23.4.12

Sabemos o que julgamos saber?

Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho
As nossas crenças justificam-se na experiência

A necessidade de explicar o mundo dando-lhe uma razão e descobrindo as suas leis, é tão antiga como o próprio Homem que o tentou fazer desde os tempos mais remotos com base na religião ou na mitologia. Intrinsecamente ligado ao Homem, desde a Grécia Antiga, está o problema da possibilidade do conhecimento. Será que podemos estar certos (temos justificação) de que sabemos o que julgamos saber ou que o conhecimento existe? Esta é uma pergunta de extrema relevância, pois a nossa perspetiva de vida mudaria radicalmente se o conhecimento não fosse possível ou se não tivéssemos razões para acreditar nas nossas crenças. Ora, parece-nos óbvio que sabemos alguma coisa, mas os céticos radicais não pensavam assim. O seu argumento principal baseia-se na noção clássica de conhecimento. Por conhecimento entende-se um conjunto de crenças verdadeiras justificadas. Os céticos argumentaram que as nossas crenças não estão justificadas, na medida em que existem sempre divergências de opiniões, podendo existir erros na nossa perceção e que as nossas crenças estão sempre justificadas por outras anteriores, recaindo numa regressão infinita, a qual implica que nenhuma crença está justificada. Um dos filósofos que tentaram refutar os céticos através da obtenção de um fundamento seguro que refutasse a regressão infinita da justificação, foi Descartes. Para tal procurou encontrar uma crença que se justificasse a ela própria aplicando o método da dúvida. Rejeitando tudo quanto oferecesse a mais pequena dúvida, chegou à crença denominada cogito, que ele acreditou ser uma crença indubitável a partir da qual poderia deduzir todas as outras crenças assegurando assim a sua verdade. Por considerar esta teoria insatisfatória, porque o cogito não prova mais nada além de sermos seres pensantes, vou defender uma posição que primeiramente foi defendida por David Hume um filósofo escocês.
Contrariamente aos céticos, não creio que seja possível para nós vivermos como se tudo fosse duvidoso, a nossa natureza inclina-nos instintivamente para acreditarmos nas coisas, as nossas crenças são baseadas em perceções e sentir consiste em lidar com as impressões no momento. Ao pensarmos, estamos a memorizar e copiar impressões adquiridas no momento em que as sentimos. Dividimos assim as impressões em sensações externas, como quando cheiramos uma flor, e sentimentos internos como o que sentimos quando cheirámos a flor. Isto pode ser constatado por cada um de nós, podemos chamar-lhe intuição sensível. Porém, considero o ceticismo parcialmente incurável, porque não deve ser aceite totalmente. É incurável na medida em que não conseguimos provar a existência de um mundo exterior para justificar as nossas crenças mais importantes. Para a maioria de nós, a experiência explica as nossas crenças baseadas nas impressões, mas muitas crenças não são justificáveis dessa forma porque não se baseiam em nenhuma impressão vivenciada por nós, temos de acreditar com base nas impressões dos outros e na veracidade daquilo que estudamos. Contudo, o ceticismo tem limites e não devemos aceitá-lo completamente (a não ser como método) porque isso contraria os nossos instintos mais básicos e põe em causa uma vida equilibrada. Concluindo, temos conhecimento e o seu fundamento  é empírico, apesar de haver crenças que não podemos explicar racionalmente de modo completo, resta-nos aprender a viver com isso.
Tiago Ferreira, 11.º G

1.3.12

Debate sobre problemas decorrentes dos jogos on-line

Paul Cézanne, Os Jogadores de Cartas (1890)

As apostas on-line são hoje uma realidade para muitos jovens desde muito cedo. Num sentido geral o jogo faz parte da vida. Evoluiu com a cultura ao longo do tempo está presente nas celebrações, nas relações com a natureza, com o sagrado, na guerra. O Homo Sapiens Sapiens é Homo Ludens. As crianças aprendem brincando mas também os adultos gostam de jogar. O jogo tem assim um importante papel pedagógico e de socialização.
À medida que a vida se complexifica também se complexificaram os jogos. Hoje, há jogos para todos os gostos. Há quem jogue responsavelmente e há pessoas para quem o jogo se transformou num problema. A partir de 1980 a Ludopatia (perturbação ou adição ao jogo) foi incluída oficialmente nas patologias e reconhecida desde 1992 pela OMS. Não há dados rigorosos mas estima-se que dois a três por cento da população tem problemas com o jogo. Há jogos legais e jogos ilegais, há jogos meramente lúdicos e jogos mais problemáticos.

