psicológico é uma teoria que pretende descrever as acções, de tal maneira que se torne possível descobrir os verdadeiros motivos que nos levaram a agir. E segundo esta teoria, o verdadeiro motivo é o interesse pessoal.
Sandra: Mas tu achas que esta teoria faz algum sentido?
Rogério: Para mim faz. Se eu ajudo uma pessoa, que até desconheço, com roupas, não achas que o faço porque quero? Quem é que deseja ajudar essa pessoa? Sou eu. Quem é que acredita que ao ajudar essa pessoa, pode ficar bem com a sua consciência? Sou eu. Portanto, eu agi em conveniência com o que considerei mais vantajoso para mim.
Sandra: Será que fui egoísta quando te passei os apontamentos das aulas quando partiste o braço?
Rogério: Hummm! Bem... que motivos te levaram realmente a passar-me os apontamentos?
Sandra: Achas que foi a pensar que quando eu partisse um braço, tu farias o mesmo? Preguiçoso como és! (gargalhadas) Claro que não! Fi-lo porque quis, é verdade, mas não porque tivesse um especial gozo em fazê-lo, ou acreditasse que me sentiria melhor comigo mesma. Sabes o que eu senti, na realidade? O braço dormente! Ora, nem tudo o que fazemos consiste numa busca de experiências aprazíveis.
Rogério: Okay! Mas que motivos te levaram a agir dessa maneira?
Sandra: Eu agi assim porque és meu amigo; fi-lo de um modo desinteressado.
Rogério: Nenhuma acção é desinteressada, porque agimos em função de determinados motivos.
Sandra: O principal motivo da minha acção foi ajudar-te, não podes por isso concluir que fui egoísta apenas porque o meu interesse era que tivesses os apontamentos das aulas. Talves devas repensar essa ideia de que basta querermos fazer alguma coisa para nos comportarmos de um modo egoísta.
Rogério: Queres convencer-me de que o egoísmo psicológico é pouco plausível?
Sandra: Posso apresentar-te o meu argumento. Esta teoria diz que todas as acções são egoístas. Ainda te lembras de como se negam proposições?
Rogério: Claro! Gostei muito dessa matéria. Essa proposição negada fica: algumas acções não são egoístas.
Sandra: Certíssimo. E é por aí que posso argumentar. Ora repara: supões que não se pode colocar no mesmo patamar o interesse pessoal e o bem dos outros. Ainda que admita que muitos dos actos que cometemos persigam o nosso interesse pessoal, é bem verdade que se encontrar um exemplo de uma acção em que há compatibilidade entre o interesse pessoal e uma preocupação com os outros, refuto o egoísmo psicológico. O exemplo que te dei há bocado, bem presente na dor que ainda tenho no pulso, mostra que quis ajudar-te (tive esse interesse), o qual é compatível com uma preocupação contigo.
Rogério: Tu estás a confundir as coisas, Sandra. No momento em que te preocupas comigo ou com outra pessoa qualquer, fá-lo com a convicção de que isso é mais vantajoso para ti. Em suma, a tua acção foi motivada pelo interesse em te sentires bem com o facto de eu estar bem.
Entretanto, tocou para a entrada. A Sandra ficou a pensar numa resposta para dar ao Rogério.
Concordas com a Sandra ou com o Rogério?

15 comentários:

Soledade disse...

O Rogério é um tipo retorcido, com uma visão cínica da vida.
Mas (notem a adversativa!) como hoje se celebra o Dia Mundial da Filosofia, deixo para todos os filósofos residentes um pensamento de Demócrito, citado, a propósito da efeméride, no Mil Folhas:

"Não procures tudo saber, se não queres tudo ignorar".

Valter Boita disse...

Olá Soledade! Agradecemos o seu comentário. :)
O Rogério aproxima-se da teoria defendida por alguns filósofos a favor do egoísmo filosófico, como Hobbes ou o estadista A. Lincoln.

A máxima de Demócrito vem a propósito da efeméride e da intenção da Unesco de a comemorar. Sendo Demócrito um opositor ao relativismo dos sofistas, torna-se bastante actual nos dias de hoje, em que a sociedade multicultural permanece incapaz de ultrapassar o relativismo moral.

A ignorância é tão importante como o saber ("douta ignorância"!). Se o prisioneiro da caverna platónica não saísse dela, também não a reconheceria.

Cumprimentos,
Valter

Graça Silva disse...

Olá Valter,
Há algo no argumento do egoísmo psicológico que não está bem... Parece que, seja qual for o argumento que apresentemos, o defensor do egoísmo parece sempre encontrar mais uma razão a favor da sua posição. Faz-me lembrar Popper a respeito da ciência e da pseudo-ciência. O egoísmo não parece falsificável. Cada uma das experiências apresentadas, são sempre interpretadas, ou são susceptíveis de serem interpretadas,como mais uma razão a favor do egoísmo. Que achas?
Graça

Sara Isabel disse...

Eu concordo com um Rogério por um lado, mas também não consigo arranjar argumentos para refutar a ideia da Sandra.
Quando ajudamos os outros é para se sentirmos bem connosco próprios muitas da vezes, logo estamos a ser egoístas.

