Logos-ECB
Ter autonomia de espírito, ter consciência do mundo e fazer escolhas próprias é melhor, de longe, do que ser passivamente feliz em prejuízo destas coisas. (Anthony Grayling)
14.8.24
Para um debate público melhor
17.7.24
29.12.23
Descartes é um cético?
“Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor que nada há como eles nos fazem imaginar. E, porque há homens que se enganam ao raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro, todas as razões de que até agora me servira nas demonstrações.”
Descartes, Discurso do Método, Clássicos Sá da Costa, pág. 27
Este excerto de Descartes apresenta-nos as
razões para duvidar das crenças que provêm dos sentidos e da razão. Estas
razões para duvidar surgem da tentativa de Descartes responder ao problema
epistemológico da possibilidade do conhecimento. Descartes pretende refutar o
argumento cético da regressão infinita, pelo que, Descartes não é cético.
Segundo a definição clássica ou tripartida, o
conhecimento é uma crença verdadeira justificada. O ceticismo radical defende
que o conhecimento não é possível, visto que, para justificarmos as nossas
crenças, usamos outras crenças, caindo assim numa regressão infinita da
justificação e, por isso, nenhuma das nossas crenças está verdadeiramente
justificada.
A mais célebre resposta ao desafio lançado
pelos céticos é o fundacionalismo, este começa por distinguir crenças básicas,
que são crenças autojustificadas e autoevidentes, de crenças não-básicas, que
são as crenças que se justificam com outras crenças. As crenças básicas,
segundo o fundacionalismo, são a base para o conhecimento e podem ter origem na
razão ou na experiência. O
objetivo de Descartes é encontrar pelo menos uma crença básica, fundacional, certa
e indubitável, provando assim a existência do conhecimento.
Ele vai adotar a dúvida cética como método -
a dúvida metódica ou dúvida cartesiana. A dúvida cartesiana, para além de ser
metódica é universal, pois aplica-se a todo o tipo de crenças, e é hiperbólica
por ser exagerada, duvidando mesmo de crenças que nos parecem evidentes. Mas é
provisória, pois iremos considerar provisoriamente falso tudo aquilo que seja
minimamente duvidoso e será ultrapassada quando se encontrar uma crença básica.
Descartes considera que para chegarmos a uma
crença indubitável temos de suspender os nossos sentidos e a nossa razão. Ou
seja, não podemos justificar nenhuma crença com base nos nossos sentidos nem na
nossa razão, visto que como ele afirma no texto apresentado, os nossos sentidos
nos enganam algumas vezes - ilusões dos sentidos - não conseguimos mesmo, por vezes, distinguir
a realidade do sono – indistinção entre vigília e sono - e porque às vezes nos enganamos ao raciocinar,
mesmo em raciocínios simples como, por
exemplo, 7x8.
Descartes coloca ainda a hipótese de haver um
génio maligno que nos está a enganar
e a manipular, fazendo-nos crer que existimos, que temos pensamentos e que há um
mundo onde ocorrem fenómenos que logramos captar através dos nossos sentidos,
quando apenas somos personagens ou projeções desse génio tão poderoso quanto
enganoso.
Mas chega à conclusão de que se está a
duvidar, então ele está a pensar, e que para pensar ele tinha de ser alguma
coisa, existir, pelo menos enquanto ser pensante, ou seja, chega ao cogito, a crença “Penso; logo, existo!”,
uma crença básica, autojustificada e indubitável. Descartes refuta assim o
argumento cético da regressão infinita, e prova a possibilidade do conhecimento,
através de uma crença racional, a priori. Descartes é, pois, um racionalista, o que significa
que para ele a fonte prioritária do conhecimento é a razão.
Podemos concluir que Descartes não é um cético, e que ele apenas usa a dúvida proposta pelos céticos como método, ou seja, como ponto de partida, para chegar ao cogito, de modo a conseguir refutar o argumento cético da regressão infinita, e provar, ao contrário do que os céticos afirmam, que há conhecimento, que é efetivamente possível alcançar certas verdades de forma indubitável.
Catarina Filipe 11B
6.12.23
Dicionário Escolar de Filosofia
Pode consultar AQUI a versão online, gratuita, do Dicionário Escolar de Filosofia, organizado por Aires Almeida (Lisboa, Plátano Editora). Os artigos são geralmente curtos, directos e informativos. Sem prescindir do rigor, a linguagem é acessível a estudantes.
