11.6.22

Intenções ou consequências? II

 

Você é polícia e acaba de capturar o responsável pelo atentado terrorista de Barcelona. É um homem perigoso que já causou a morte a vários inocentes. Antes de ser preso já tinha colocado uma bomba de grande potência num local público. Se não conseguir que ele revele o local onde colocou esta bomba, muitos inocentes sofrerão e, provavelmente, irão mesmo morrer. O seu colega sugere que o torturem para que ele fale. Você concorda, pois é a única hipótese de evitar mais este massacre.

Como avaliar a possível tortura do terrorista?


A avaliação desta situação remete para o problema da fundamentação da moral, que tem como objetivo responder à pergunta: “Que critério ético se deve usar para se distinguir uma ação moralmente correta de uma moralmente incorreta?”. Neste trabalho vou servir-me de duas perspetivas estudadas em aula, a ética utilitarista, de John Stuart Mill, e a ética deontológica, de Immanuel Kant.

Mill defende uma perspetiva utilitarista, que é consequencialista e hedonista, ou seja, considera que uma ação é moralmente correta ou incorreta em função das suas consequências, e que a consequência a promover é a felicidade, entendida como o prazer ou a ausência de dor. O princípio ético supremo é o princípio da utilidade ou da maior felicidade, que afirma que uma ação é moralmente certa se é aquela, de entre as alternativas ao dispor do agente, que maximiza a felicidade ao maior número de indivíduos, de uma forma imparcial. Assim, uma ação é permissível se maximiza imparcialmente o bem. Além disso, segundo Mill, tem de se ter em conta, para além da quantidade de prazeres, a sua qualidade, pois os prazeres intelectuais são superiores aos corporais e oferecem, por isso, mais felicidade a um ser racional. Desta perspetiva, não existem valores absolutos e a felicidade é o bem último, uma vez que é a finalidade última das ações humanas e tem valor intrínseco.

Por tudo isto, Mill avaliaria esta situação, da possível tortura do terrorista, como sendo moralmente correta porque obedeceria ao princípio da maior felicidade, maximizando a felicidade ao maior número de indivíduos. Com esta tortura, e se ele revelasse o local da bomba, as consequências seriam as melhores, pois evitar-se-ia o sofrimento de muitos inocentes.

Kant defende uma perspetiva deontológica, ou seja, uma ação é moral se, e somente se, for realizada por dever. Segundo Kant, as intenções (e não as consequências) determinam o valor moral das ações. Deste modo, uma ação é boa, moral, se a intenção do agente foi cumprir o dever, se foi realizada na exclusiva vontade de cumprir o dever. Kant considera que as regras morais nos são impostas pela nossa razão, como imperativos categóricos, a priori, sem condições nem reservas, e são absolutas e universais. Assim, o princípio ético supremo é o imperativo categórico, que pode ser expresso por duas formulações: a fórmula da lei universal e a fórmula da humanidade. Esta perspetiva considera qua a boa vontade é o bem último porque tem valor intrínseco e é ilimitadamente boa. A boa vontade caracteriza-se pela autonomia, obedecendo à razão e ao imperativo categórico. Já se for influenciada por interesses pessoais, sentimentos ou inclinações imediatas caracteriza-se pela heteronomia, obedecendo, pelo contrário, ao imperativo hipotético.

Pelo que, penso poder afirmar que Kant consideraria a tortura do prisioneiro imoral, por não respeitar o imperativo categórico, mais especificamente na fórmula da humanidade, porque não se deve usar ninguém como um meio para obter algo, por bom que seja o resultado para todos. Todas as pessoas têm direitos, que funcionam como um escudo protetor, proibindo todas as ações que desrespeitam a dignidade da pessoa humana. E, neste caso, iam usar o homem perigoso para obter a resposta sobre o lugar onde estava a bomba. Como nesta perspetiva existem regras absolutas e universais, torturá-lo seria contrário ao dever. Além disso, não obedeceria à fórmula da lei universal, pois se o melhor para mim é não me torturarem, o melhor para aquele homem é o mesmo.

A perspetiva que avaliaria e nos orientaria melhor nesta situação seria a de Mill. A tortura é, na maior parte das situações, um ato que traz mais infelicidade, no entanto, nesta situação em específico, traria mais felicidade, e a um maior número de indivíduos, e por isto os fins justificariam os meios. Em várias situações, cumprir o dever e obedecer ao imperativo categórico é o melhor a fazer, mas neste caso poderíamos considerar isso desprezável, pois as melhores consequências possíveis seriam obtidas através da tortura do homem, evitando o sofrimento a inúmeras pessoas inocentes.

Lara Luís

10ºA

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