«A novidade introduzida pelos
gregos da antiguidade clássica não foi a tentativa de explicar os fenómenos do
mundo sem recorrer a deuses – pois muitos filósofos e cientistas eram
religiosos e recorriam a explicações de caráter semirreligioso. A novidade foi
esta: os filósofos da Grécia antiga expunham as suas ideias e desafiavam os
interlocutores a discuti-las livremente. Isto gerou uma novidade absoluta na
história da humanidade: a cultura da liberdade intelectual. Esta liberdade está
na base da universalidade da escola moderna, apesar de a realidade académica e
escolar ficar demasiadas vezes aquém do ideal fundador. A liberdade intelectual
permite ter uma atitude crítica, opondo-se à atitude subserviente própria da
natureza humana, sempre ciente das autoridades e hierarquias. Os gregos antigos
introduziram uma atitude que dificilmente floresce em sociedades fechadas: o
controlo do pensamento é a primeira coisa que todo o ditador, religioso ou
político, procura impor. Ao longo de vinte e cinco séculos, assiste-se na
civilização europeia ao constante conflito entre a exigência de liberdade de
discussão e as atitudes autoritárias e hierárquicas, que aniquilam o estudo e a
criatividade.
Nas sociedades fechadas (…)
pode-se fazer filosofia durante alguns períodos, mas geralmente às escondidas e
contra as próprias academias, que deviam ser os primeiros bastiões da liberdade
de pensamento. Só nas sociedades liberais e democráticas, que respeitam a
liberdade de opinião e expressão, a filosofia pode florescer.»
MURCHO,
Desidério, Pensar outra vez –
Filosofia, valor e verdade; Edições Quasi; Biblioteca Os Dragões do Éden, Série
Filosofia Primeira; páginas 131 e 132
O desafio que
agora se propõe aos alunos do 10º ano, que pela primeira vez contactam com a
filosofia, é que se arrisquem a pensar de forma livre, criativa, rigorosa e
consequente.
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