16.11.23
Dia Mundial da Filosofia 2023
- A Agência da ONU destaca valor duradouro da disciplina para pensamento humano e construção de sociedades mais tolerantes; o estudo filosófico contribui para enfrentar desafios contemporâneos, promovendo o diálogo intercultural e o pensamento crítico. Ao celebrar o Dia Mundial da Filosofia a cada terceira quinta-feira de novembro, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura destaca o valor duradouro da ciência para o desenvolvimento do pensamento humano, cultura e indivíduos. Neste ano, em 16 de novembro, a Unesco afirma que a filosofia é uma disciplina inspiradora e uma prática quotidiana que pode transformar sociedades. Ao possibilitar a descoberta da diversidade das correntes intelectuais no mundo, a ciência estimula o diálogo intercultural. Ao despertar as mentes para o exercício do pensamento e o confronto racional de opiniões, ela ajuda a construir uma sociedade mais tolerante e respeitosa. Para a Unesco, o seu estudo contribui para entender e responder aos grandes desafios contemporâneos, criando as condições intelectuais para a mudança
.
7.11.23
16.6.23
O fim último da moralidade é a procura da felicidade?
“O fim último da moralidade é a procura da felicidade. Assim, o nosso dever fundamental é que as nossas ações possam promover tanto quanto possível a felicidade.”
A afirmação apresentada faz
referência ao problema da fundamentação da moral, e apresenta uma perspetiva
utilitarista. O problema da fundamentação da moral é muito importante, visto
que é discutir se haverá um critério capaz de indicar com clareza qual é, em
cada caso, a ação moralmente correta e a ação moralmente incorreta, e isso pode
alterar o nosso comportamento. Não concordo que o fim último da moralidade seja
a procura da felicidade.
O utilitarismo, teoria apresentada
por Stuart Mill, é consequencialista, ou seja, considera que uma ação é
moralmente correta ou incorreta em função das suas consequências, se as
consequências forem favoráveis a ação é moralmente correta, se forem
desfavoráveis a ação é moralmente incorreta. Segundo o princípio da utilidade a
ação é favorável na medida em que traz felicidade ou bem-estar às pessoas
envolvidas e é desfavorável se traz infelicidade. Entende-se felicidade como o
prazer e a ausência de dor. O cálculo desta deve ser feito de forma imparcial,
ou seja, não deve ser só considerada a felicidade do agente, mas do maior
número de pessoas possível envolvidas na situação. No entanto, impor ao agente
que seja imparcial na consideração da sua felicidade (e das pessoas próximas) e
das outras pessoas é errado e impossível de cumprir. Esta teoria parece
justificar, também, ações que intuitivamente consideramos erradas, pois
desrespeitam os direitos de algumas pessoas, sendo que não é por maximizarem a
felicidade de um elevado número de pessoas que a ação vai passar a ser correta.
Outra objeção a esta teoria é a dificuldade de cálculo, visto que nos podemos
enganar a calcular as consequências de uma ação, podemos considerar benéficas
ações que afinal são prejudiciais e vice-versa. No meu ponto de vista, apesar
do utilitarismo ter alguns aspetos que são corretos, esta teoria apresenta
muitas falhas e não acho que esteja bem formulada.
Outra teoria estudada para tentar
responder a este problema foi a ética deontológica de Kant, esta ética ao
contrário do utilitarismo defende que há valores morais que são absolutos, ou
seja, há ações que são sempre corretas de realizar e há ações que são sempre
erradas de realizar, independentemente das suas consequências. Segundo a ética
deontológica deve ser a razão (capacidade de pensar) a dizer o que está certo e
o que está errado, qualquer fator externo à razão não tem nenhum papel a
desempenhar na moralidade. Os deveres desta teoria baseiam-se no imperativo
categórico, um princípio que nos permite distinguir as ações moralmente erradas
das ações moralmente certas, estudamos duas fórmulas, a fórmula da Lei
Universal, que diz que devemos realizar apenas ações que decorram de máximas
(regras) que possam ser universalizadas e a fórmula da Humanidade, que diz que
não devemos realizar ações em que as pessoas sejam usadas como meros meios,
porque o ser humano é um ser racional, e capaz de fazer escolhas, e por isso a
sua autonomia deve ser respeitada. Esta teoria, no meu ponto de vista, responde
parcialmente a este problema, no entanto encontra-se incompleta, deixa várias
questões por responder e apresenta algumas falhas. É contraditória porque o
imperativo categórico pode ser entendido como sendo consequencialista, o teste
da fórmula da Lei Universal mostra-nos se as consequências de todos seguirem
uma determinada ação, são boas ou más. Pode haver situações em que haja
conflitos de dever, ou seja, em que situações em que há dois deveres
incompatíveis, que são absolutos, em que o agente fica sem saber como agir. E é
errado negar a importância moral dos sentimentos, visto que alguns destes são
centrais na vida humana e têm valor moral, pelo que é errado retirá-los da
esfera ética.