O tema do debate é refletir e discutir os limites éticos e políticos da liberdade individual de um jogador que apresente um comportamento problemático. Por que razão é problemático? Que tipos de raciocínio estarão subjacentes a este tipo de comportamento? Serão raciocínios válidos? Que acções poderão ser consideradas responsáveis e irresponsáveis? Que acções podemos considerar como envolvendo somente os interesses pessoais do jogador, aquelas que causam dano apenas ao sujeito nelas envolvido, e as acções que podem prejudicar os outros? O que se entende por dano? Não acontece em muitos casos que um jogador pode transformar a sua vida e a dos seus familiares num inferno? Arriscar o seu futuro devido ao seu problema? Este não o tornará menos capaz de contribuir para a sociedade com o seu trabalho? Por exemplo, se um jogador for convencido, contra os seus melhores interesses, a apostar todo o seu dinheiro, representa esta atitude o exercício da sua liberdade, a afirmação da sua dignidade? Haverá alguma razão ética para intervir na liberdade individual nesta situação? Teremos algum dever ético para com essa pessoa ou pelo contrário não há nenhuma razão ética que legitime a nossa intervenção? Se tivermos algum dever ético, que tipo de dever será esse? 


Estas e outras questões serão debatidas dia 21 de Março,  pelas 10:10 horas, (durante a semana cultural) na sala polivalente do Centro Cultural Gonçalves Sapinho. Se está interessado, informe-se junto do seu professor de Filosofia.

29.2.12

Carmen Souza em Alcobaça



Pré-nomeada para os Grammy Awards em 2010, na categoria de melhor álbum de World Music contemporânea, e aclamada pela crítica nacional e internacional, Carmen Souza, cantora e compositora de origem cabo-verdiana, distingue-se pela forma única, apaixonante e expressiva como canta e pela audácia de combinar sonoridades tradicionais da música dessas ilhas atlânticas, com os tons experimentais do Jazz sempre com muita alma. Se há modernidade na música crioula, essa começa em Carmen Souza.
Talentosa e incansável, Carmen Souza editou em Fevereiro o CD London Acoustic Set, em duo com o baixista, músico e compositor Theo Pas'cal.
Poderemos agora vê-los ao vivo, no Cine-Teatro de Alcobaça, no dia 10 de Março, sábado, pelas 21:30 horas. Bilhetes a 7.5€.
Vamos?

17.2.12

O Cerco a Leningrado



O Cerco a Leningrado, de José Sanchis Sinisterra, vai estar em cena no Centro Cultural e Congressos de Caldas da Rainha, nos dias 24 e 25 de Fevereiro.
Encenada por Celso Cleto, a peça - a mais conceituada obra do dramaturgo espanhol - é uma homenagem aos profissionais de teatro e marca a comemoração, em palco, dos 70 anos de carreira de Eunice Muñoz. A actriz, que contracena aqui com Maria José Paschoal, estreou-se em 1941 no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
Parece-me uma boa oportunidade de ver trabalhar uma atriz cujo profissionalismo e talento reúnem consenso geral.


Acrescento que o preço dos bilhetes oscila entre os 10€ e os 15€  e também há descontos para grupos.
Vamos?

