Por que razão fazemos constantes inferências a partir de princípios que somos incapazes de fundamentar sem reservas? Não haverá outra forma de justificar as nossas crenças sem termos de recorrer ao seu fundamento último?
É um facto que algumas das nossas crenças estão justificadas (nem David Hume o nega), o mundo complexo em que vivemos, a experiência do dia-a-dia comprova-o, mas parece também claro que este conhecimento é impossível de fundamentar de modo absoluto, ao contrário do que pensava Descartes; nenhuma reflexão por mais radical que seja é capaz de o negar.
O mesmo não acontece com outras noções igualmente supostas por nós e que estão na base do nosso conhecimento. Supomos por exemplo, que os "Eus", as nossas mentes, são entidades que persistem através do tempo e da mudança, que no fundo de cada um de nós há uma substância que permanece inalterada, mas teremos alguma razão para pensar assim? Se não, como formamos esta ideia e porquê?
Se, por introspecção tentarmos compreendê-la, veremos apenas uma sucessão de impressões momentâneas e efémeras numa espécie de teatro em constante mudança. A introspecção não capta nada mais... vimos unidade apenas naquilo que é diversidade... E quanto ao mundo, teremos razões para pensar que é uniforme e estável?
Intuitivamente supomos que o mundo externo é feito de objectos estáveis. Mas aquilo de que temos experiência também é momentâneo e efémero. Logo, a nossa confiança intuitiva de que o mundo é feito de objectos distintos e contínuos não parece correcta, parece ser apenas formada pela nossa natureza, pelo modo como evoluímos.
Mas é inegável que há conhecimento, apesar de não podermos confiar absolutamente, nem na nossa mente nem no mundo.
Contudo, se partirmos do princípio de que o único fundamento seguro é a experiência - como pensava Hume-, temos de concluir que esse conhecimento é muito limitado, excluindo qualquer realidade metafísica.
Sem comentários:
Enviar um comentário