Concluindo, a questão apresentada
faz referência ao problema da fundamentação da moral, e apresenta uma perspetiva
utilitarista, com a qual eu não concordo, pelos motivos apresentados
anteriormente. No meu ponto de vista a teoria que responde melhor ao problema,
é a ética deontológica de Kant, no entanto acho que esta se encontra incompleta
e com várias falhas. Por isso acho que esta resposta não chega para responder da
melhor forma a este problema, pelo que temos de continuar a estudar, para
encontrar um critério capaz de indicar com clareza qual é, em cada caso, a ação
moralmente correta e a ação moralmente incorreta.
Catarina Filipe
O
problema em causa é
o problema da fundamentação da moral. Segundo a primeira afirmação o fim
supremo da moralidade é a procura de felicidade, e a segunda diz que o nosso
dever é que as nossas ações possam promover a maior felicidade possível. É uma
opinião utilitarista que defende que as boas ações são as que provocam maior
felicidade.
Eu
não acho que seja claro qual das duas posições possíveis para abordar este
problema seja a correta. Se olharmos para a ética de Kant, percebemos que esta
em alguns casos faz sentido e noutros não. Esta diz que devemos agir apenas por
boa-vontade não considerando as consequências que a nossa ação possa trazer. O
problema é quando há o conflito de deveres. Como todos os deveres, em teoria,
são absolutos não devia haver deveres de alguma forma superiores a outros, no
entanto intuitivamente percebemos que não é o caso. Tomemos como exemplo uma
situação em que um criminoso vem ter connosco e nos pergunta se por acaso
sabemos a localização de outra pessoa. Nós, sabendo a localização, e sabendo
que dizer a verdade é um dever absoluto deveríamos dizer a verdade. No entanto,
possivelmente isso iria provocar a morte dessa pessoa. Salvar uma vida é também
um dever absoluto, e creio que, neste caso a maioria das pessoas escolheria
mentir e não estaria a agir por boa-vontade, pelo contrário estaria a pensar
apenas nas consequências.
Agora,
olhando para a ética de Mill, aquela expressada na afirmação, percebemos também
que esta faz sentido. No geral parece-me a ética mais fiável e a que devemos
seguir, sendo o maior problema o facto de não conseguirmos medir as
consequências das nossas ações totalmente. Ao realizarmos uma ação podemos
inicialmente achar que iremos proporcionar o máximo de felicidade quando na
verdade escapou-nos algum detalhe. A felicidade não é uma grandeza que se meça
facilmente, havendo apenas a diferença entre prazeres inferiores e superiores.
Sendo assim, quando nos encontramos num dilema temos que escolher bem sem
cometer erros, porque as consequências podem ser gravíssimas. No entanto, acho
que se pode dizer que “errar é humano”, e que uma jurisdição ética perfeita é
tão ou mais impossível que um humano perfeito. O mais importante não é que haja
sempre a felicidade máxima, mas sim tentar que essa exista. É irracional pensar
que tudo na vida vai correr perfeitamente bem sem problemas pelo caminho. O
nosso dever é tentar responder a esses problemas com a nossa própria jurisdição
e intuição de maneira que tentemos fazer com que haja felicidade máxima. E por
isso sim, pode-se dizer que concordo com as afirmações.
José
Maria Ferreira
27.4.23
Devemos tolerar os intolerantes?