9.2.12

Somos todos Gregos


“O nosso [dos europeus] legado ontológico é, como Heidegger insistiu, o do questionamento. E por vezes tão enigmáticos como os números primos que se prolongam até ao desconhecido, os três acta cardinais combinam-se. A matemática habita a música, há uma magia tanto de cadência como de sequência axiomática na grande filosofia. Como alguns místicos e lógicos, como Leibniz, intuíram, quando Deus fala consigo próprio, canta álgebra.
Já aqui o papel fundamental de Hellas é evidente. Três mitos, que se contam entre os mais antigos da nossa cultura, falam das origens e do mistério da música. O que surpreende é a percepção na Grécia arcaica, através das histórias de Orfeu, das Sereias e do desafio mortal de Apolo e Mársias, dos elementos na música para além da humanidade racional, do poder da música para enlouquecer e destruir. A nossa matemática tem sido «grega», pelo menos até à proposta da geometria não-euclidiana e à crise da axiomática implícita na Demonstração de Gödel de incoerência. Pensar, sonhar matematicamente é seguir as pegadas de Euclides e Arquimedes, seguir as primeiras conjecturas relativamente à insolubilidade paradoxal de Zenão. Platão ordenou que não entrasse na sua academia nenhum homem que não fosse geómetra. Todavia, ele próprio dirigiu o intelecto ocidental rumo a questões universais de sentido, moral, direito e política. Como A. N. Whitehead afirmou celebremente, a filosofia ocidental é uma nota de rodapé a Platão e, poder-se-ia acrescentar, a Aristóteles e Plotino, a Parménides e Heraclito. O ideal socrático da vida reflectida, a demanda platónica de certezas transcendentes, as investigações aristotélicas das relações problemáticas existentes entre a palavra e o mundo, estabeleceram a via tomada por Tomás de Aquino e Descartes, por Kant e Heidegger. Assim, estes três notáveis dignitários do intelecto humano e da formação da sensibilidade – música, matemática, metafísica – subscreveram a afirmação de Shelley de que «somos todos gregos». Mas a herança de Atenas estende-se até muito mais longe. O vocabulário das nossas teorias e dos nossos conflitos políticos e sociais, do nosso atletismo e da nossa arquitectura, dos nossos modelos estéticos e das nossas ciências naturais permanece saturada de raízes gregas, em ambos os sentidos da palavra. «Física», «genética», «biologia», «astronomia», «geologia», «zoologia», «antropologia» são palavras derivadas directamente do grego clássico. Por seu lado, os nomes trazem consigo, tal como a própria «lógica», uma visão específica, uma cartografia particular da realidade e dos seus amplos horizontes.”

George Steiner, A Ideia de Europa,2005, trad. Mª de Fátima St. Aubyn, Ed. Gradiva, pp.38-39

2.2.12

Semana Cultural - ECB 2012




Vai decorrer entre os dias 19 e 23 de março a Semana Cultural do ECB/2012, durante a qual se vão realizar atividades no âmbito das diversas disciplinas e dos projetos em curso no presente ano letivo. Alguns eventos destinam-se também aos alunos do agrupamento de escolas da Benedita, como a apresentação de jogos didáticos e dramatizações e outros estão abertos a toda a comunidade, nomeadamente, as exposições, das quais destacamos a dos alunos de Artes, com visitas guiadas pelos alunos.
No dia 22 de março, pelas 17h 15m, terá lugar, no CCGS, mais um Café Literário, em torno do livro Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares e para o qual estão, desde já, convidados todos os interessados.

1.2.12

O amor aos livros



The fantastic Flying books of Mr. Morris Lessmore é uma inspirada animação sobre o amor aos livros, com referências a Buster Keaton e ao Feiticeiro de Oz. Embora usando já as mais modernas técnicas de animação é, simultaneamente, uma homenagem ao antigo filme mudo e aos anos de ouro do cinema musical americano.
Visita a Biblioteca do ECB. Há ali milhares de histórias que podes viver... lendo.

28.1.12

"Se Isto é um Homem"


A propósito do post anterior, oportunamente colocado pela Luísa, recomendo a leitura de "Se Isto é um Homem", de Primo Levi.
O autor, licenciado em Química, nasceu em Turim em 1919 onde morreu em 1987, provavelmente por suicídio. Por ser judeu foi preso e deportado, primeiro, para o campo de concentração de Fòssoli e, posteriormente, para Auschwitz, onde foi libertado por soldados russos em fevereiro de 1945.
O horror que ai viveu nunca o abandonou. Este livro é o registo lúcido e cru da experiência extrema, da terrível desumanização dos campos de concentração, sobretudo no que se refere às relações entre vítimas.
"Nesse contexto de deterioração humana, dissolvem-se os parâmetros de bem e de mal, de certo e de errado, de justo e injusto; o homem não pensa e não julga, só age, indiferentemente, como um “instrumento do mal”, ou seja, nessa situação extrema e perversa o homem é, ao mesmo tempo, vítima e instrumento do mal." (L. Correa)

Se Isto é um Homem
Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas
Vós que encontrais, regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem,
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais forças para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no inverno.

