9.6.22

Intenções ou consequências? I

 

Um homem entra num banco, aponta uma arma ao funcionário do balcão e diz-lhe para abrir o cofre digitando o código do mesmo. O funcionário, com o nervosismo, tem um ataque de asma. O ladrão desespera. O tempo passa depressa e o ladrão tem medo que a polícia chegue entretanto. Assim, corre a buscar a bomba e ajuda o empregado.

Como avaliar a ação do assaltante, ao ajudar o empregado?


Este caso remete para o problema filosófico da fundamentação da moral, que consiste na tentativa de estabelecer um critério que permita definir o valor moral das ações humanas.

Para responder a esta questão irei recorrer à perspetiva utilitarista, de John Stuart Mill, e à deontologista, de Immanuel Kant.

Mill defende uma perspetiva utilitarista, que avalia o valor moral das ações humanas em função das suas consequências, seguindo o princípio da utilidade ou da maior felicidade, que diz que uma ação é correta se maximizar a felicidade geral. Essa felicidade consiste no prazer e/ou ausência de dor, e deve ser calculada imparcialmente, pois não se trata da felicidade do agente, mas sim da felicidade do maior número possível de indivíduos. Mill defende ainda que não existem deveres morais absolutos, existindo ações, como mentir, que geralmente consideramos erradas, mas que em algumas situações podem ser corretas, se maximizarem o bem, como por exemplo, mentir para salvar a vida de alguém.

Para Mill a ação do assaltante, ao ajudar o empregado, seria correta e com valor moral, pois é a melhor ação, de entre as alternativas ao dispor do agente. A consequência dessa ação seria, talvez, salvar uma vida e, assim, maximizar a felicidade de todos os envolvidos, uma vez que todos ficariam mais tranquilos se o empregado fosse ajudado, e o assalto prosseguiria, provavelmente, sem maior sofrimento.

Kant defende uma perspetiva deontologista, que avalia o valor moral das ações em função do motivo da ação. Defende que existem deveres morais absolutos que devem ser cumpridos incondicionalmente, independentemente das suas consequências. A deontologia kantiana defende que o imperativo categórico é o critério supremo da moralidade, que permite distinguir a priori as ações corretas das incorretas. Kant defende que as ações moralmente valiosas são um fim em si mesmas e não um meio para um fim. Desta perspetiva, uma ação é realizada por dever, se o motivo da ação for fazer o que é correto, isto é, realizada na exclusiva intenção de cumprir um dever, tal como nos é imposto pelo imperativo categórico e é está conforme o dever, se a ação for motivada por interesses ou inclinações, como o sentimento de compaixão, por exemplo.

Para Kant, a ação do assaltante ao ajudar o empregado seria correta, mas não seria moralmente valiosa, pois o assaltante estaria a realizar uma ação que coincide com a ação moral - o dever moral de ajudar os outros - mas não o faz por dever, fá-lo para não demorar muito e não dar tempo de a polícia chegar. Assim sendo, para Kant esta ação estaria apenas conforme o dever, pois é motivada por um interesse particular do assaltante, que é mesmo gravemente contrário à moral: roubar.

Na minha opinião, a perspetiva que melhor avalia esta situação é a deontologista de Immanuel Kant, pois nesta circunstância o mais importante são os motivos da ação e não as suas consequências. Apesar do assaltante ajudar o empregado, fá-lo apenas com a intenção de não ser apanhado pela polícia, estando a utilizar o empregado como um meio para um fim, não tendo por isso, esta ação, qualquer valor moral.

 Francisco Couto

10ºC

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns Francisco.