Alguns conceitos importantes para
percebermos este problema são por exemplo, o etnocentrismo que é a
atitude pela qual um indivíduo ou um grupo social se considera o sistema de
referência, julga outros indivíduos ou grupos à luz dos seus próprios valores;
ou seja, uma pessoa ou grupo intolerante julga o outro pela sua
maneira de ser ou estar. Esta atitude origina a intolerância.
O
relativismo cultural afirma que todos os sistemas culturais são iguais em valor
e que os aspetos característicos de cada um têm de ser avaliados e explicados
dentro do contexto do sistema em que aparecem. Torna-se problemático quanto ao
conceito de certo e errado, uma vez que certo e errado depende do que a maioria
numa dada cultura pensa ser certo e errado. A discriminação é uma consequência
da intolerância, pois é na opressão e não aceitação dos outros, que se cria a
intolerância.
Os direitos humanos foram criados justamente para combater a intolerância e a discriminação, mas existem poucos que os seguem à letra. Na opinião de alguns, não existem direitos para certas pessoas, grupos ou etnias. Mas a existência dos direitos humanos serve precisamente para combater este tipo de pensamentos.
Existem dois tipos de direitos, os
direitos positivos e os negativos. Os direitos negativos são por exemplo, o
direito à liberdade de expressão, direito a associação, entre outros. Estes
direitos são aqueles que não exigem nada dos outros apenas a sua compreensão.
Já os direitos positivos como por exemplo, o direito à habitação e à saúde são
direitos que exigem dos outros uma atividade positiva a seu favor o pagamento
de impostos, por exemplo.
O
vídeo que vimos na aula apresenta duas respostas para o problema. A via do
diálogo e da argumentação, e a via da supressão da intolerância através de
sanções económicas ou ativismo. A via da argumentação não tem sido muito
eficaz já que não é obrigatório por lei seguir a declaração universal dos
direitos humanos. Por isso, há países dispostos a recorrer à segunda via,
oprimindo os intolerantes, tal como Karl Popper defendeu no paradoxo da
tolerância.
Eu concordo que as vias do diálogo e do ativismo são as melhores soluções pois a intolerância é um problema grave no nosso mundo, e também porque as respostas pacíficas são a melhor solução.
Simão
Sousa, 11º I
Só podemos aprender através do erro?
Desde há muito tempo e até aos dias de hoje, a maneira como
se aprende tem sido um problema, e uma das indagações que se coloca é: será que
só podemos aprender através do erro? Bem, eu creio que não, não aprendemos só
pelo erro, e passarei a seguir a explicitar esta perspetiva.
Fazer ciência é procurar aprender sobre a realidade, ganhando
assim conhecimento sobre a mesma. Na tentativa de explicar como a ciência é
feita levantam-se duas teorias que são o Indutivismo (ou o método tradicional) e o Falsificacionismo de Karl
Popper. O indutivismo defende que a ciência tem o seu ponto de partida na
observação, com a qual, por observação de amostras limitadas, formulam-se
teorias universais sobre o funcionamento de acontecimentos determinados e
prossegue-se, a seguir, para a confirmação ou verificação parcial da mesma. Este
método pode à vista parecer convincente, porém incorre em três grandes
problemas apresentados por Popper:
1º A imparcialidade da ciência: os cientistas não se
conseguem desfazer por completo de crenças e características culturais
adquiridas ao longo do tempo que são intrínsecas ao seu ser, podendo assim
achar-se vestígios de tais características nas suas conclusões científicas;
2º A injustificabilidade das inferências indutivas por causa
do problema da indução;
3º O método de verificação e confirmação das teorias incorre
num pensamento falacioso (falácia da afirmação da consequente).
Por conseguinte, Popper apresenta a sua perspetiva, o
falsificacionismo: consiste em considerar um problema como o ponto de partida
da ciência, de seguida apresentar conjeturas (hipóteses “imaginárias”
levantadas com base em conhecimento prévio sabido verdadeiro), e realizar
tentativas de refutação a estas conjeturas com o objetivo de provar que estão
mais próximas da verdade e que são mais corroboradas e mais resistentes a essas
tentativas de refutação, mostrando-se assim boas teorias. Chamar também a
atenção ao facto de Popper considerar que não podemos assumir uma teoria como
verdadeira, pois não podemos confirmar empiricamente todas as situações, deste
modo apenas podemos considerá-las corroboradas (que têm alguma propriedade ou
“força” na sua afirmação) e resistentes, ou seja, não podemos confirmar o que
ela é, mas podemos afirmar o que ela não é (com base nas frustradas tentativas
de refutação).