Meditai que isto aconteceu:
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração
Estando em casa, andando na rua,
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que se desmorone a vossa casa,
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.

((Primo Levi)

Em memória do Holocausto

A 27 de janeiro de 2012, o mundo assinalou pela sétima vez consecutiva, o Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto. A data foi marcada em 2005 pela Assembleia-Geral da ONU. Naquele dia, em 1945, as tropas soviéticas libertaram os prisioneiros do campo de concentração Auschwitz, localizado no sul da Polónia, símbolo do Holocausto perpetrado pelo nazismo.

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(Legendagem em português do Brasil.)
 ...a banalização do mal anda por aí, bem à vista, permitindo a relativização dos horrores da história... (Hanna Arendt)

Algumas ações não são egoístas


A compreensão efetiva de uma ação implica a compreensão dos motivos que justificam essa mesma ação. Assim sendo, será legítimo afirmar que todas as nossas ações são egoístas?
Não, algumas ações não são egoístas.
Aparentemente, um agente humano pode não ser motivado apenas pelo interesse pessoal, é capaz de realizar certas ações porque deseja obter algo que considera bom para os outros e porque acredita que realizar essas ações é o melhor meio de concretizar o seu desejo.
 Ora, consideramos que, em função daquilo que fazemos ou do bem que pretendemos atingir, podemos classificar algumas ações como egoístas, por só promoverem o nosso próprio bem, mas considerar outras altruístas por revelarem uma necessidade, do próprio sujeito, em promover o bem-estar de outros para além do seu.
Aqueles que defendem o egoísmo psicológico acreditam que, na verdade, não somos capazes de agir por motivos altruístas, isto é, de agir em função de uma preocupação genuína com os outros. A própria definição de egoísmo psicológico diz que cada um faz apenas o que julga ser mais vantajosos para si próprio. Assim, segundo os defensores do egoísmo psicológico, todas as nossas ações são egoístas porque, se agirmos livremente, então fazemos o que queremos, o que julgamos melhor para nós próprios e isso é uma inevitabilidade, porque é próprio da natureza da ação livre.
 Mesmo que seja verdade que, em todos os atos voluntários, as pessoas se limitam a fazer o que mais desejam, daí não se segue que todos esses atos sejam egoístas. Afinal, “se o João quer fazer algo que ajudará o seu amigo”, mesmo quando isso implica abdicar de alguns dos seus prazeres, isso é precisamente o que faz proceder de uma forma altruísta. O filósofo David Hume sugere que mesmo que sintamos prazer ao fazer bem aos outros isso não quer dizer que a expectativa de obter esse prazer tenha sido a causa da ação, pois o prazer pode ter sido apenas o efeito da ação.
 Já James Rachels defende que existem objeções fortes aos argumentos favoráveis ao egoísmo baseados nos desejos. Segundo este autor, o que está em causa é o tipo de desejos que as pessoas têm. Mesmo que fosse verdade que as pessoas só agem em função do que mais desejam, a diferença do que é desejado continuaria a distinguir a ação egoísta da altruísta. O egoísta só pode ter desejos egoístas e jamais se daria ao incómodo de “salvar leitões em sofrimento”, (como no episódio de Lincoln). O altruísta preocupa-se com os outros e tem por isso desejos altruístas mas não deixa de ser altruísta por agir em função deles.
Em suma, sabemos perfeitamente que há milhões de pessoas que sacrificam, de alguma maneira, o seu bem-estar para benefício dos outros; mesmo não conhecendo essas pessoas. Pelo que, nestas condições, quem pensa que “no fundo” todas as ações escondem um motivo egoísta tem de nos dar uma excelente razão para reconsiderarmos, as nossas convicções.
 Há, sem dúvida, razões para rejeitar o egoísmo psicológico, e uma delas é a falta de poder explicativo desta teoria, pois dispomos já de inúmeros dados que tornam razoável a convicção de que algumas pessoas se comportam, pelo menos algumas vezes, de forma altruísta. E é isto que se pretende defender quando se afirma que algumas ações são altruístas.
Raquel Batista, 10ºE

27.1.12

A Tourada

Em breve dicutiremos a pertinente questão dos direitos dos animais.
Entretanto, para os alunos que me têm perguntado se gosto de touradas, a minha resposta é «Sim.... mas destas.» Ora reparem na bravura deste touro, na elegância deste cavalo e na coragem deste toureiro.