João Lindo nº11 10ºD disse...

Eu concordo com o
Rogério mas creio que se a Sandra tivesse precebido a ideia transmitida logo de inicio não haveira mais conversa.
Mas de resto não tenho mais a acrescentar.

Valter Boita disse...

Obrigado pelos vossos comentários! Estou a ver que os argumentos do egoísmo psicológico, defendidos pelo Rogério, são convincentes. Mas sê-lo-ão na verdade?

Continuem a colaborar neste blogue e quem sabe a escrever um texto sobre este tema para ser publicado aqui.
Cumprimentos

Daniel Bento 10ºD nº7 disse...

Concordo com a Sandra.
Algumas das nossas acções não são motivadas pelo interesse pessoal, muitas delas pelos simples ajudar.

Diogo Neves Nº8 10ºD disse...

Concordo com a Sandra porque ela ao dizer que queria ajudá-lo porque o interesse dela era que ele ficasse com os apontamentos, ela estava a preocupar-se com o bem do Rogério, e provavelmente não queria ficar com algum aproveito para si,logo não é uma acção egoista.

Marco Silva 10ºD nº16 disse...

Concordo com a Sandra, pois a meu ver o egoísmo psicologico não faz qualquer sentido. A sandra deu os apontamentos ao João porque é sua amiga e não porque se sentia bem a ajudá-lo. Se ela fosse de facto egoísta não se iria sentir bem a ajudar um amigo, seria-lhe indiferente que o João perde-se ou não a matéria e não iria ficar com a consciencia pesada por não ter ajudado o João.

Marco Silva 10ºD nº16 disse...

Concordo com a Sandra, pois a meu ver o egoísmo psicologico não faz qualquer sentido. A sandra deu os apontamentos ao João porque é sua amiga e não porque se sentia bem a ajudá-lo. Se ela fosse de facto egoísta não se iria sentir bem a ajudar um amigo, seria-lhe indiferente.

Rita nº22 10ºD disse...

Concordo com a Sandra. porque ela ao emprestar os apontamentos ao colega, não faz aquilo para se orgulhar. mas sim porque quer ajudar o seu amigo.

Cristina 10ºD Nº6 disse...

Concordo com a Sandra,pois a meu ver nem todas as acções são de egoismo psicológico visto que imaginemos o rogério faltou a uma aula e a sandra como sua amiga deu-lhe os apontamentos.
O objectivo da sandra era ajudar o rogério como sua amiga e não "ficar conhecida" pela boa acção

Henrique Roberto 10ºD Nº11 disse...

Eu acho que a Sandra é que tem razão, pois o Rogério disse que ela teve um determinado proveito para si, mas isso não é verdade pois o verdadeiro interesse da Sandra era ajudar o Rogério, e na verdade ajudou-o, mas, o “sentir bem com si mesma” referido pelo Rogério, é uma mera consequência da acção da Sandra e por isso diz-se que foi um acto Altruísta. Se ela queria tirar um proveito para si próprio, ela estaria a ser egoísta. Por exemplo, a Sandra poderia ter o interesse de ficar bem vista na história, estando-se a marimbar para o João e assim estaria a ser egoísta. A Sandra estava a agir de forma interessada mas não de forma interesseira. Diz-se assim que a Sandra estava a ser Altruísta pois estava a procurar o bem para os outros mas não para si próprio. Pode-se assim afirmar que nem todas as acções são egoístas, invalidando assim a ideia de que “Todas as acções são egoístas”.

Henrique Roberto Nº11 10ºD disse...

Eu acho que a Sandra é que tem razão, pois o Rogério disse que ela teve um determinado proveito para si, mas isso não é verdade pois o verdadeiro interesse da Sandra era ajudar o Rogério, e na verdade ajudou-o, mas, o “sentir bem com si mesma” referido pelo Rogério, é uma mera consequência da acção e por isso diz-se que foi um acto Altruísta. Se ela queria tirar um proveito para si próprio, ela estaria a ser egoísta. Por exemplo, a Sandra poderia ter o interesse de ficar bem vista na história, estando-se a marimbar para o João e assim estaria a ser egoísta. A Sandra, no diálogo, estava a agir de forma interessada mas não de forma interesseira. Diz-se assim que a Sandra estava a ser Altruísta pois estava a procurar o bem para os outros mas não para si próprio. Pode-se assim afirmar que nem todas as acções são egoístas, invalidando assim a ideia de que “Todas as acções são egoístas”.

Alice Belo Nº3 10ºD disse...

Concordo com a sandra, pois nem todas as acções são explicadas pelo interesse pessoal, quando realizamos uma acção, pode-nos dar prazer e até nos beneficiar, mas isso não quer dizer que o fizemos para obter resultados. Se fossemos egoístas, só tínhamos desejos egoístas e jamais nos daríamos ao incómodo de ajudar os outros. Muitas pessoas sacrificam de alguma maneira o seu bem-estar para benefício dos outros, não só dos seus familiares e amigos, mas também de pessoas que nunca chegaram a conhecer e se não nos importássemos com o bem-estar dos outros, não ficaríamos satisfeitos por ajudá-los.