Posto isto, eu creio que podemos dividir o nosso problema em
duas partes: os casos particulares e os casos gerais.
Nós não precisamos incorrer em erros para termos o
conhecimento de casos particulares e podemos ter certeza de que é um
conhecimento científico verdadeiro, pois o seu contrário não implica
contradição, por exemplo: “há patos negros” é conhecimento, é existente. Esta
afirmação é verdadeira pois mesmo que existam patos brancos, não deixa de haver
patos negros. Posso considerar assim que não podemos aplicar o falsificacionismo
no seu todo em conhecimento baseado em casos particulares, pois não é verificável
a veracidade de uma proposição universal de sinal
contrário para se refutar afirmações como a do exemplo. Por outro lado, apenas podemos aprender por erros em teorias científicas universais, pois apenas refutando-as com casos particulares podemos eliminar erros e aproximar-nos cada vez mais da verdade, embora nunca cheguemos à verdade inteiramente verificável.
Concluindo, podemos aprender com erros, mas estes não são a
única maneira de aprendermos, e temos de ser humildes não tirando conclusões
gerais de casos particulares.
Panashe Norberto Pinto; 11 B
17.4.23
8.2.23
Observação e generalização
19.1.23
Podcast 'Como pensar tudo isto?'
Pode Ver Aqui o trabalho realizado pelos alunos Bianca Mendes, Érica Adrião, Lina Quitério, Margarida Catarino, Mariana Costa, Martim Carvalho e Pedro Garcia, dos 11ºs D e E.
20.12.22
17.12.22
16.12.22
25.11.22
Kit para deteção de disparates
17.11.22
Dia Mundial da Filosofia - 17 de novembro 2022
29.6.22
Exame Nacional de Filosofia 2022
Podes consultar a Prova e Critérios de Correção do Exame de Filosofia, das 1ª e 2ª fases, em IAVE Provas e Exames finais nacionais ES
11.6.22
Intenções ou consequências? II
Você é polícia e acaba de capturar o responsável pelo atentado
terrorista de Barcelona. É um homem perigoso que já causou a morte a vários
inocentes. Antes de ser preso já tinha colocado uma bomba de grande potência
num local público. Se não conseguir que ele revele o local onde colocou esta
bomba, muitos inocentes sofrerão e, provavelmente, irão mesmo morrer. O seu
colega sugere que o torturem para que ele fale. Você concorda, pois é a única
hipótese de evitar mais este massacre.
Como avaliar a possível tortura do terrorista?
A avaliação desta situação remete para o problema da
fundamentação da moral, que tem como objetivo responder à pergunta: “Que
critério ético se deve usar para se distinguir uma ação moralmente correta de
uma moralmente incorreta?”. Neste trabalho vou servir-me de duas perspetivas
estudadas em aula, a ética utilitarista, de John Stuart Mill, e a ética
deontológica, de Immanuel Kant.
Mill defende uma perspetiva utilitarista, que é
consequencialista e hedonista, ou seja, considera que uma ação é moralmente
correta ou incorreta em função das suas consequências, e que a consequência a
promover é a felicidade, entendida como o prazer ou a ausência de dor. O
princípio ético supremo é o princípio da utilidade ou da maior felicidade, que afirma
que uma ação é moralmente certa se é aquela, de entre as alternativas ao dispor
do agente, que maximiza a felicidade ao maior número de indivíduos, de uma
forma imparcial. Assim, uma ação é permissível se maximiza imparcialmente o
bem. Além disso, segundo Mill, tem de se ter em conta, para além da quantidade
de prazeres, a sua qualidade, pois os prazeres intelectuais são superiores aos
corporais e oferecem, por isso, mais felicidade a um ser racional. Desta
perspetiva, não existem valores absolutos e a felicidade é o bem último, uma
vez que é a finalidade última das ações humanas e tem valor intrínseco.
Por tudo isto, Mill avaliaria esta situação, da possível
tortura do terrorista, como sendo moralmente correta porque obedeceria ao
princípio da maior felicidade, maximizando a felicidade ao maior número de
indivíduos. Com esta tortura, e se ele revelasse o local da bomba, as
consequências seriam as melhores, pois evitar-se-ia o sofrimento de muitos
inocentes.