Os espetáculos com animais podem ser, inquestionávelmente, legítimos. Nada nos impede de usarmos os animais para nossa diversão. Principalmente quando lhes permitimos divertirem-se também.

23.1.12

Haverá algo de errado com esta publicidade?

"Manipular é fazer alguém aceitar ou fazer algo sem avaliar cuidadosamente as coisas por si."

A manipulação é uma forma comum de argumentar de modo falacioso, mas eficaz, porque leva o interlocutor a mudar as suas ideias ou as suas ações. Muitas vezes, os argumentos são simplesmente sugeridos, por isso somos seduzidos e não convencidos. Quando avaliamos cuidadosamente os argumentos descobrimos muitas vezes que estavamos a ser enganados.

Leia aqui e descubra o que há de errado com esta publicidade.

18.1.12

Debate pela Liberdade

The great debaters, no original, é um filme de 2007, realizado por Denzel Washington e o seu argumento é baseado num artigo sobre a equipa de debate de Wiley College. Tem nos principais papéis o próprio Denzel Washington, Forest Whitaker, Kimberly Elise, Nate Parker, entre outros.
Poder-se-ia sugerir este filme por várias razões - a boa história, as boas interpretações - mas, pelo que nos interessa enquanto aprendizes de filósofos, principalmente, porque são ali debatidas questões de ética e filosofia política - a luta pela justiça, pela democracia, consequentemente pela igualdade de direitos dos cidadãos e pela plena participação de todos na vida cívica- e, embora algumas premissas só sejam válidas para auditórios muito particulares, é sobretudo pela relevância que dá à palavra, à argumentação, como método de procura da verdade, que aqui se sugere.

9.1.12

Parlamento dos Jovens no ECB


Decorreu hoje no ECB uma sessão/debate no âmbito da atividade proposta pela Assembleia da República às escolas - Parlamento dos Jovens - dinamizada pelo deputado Pedro Pimpão, destinada aos alunos do ensino secundário e subordinada ao tema "Redes sociais: participação e cidadania".
No dia 16 de janeiro vai decorrer o ato eleitoral, disputado entre cinco listas. No dia 18 tem lugar a Sessão Escolar que irá eleger os representantes do ECB no Parlamento Regional.

6.1.12

Uma definição de Filosofia

Bons dias, meus caros!
Quando nos deparamos com a definição de Filosofia - ou como mais informalmente dizemos: “O que é, afinal, a Filosofia?” – temos tendência a avaliá-la, primeiramente, como algo difícil de definir e abstrato, e, logo após isto, tomamo-la como algo estranha e desnecessária.
Imagine-se que uma criança nos pergunta o que é o céu. Perante esta questão, direcionada por alguém tão ingénuo, obviamente que é errado responder cientificamente – dizendo que o céu é a camada de gases que envolve a Terra, sendo que é principalmente constituída pelo elemento químico azoto -, dado que a criança, à partida, não possui conhecimentos suficientes para compreender esta definição.
Posto isto, e para uma melhor compreensão do que é o céu, não iremos definir cientificamente o conceito céu, mas sim caracterizá-lo e, desta forma, explicá-lo, para que a criança nos entenda.
Com isto, admitamos que hoje todos vós sois crianças e que se encontram neste preciso local, uma vez que a vossa curiosidade problematizou, filosoficamente, o conceito FILOSOFIA. Perante tal problematização, e tal como faríamos com a criança e o céu, ao invés de incerta e cientificamente vos definir Filosofia, irei cuidadosamente caracterizá-la para que a entendam melhor.
Pois bem, vamos tentar então entender esta tão polémica questão que envolve o conceito de Filosofia subordinado a uma ideia falaciosa da sua insignificância.

