Nascido em Itália, no ano de 1548, Giordano Bruno foi mais do que um mártir da falta de liberdade de expressão imposta por um tempo em que os pensadores e cientistas não poderiam ir além do princípio de autoridade. Ainda que os ideais do Renascimento já vigorassem na Europa, aqueles que pretendessem encontrar a verdade teriam de se restringir à Revelação divina e à física aristotélica. Porém, houve outros que ao longo da História não permitiram que o seu espírito se subtraísse às verdades impostas e, em consequência disso, sacrificaram a sua vida por uma ideia que despontava da experiência da liberdade de pensar, sonhar e filosofar.
Os seus cinquenta e dois anos de vida dão conta de um percurso atípico do intelectual renascentista: defensor dos princípios humanistas, frequentador das cortes europeias, orador em várias universidades, protegido de reis, correligionário de protestantes e de católicos, excomungado por católicos e protestantes. A sua ligação à religião preludia a que será de Espinosa, quase cem anos depois; as suas descobertas científicas são mais arrojadas que as de Galileu Galilei ou Tycho Brahé, defendendo-as de um modo tão feroz quanto foi o seu destino.
Dotado de uma capacidade extraordinária para usar o dom que os gregos chamavam de mãe das Musas, a Memória, foi requisitado por reis e nobres. Em 1590, cansado de vaguear pelas universidades europeias e de ensinar a teoria heliocêntrica, que na época mais ninguém se arriscava a propalar, aceitou o convite do nobre veneziano Giovanni Mocenigo para regressar a Itália, com a condição de o iniciar na arte da mnemotécnica (ou seja, a arte de desenvolver a memória). Porém, temendo que a avareza do seu aluno empregasse os seus ensinamentos nas más obras, recusou-se a fazê-lo. Por vingança, o seu discípulo aprisionou-o num quarto e denunciou-o ao Santo Ofício. Apesar dos dez anos de prisão, tortura e apresentação de provas em sua defesa, jamais renunciará aos princípios que defendia, e será condenado à morte na fogueira, sob a acusação de heresia.
Se defendia que os mundos eram infinitos tal como o seu criador, que Deus não é transcendente, mas imanente às coisas, que a Revelação não serve de prova científica, ou se defendia o heliocentrismo e a existência de vida inteligente noutros planetas, o Tribunal do Santo Ofício foi mais astuto e condenou-o por magia e bruxaria. No entanto, o filósofo italiano não era um mago. Munido de um espírito insaciável, cruzou a ciência e a razão com o misticismo e a fé, não segundo os ditames da época, mas rememorando ideais perdidos no esquecimento da história: peregrinando solitariamente por uma trama de caminhos cruzados entre o neoplatonismo e o hermetismo (conjunto de ensinamentos oriundo do Antigo Egipto que prestavam fidelidade ao deus da escrita e da medicina, Toth). A sentença do Tribunal concretizou-se a 17 de Fevereiro de 1600, no Campo di Fiori, em Veneza.
De Giordano Bruno não restaram muitas obras, pois a maioria foi acrescentada ao Índex, mas o princípio que perseguiu durante toda a vida perpetuou-se - Libertas philosophica - o direito de pensar, sonhar e filosofar.
Passados 402 anos da morte de Giordano Bruno, a humanidade, representada pela Unesco, em prol da defesa da liberdade de expressão e do pensamento racional, pode pôr em ato a "libertas philosophica" tão propalada pelo filósofo italiano.
Os seus cinquenta e dois anos de vida dão conta de um percurso atípico do intelectual renascentista: defensor dos princípios humanistas, frequentador das cortes europeias, orador em várias universidades, protegido de reis, correligionário de protestantes e de católicos, excomungado por católicos e protestantes. A sua ligação à religião preludia a que será de Espinosa, quase cem anos depois; as suas descobertas científicas são mais arrojadas que as de Galileu Galilei ou Tycho Brahé, defendendo-as de um modo tão feroz quanto foi o seu destino.
Dotado de uma capacidade extraordinária para usar o dom que os gregos chamavam de mãe das Musas, a Memória, foi requisitado por reis e nobres. Em 1590, cansado de vaguear pelas universidades europeias e de ensinar a teoria heliocêntrica, que na época mais ninguém se arriscava a propalar, aceitou o convite do nobre veneziano Giovanni Mocenigo para regressar a Itália, com a condição de o iniciar na arte da mnemotécnica (ou seja, a arte de desenvolver a memória). Porém, temendo que a avareza do seu aluno empregasse os seus ensinamentos nas más obras, recusou-se a fazê-lo. Por vingança, o seu discípulo aprisionou-o num quarto e denunciou-o ao Santo Ofício. Apesar dos dez anos de prisão, tortura e apresentação de provas em sua defesa, jamais renunciará aos princípios que defendia, e será condenado à morte na fogueira, sob a acusação de heresia.
Se defendia que os mundos eram infinitos tal como o seu criador, que Deus não é transcendente, mas imanente às coisas, que a Revelação não serve de prova científica, ou se defendia o heliocentrismo e a existência de vida inteligente noutros planetas, o Tribunal do Santo Ofício foi mais astuto e condenou-o por magia e bruxaria. No entanto, o filósofo italiano não era um mago. Munido de um espírito insaciável, cruzou a ciência e a razão com o misticismo e a fé, não segundo os ditames da época, mas rememorando ideais perdidos no esquecimento da história: peregrinando solitariamente por uma trama de caminhos cruzados entre o neoplatonismo e o hermetismo (conjunto de ensinamentos oriundo do Antigo Egipto que prestavam fidelidade ao deus da escrita e da medicina, Toth). A sentença do Tribunal concretizou-se a 17 de Fevereiro de 1600, no Campo di Fiori, em Veneza.
De Giordano Bruno não restaram muitas obras, pois a maioria foi acrescentada ao Índex, mas o princípio que perseguiu durante toda a vida perpetuou-se - Libertas philosophica - o direito de pensar, sonhar e filosofar.
Passados 402 anos da morte de Giordano Bruno, a humanidade, representada pela Unesco, em prol da defesa da liberdade de expressão e do pensamento racional, pode pôr em ato a "libertas philosophica" tão propalada pelo filósofo italiano.
Professores Graça Silva e Valter Boita
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