Kant defende uma perspetiva deontológica, ou seja, uma ação
é moral se, e somente se, for realizada por dever. Segundo Kant, as intenções
(e não as consequências) determinam o valor moral das ações. Deste modo, uma
ação é boa, moral, se a intenção do agente foi cumprir o dever, se foi
realizada na exclusiva vontade de cumprir o dever. Kant considera que as regras
morais nos são impostas pela nossa razão, como imperativos categóricos, a priori, sem condições nem reservas, e
são absolutas e universais. Assim, o princípio ético supremo é o imperativo
categórico, que pode ser expresso por duas formulações: a fórmula da lei
universal e a fórmula da humanidade. Esta perspetiva considera qua a boa
vontade é o bem último porque tem valor intrínseco e é ilimitadamente boa. A
boa vontade caracteriza-se pela autonomia, obedecendo à razão e ao imperativo
categórico. Já se for influenciada por interesses pessoais, sentimentos ou
inclinações imediatas caracteriza-se pela heteronomia, obedecendo, pelo
contrário, ao imperativo hipotético.
Pelo que, penso poder afirmar que Kant consideraria a
tortura do prisioneiro imoral, por não respeitar o imperativo categórico, mais
especificamente na fórmula da humanidade, porque não se deve usar ninguém como
um meio para obter algo, por bom que seja o resultado para todos. Todas as
pessoas têm direitos, que funcionam como um escudo protetor, proibindo todas as
ações que desrespeitam a dignidade da pessoa humana. E, neste caso, iam usar o
homem perigoso para obter a resposta sobre o lugar onde estava a bomba. Como
nesta perspetiva existem regras absolutas e universais, torturá-lo seria contrário
ao dever. Além disso, não obedeceria à fórmula da lei universal, pois se o
melhor para mim é não me torturarem, o melhor para aquele homem é o mesmo.
A perspetiva que avaliaria e nos orientaria melhor nesta
situação seria a de Mill. A tortura é, na maior parte das situações, um ato que
traz mais infelicidade, no entanto, nesta situação em específico, traria mais
felicidade, e a um maior número de indivíduos, e por isto os fins justificariam
os meios. Em várias situações, cumprir o dever e obedecer ao imperativo
categórico é o melhor a fazer, mas neste caso poderíamos considerar isso
desprezável, pois as melhores consequências possíveis seriam obtidas através da
tortura do homem, evitando o sofrimento a inúmeras pessoas inocentes.
Lara Luís
10ºA
9.6.22
Intenções ou consequências? I
Um homem entra num banco, aponta uma arma ao funcionário do balcão e
diz-lhe para abrir o cofre digitando o código do mesmo. O funcionário, com
o nervosismo, tem um ataque de asma. O ladrão desespera. O tempo passa depressa
e o ladrão tem medo que a polícia chegue entretanto. Assim, corre a buscar a
bomba e ajuda o empregado.
Como avaliar a ação do assaltante, ao ajudar o
empregado?
Este caso remete para o problema
filosófico da fundamentação da moral, que consiste na tentativa de estabelecer
um critério que permita definir o valor moral das ações humanas.
Para responder a esta questão irei recorrer à perspetiva utilitarista, de John Stuart Mill, e à deontologista, de
Immanuel Kant.
Mill defende uma perspetiva utilitarista, que avalia o valor moral das ações humanas em função das suas consequências, seguindo o princípio da utilidade ou da maior felicidade, que diz que uma ação é correta se maximizar a felicidade geral. Essa felicidade consiste no prazer e/ou ausência de dor, e deve ser calculada imparcialmente, pois não se trata da felicidade do agente, mas sim da felicidade do maior número possível de indivíduos. Mill defende ainda que não existem deveres morais absolutos, existindo ações, como mentir, que geralmente consideramos erradas, mas que em algumas situações podem ser corretas, se maximizarem o bem, como por exemplo, mentir para salvar a vida de alguém.