A Filosofia é uma atividade que exige sentido crítico, por parte de quem a faz ou a tenta fazer, baseando-se na adoção de uma atitude problematizadora perante as várias ideias que nos são transmitidas pelo “mundo lateral” por forma a compreendê-las - isto é, a Filosofia é a atividade que procura estudar e compreender cuidadosa e imparcialmente determinadas ideias, com a finalidade de não só determiná-las verdadeiras ou falsas, mas como também entender a sua natureza. Assim, a atividade filosófica, tal como já referi, exige uma tomada de posição - um sentido crítico - que, quando defronte uma ideia menos plausível ou infundada, se parte para a problematização da realidade adjacente a essa ideia por forma a percebê-la melhor e deste modo chegar a conclusões proveitosas. Deste modo, estamos a conhecer o problema inerente a essas ideias e por conseguinte uma solução, criando, assim, uma conceção original e da nossa autoria sobre essa determinada ideia.
A Filosofia caracteriza-se, ainda, por ser um estudo predominantemente “a priori”; é um estudo que problematiza as ideias levando a cabo a análise dessas mesmas ideias de uma forma conceptual, determinada pela discussão, argumentação e pensamento crítico – que na verdade, se opõe à ciência, visto que a Filosofia não se baseia nas provas empíricas e nos seus resultados (no entanto, a mesma não despreza o conhecimento “a posteriori”, uma vez que este tipo de conhecimento ajuda a filosofia a fundamentar os seus argumentos por meio de dados factuais), mas sim numa problematização de ideias que tem por objetivo uma procura sistemática de respostas a determinados problemas, através da atitude filosófica.
Em última análise e concluindo, a Filosofia é caracterizada, sucintamente, por ser uma atividade que exige a tomada de posição em relação a determinadas ideias, problematizando desta forma as nossas crenças mais básicas, através de uma posição problematizadora, exigindo a adoção de uma atitude crítica e filosófica que tem por base a análise, analisando-as de uma forma cuidadosa e imparcial, com o propósito de determinar o seu valor de verdade; sendo, por natureza, um estudo “a priori” que leva a cabo a sua investigação de carácter zetético por meio da argumentação, pensamento e discussão crítica.
Pedro Constantino, 10.º C

27.11.11

A Solidariedade

Um excerto de um texto do filósofo português José Gil, publicado no último número da revista Visão de 24 de Novembro de 2011, que aborda de uma forma que me parece muito correta a questão da solidariedade, a qual já algumas vezes analisamos nas aulas.

Nascem agora, neste momento de crise aguda de países europeus, inúmeras iniciativas cujo objetivo é ajudar os mais carenciados, vindas de associações,agrupamentos, bancos, empresas. Este voluntariado espontâneo é necessário e reativa aquele fundo primitivo de coesão social que faz um país. Qualquer coisa de muito importante - da ordem da sanidade social - é assim acordado nas consciências das pessoas: atenção ao outro, perceção despojada e nua de um humano por outro humano reatando o laço afetivo originário que reconhece o outro para além do seu estatuto social, familiar, das suas opiniões políticas, etc.
Mas é preciso que a solidariedade não signifique caridade humilhante ou afirmação de uma qualquer supremacia social. A entreajuda supunha uma igualdade fundamental entre os membros da comunidade. Muitas atividades que se exercem sob uma falsa ética da solidariedade escondem negócios inconfessáveis, boa consciência (do estado e dos indivíduos) adquirida a baixo preço, álibis de uma «economia social» que, afinal, não transforma minimamente a economia real geradora das desigualdades que a primeira procura reduzir.
A solidariedade económica e social que hoje se desenvolve por toda a Europa - dos bancos sem juros da Dinamarca aos «bancos da fome» das instituições de assistência aos «pobres» - aliviando o sofrimento e dando oprtunidades aos mais desfavorecidos, só se legitima se se desviar da tendência hegemónica do capitalismo global, considerando o outro não como um diminuído mas como alguém simplesmente humano com pleno direito de acesso a tdos os direitos, inclusive ao de ser ajudado. Não é esse mesmo direito que tem a vítima de um furacão ou de um sismo a ser assistido pelo estado?

Imagens do Google: «solidariedade» e José Gil.

25.11.11

Uma sugestão musical


Principalmente para os meus alunos que me têm dado a conhecer os seus gostos musicais e, assim, ajudado também a descobrir alguma boa música contemporânea. Uma interpretação surpreendente da Gnossiene nº1, de Erik Satie, pelos Triste Sire, http://www.tristesire.com/menu.html

Uma interpretação tradicional desta obra de Satie, pode ser escutada em http://www.youtube.com/watch?v=PLFVGwGQcB0

Vale a pena conhecer também as Gymnopedies (1, 2 e 3) do Satie.
Bom fim de semana.