Para Mill a ação do assaltante, ao ajudar o empregado, seria correta e com valor moral, pois é a melhor ação, de entre as alternativas ao dispor do agente. A consequência dessa ação seria, talvez, salvar uma vida e, assim, maximizar a felicidade de todos os envolvidos, uma vez que todos ficariam mais tranquilos se o empregado fosse ajudado, e o assalto prosseguiria, provavelmente, sem maior sofrimento.
Kant defende uma perspetiva deontologista, que avalia o valor moral das ações em função do motivo da ação. Defende que existem deveres morais absolutos que devem ser cumpridos incondicionalmente, independentemente das suas consequências. A deontologia kantiana defende que o imperativo categórico é o critério supremo da moralidade, que permite distinguir a priori as ações corretas das incorretas. Kant defende que as ações moralmente valiosas são um fim em si mesmas e não um meio para um fim. Desta perspetiva, uma ação é realizada por dever, se o motivo da ação for fazer o que é correto, isto é, realizada na exclusiva intenção de cumprir um dever, tal como nos é imposto pelo imperativo categórico e é está conforme o dever, se a ação for motivada por interesses ou inclinações, como o sentimento de compaixão, por exemplo.
Para Kant, a ação do assaltante ao ajudar o empregado seria correta, mas não seria moralmente valiosa, pois o assaltante estaria a realizar uma ação que coincide com a ação moral - o dever moral de ajudar os outros - mas não o faz por dever, fá-lo para não demorar muito e não dar tempo de a polícia chegar. Assim sendo, para Kant esta ação estaria apenas conforme o dever, pois é motivada por um interesse particular do assaltante, que é mesmo gravemente contrário à moral: roubar.
Na minha opinião, a perspetiva que
melhor avalia esta situação é a deontologista de Immanuel Kant, pois nesta
circunstância o mais importante são os motivos da ação e não as suas
consequências. Apesar do assaltante ajudar o empregado, fá-lo apenas com a
intenção de não ser apanhado pela polícia, estando a utilizar o empregado como
um meio para um fim, não tendo por isso, esta ação, qualquer valor moral.
Francisco Couto
10ºC
5.6.22
Um novo desafio para estas férias de verão: Universidade júnior
Conhece os pormenores em Universidade Júnior 2022 abre inscrições a 6 e 7 de junho (up.pt)
4.6.22
Existem valores universais?
3.6.22
O que torna a sociedade justa?
18.5.22
Regras do Diálogo Cívico
- Tentar chegar a um entendimento comum, mais do que "ganhar a discussão".
- Procurar que os outros me esclareçam para ter a certeza de que compreendo verdadeiramente a sua perspectiva.
- Esforçar-me por evitar cometer falácias lógicas ao defender as minhas posições.
- Tentar ter em conta os meus próprios vieses e tentar ser intelectualmente humilde.
- Tentar ser razoável, racional e criar argumentos coerentes.
- Evitar ataques pessoais, sarcasmo e mesquinhez.
- Usar o "Princípio da Caridade" para ver o mérito dos pontos de vista dos outros de uma forma tão favorável quanto possível.
- Permanecer genuinamente receptivo a mudar de ideias se me forem apresentados argumentos ou provas convincentes.
13.5.22
Teorias éticas deontologista e utilitarista
Podes visionar aulas do professor Rolando Almeida em
Aula 2 https://fb.watch/c_4NTiGjxU/
Aula 3 https://fb.watch/c_4AN5I5rT/
Aula 4 https://fb.watch/c_50lZMKEN/
7.5.22
Intenções e consequências: como decidir?
9.3.22
ESTUDO EM CASA
O Plano de Recuperação das Aprendizagens está disponível em:
Início | #EstudoemCasa@ (mec.pt)
De acordo com a Direção Geral da Educação, “esta iniciativa visa, não só orientar, encorajar e apoiar os alunos na recuperação e desenvolvimento das suas aprendizagens com autonomia, mas também ajudar a desenvolver as competências transversais, através da promoção e organização do trabalho autónomo dos discentes.
Os recusos da disciplina de Filosofia podem ser encontrados em: Filosofia | #EstudoemCasa@ (mec.pt)
1.2.22
Waking Life - fragmento do filme de Richard Linklater, acerca do problema do livre-arbítrio (legendado pt-br)
28.1.22
O MEU GATO E O LIVRE-ARBÍTRIO
Espero que gostem e que ajude a compreender este relevante problema filosófico.