17.11.11

"Libertas Philosophica"

Nascido em Itália, no ano de 1548, Giordano Bruno foi mais do que um mártir da falta de liberdade de expressão imposta por um tempo em que os pensadores e cientistas não poderiam ir além do princípio de autoridade. Ainda que os ideais do Renascimento já vigorassem na Europa, aqueles que pretendessem encontrar a verdade teriam de se restringir à Revelação divina e à física aristotélica. Porém, houve outros que ao longo da História não permitiram que o seu espírito se subtraísse às verdades impostas e, em consequência disso, sacrificaram a sua vida por uma ideia que despontava da experiência da liberdade de pensar, sonhar e filosofar.
Os seus cinquenta e dois anos de vida dão conta de um percurso atípico do intelectual renascentista: defensor dos princípios humanistas, frequentador das cortes europeias, orador em várias universidades, protegido de reis, correligionário de protestantes e de católicos, excomungado por católicos e protestantes. A sua ligação à religião preludia a que será de Espinosa, quase cem anos depois; as suas descobertas científicas são mais arrojadas que as de Galileu Galilei ou Tycho Brahé, defendendo-as de um modo tão feroz quanto foi o seu destino.
Dotado de uma capacidade extraordinária para usar o dom que os gregos chamavam de mãe das Musas, a Memória, foi requisitado por reis e nobres. Em 1590, cansado de vaguear pelas universidades europeias e de ensinar a teoria heliocêntrica, que na época mais ninguém se arriscava a propalar, aceitou o convite do nobre veneziano Giovanni Mocenigo para regressar a Itália, com a condição de o iniciar na arte da mnemotécnica (ou seja, a arte de desenvolver a memória). Porém, temendo que a avareza do seu aluno empregasse os seus ensinamentos nas más obras, recusou-se a fazê-lo. Por vingança, o seu discípulo aprisionou-o num quarto e denunciou-o ao Santo Ofício. Apesar dos dez anos de prisão, tortura e apresentação de provas em sua defesa, jamais renunciará aos princípios que defendia, e será condenado à morte na fogueira, sob a acusação de heresia.
Se defendia que os mundos eram infinitos tal como o seu criador, que Deus não é transcendente, mas imanente às coisas, que a Revelação não serve de prova científica, ou se defendia o heliocentrismo e a existência de vida inteligente noutros planetas, o Tribunal do Santo Ofício foi mais astuto e condenou-o por magia e bruxaria. No entanto, o filósofo italiano não era um mago. Munido de um espírito insaciável, cruzou a ciência e a razão com o misticismo e a fé, não segundo os ditames da época, mas rememorando ideais perdidos no esquecimento da história: peregrinando solitariamente por uma trama de caminhos cruzados entre o neoplatonismo e o hermetismo (conjunto de ensinamentos oriundo do Antigo Egipto que prestavam fidelidade ao deus da escrita e da medicina, Toth). A sentença do Tribunal concretizou-se a 17 de Fevereiro de 1600, no Campo di Fiori, em Veneza.
De Giordano Bruno não restaram muitas obras, pois a maioria foi acrescentada ao Índex, mas o princípio que perseguiu durante toda a vida perpetuou-se - Libertas philosophica - o direito de pensar, sonhar e filosofar.

Passados 402 anos da morte de Giordano Bruno, a humanidade, representada pela Unesco, em prol da defesa da liberdade de expressão e do pensamento racional, pode pôr em ato a "libertas philosophica" tão propalada pelo filósofo italiano.

Professores Graça Silva e Valter Boita

16.11.11

Será possível fazer alguma coisa que não seja por interesse próprio?

Em 2002, a Unesco definiu a terceira quinta-feira do mês de novembro para se assinalar o Dia Mundial da Filosofia, a fim de valorizar a importância do pensamento crítico e dialógico numa sociedade cada vez mais global. Este ano, comemora-se a 17 de novembro o Dia Mundial da Filosofia e, por isso, este post pretende, mais do que comemorar o que quer que seja, ser um incentivo ao filosofar.



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Desafio:






Considerando que um enigma filosófico pode servir de alimento são a uma mente sedenta pelo saber, lê o texto que apresentamos, extraído da obra de Peter Cave, Duas vidas valem mais que uma?, que tem como principal objetivo confrontar os leitores com 33 enigmas filosóficos, perante os quais nenhuma mente desperta fica indiferente.







- Posso servir-me?



Eis aqui algumas palavras, uma cortesia de John Audrey, sobre Thomas Hobbes, o filósofo político do século XVII. As pessoas costumam entusiasmar-se por Hobbes ao lê-las.




Ele foi muito caridoso (o melhor que a capacidade dele permite) para aqueles que eram


verdadeiros objetos da sua generosidade. Uma vez, lembro-me eu, ao passar na Strand,


um pobre velho enfermo pedia esmola. Ele [Thomas Hobbes], olhando-o com piedade e


compaixão, levou a mão ao bolso e deu-lhe seis centavos. Um clérigo que estava por perto


disse:



- Teria feito isto, se não fosse um mandamento de Cristo?



- Sim.



- Porquê?

- Porque eu fiquei condoído com a condição miserável do velho e agora a minha esmola, por lhe ter dado algum alívio, também me aliviou.



A moral que se tira muitas vezes dessas histórias é que nunca agimos sem ser no nosso próprio interesse. É verdade que por vezes ajudamos os outros, mas isto é só para aliviar o nosso desconforto em os ver no desconforto e é o que acaba por nos motivar.



A história que é sugerida é que todas as nossas ações, apesar das aparências dizerem o contrário, são na verdade centradas em nós, são egoístas. A mãe que corre para uma casa em chamas para salvar o seu filho é motivada pelo medo, medo de como se sentiria se deixasse o seu filho morrer. Os santos que sacrificam as suas vidas, a defenderem as suas crenças cristãs. são motivados pelo desejo de irem para o céu e não para o inferno, depois de morrerem. Os ateus que, por dever, se oferecem como voluntários para ajudar os sem-abrigo, na verdade, apenas querem sentir-se bem consigo mesmos e talvez impressionar os vizinhos.



A última ponderação, se nos atrevermos a desafiar o acima exposto, é que quando executamos qualquer ação, temos de ter alguma motivação - e isso quer dizer que, de alguma forma, queremos fazê-lo e assim agimos para satisfazer esse querer. Mas se estivermos a fazer alguma coisa para satisfazermos os nossos quereres, então agimos de modo egoísta. Esse é o argumento genérico. O que nós queremos pode não coincidir com os nossos próprios interesses, por isso o raciocínio precisa de falar sobre como agimos de acordo com o que queremos ou o que achamos que é o nosso próprio interesse. (Peter Cave, Duas vidas valem mais que uma?)




Formulado de forma mais simples, o enigma filosófico transcrito exprime-se da seguinta forma: Será possível fazer alguma coisa, mesmo que seja de modo altruísta, que não seja por interesse próprio?



Deixa na caixa de comentários a tua posição, devidamente fundamentada. Vamos lá filosofar!

8.11.11

2.11.11

Teremos ou não a obrigação ética de ajudar os mais pobres? II




Este livro já foi aqui apresentado, pela professora Graça Silva. Neste pequeno vídeo, divulgado pelo Centro de Ciência Viva Rómulo de Carvalho, o físico Carlos Fiolhais sublinha o interesse de mais este trabalho de Peter Singer, porque a filosofia, como ele próprio diz, interessa para a ciência porque interessa para o conhecimento.



22.10.11

Dos ares da Serra com Wim Mertens



Imagens da Serra dos Candeeiros, captadas em Fevereiro de 2009, perto da localidade de Arrimal, concelho de Porto de Mós, Portugal, acompanhadas ao piano e voz por Wim Mertens, sobre tema denominado 'Geräusch', do álbum 'Der heisse brei', editado em 2000. Este artista atuou no cineteatro de Alcobaça há cerca de dois anos. (vídeo do youtube)

16.10.11

8.10.11

Uma boa forma de começar

Ao clicares no título deste post, terás acesso, em formato digital, a um livro que brevemente chegará às livrarias da autoria de Desidério Murcho. Neste livro, o seu autor propõe-se explicar o significado de setes ideias que ficaram célebres na filosofia, algumas das quais já tivemos oportunidade de mencionar nas aulas.

"Só sei que nada sei", "No meio está a virtude", "Penso, logo existo" são algumas das ideias que serão analisadas e contextualizadas historicamente.

Trata-se de uma boa forma de começar a ler filosofia sem receio de nada se compreender.